Capítulo II- Um Convite

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— Vamos, Sr. Lee!

— Fala baixo!

— Chega de fazer corpo mole!

— Odeio esses exercícios.

— Odiando ou não, tem que fazer!

Hansan estava deitado sobre os tapetes de emborrachado verde que cobriam parte do chão do quarto, ainda segurava a faixa elástica que usava para alongar a parte restante da sua amputação. O exercício seguinte consistia em sentar-se com a coluna reta, com as pernas dobradas em formato borboleta, enquanto Dae-ho empurrava os seus joelhos para baixo e ele tentava impulsioná-los para cima e mantê-los no lugar.

— Você precisa fazer exercícios de força, senhor Lee.

Dae-ho ficou de joelhos atrás dele, enquanto o auxiliava na atividade. Naquela posição, ficou exatamente na altura dos ouvidos de Hansan.

— Como vai me levar para dançar, se não conseguir se sustentar em cima da prótese?

— Diminui o volume que eu não sou surdo. Eu não lembro de dizer que te levaria para dançar — Hansan fechava os olhos e respirava fundo, ofegante; odiava mesmo aquele exercício.

— Você disse que gostava de dançar — sussurrou, inclinando e virando a cabeça de lado, captando o instante em que ele abriu os olhos lacrimejantes e lhe fitou também, ficando a centímetros de distância de seu rosto.

Hansan disfarçou bem o leve arrepio que eriçou os pelos do seu braço.

— Isso não foi um convite.

— Está doendo? — perguntou, decifrando o brilho lacrimado do seu olhar como sinal de incômodo. Sabia que, apesar de necessário, nos primeiros dias aquele tipo de exercício poderia ser bem dolorido.

— Sim.

— Falta pouco — assegurou-lhe. — Depois faremos mais um alongamento e estará liberado.

— Tudo bem.

— E sobre o convite...

Voltou ao assunto, liberando a pressão sobre as pernas dele, que de imediato suspirou aliviado, jogando-se de costas sobre o chão, deitando-se novamente.

— Não foi um convite. — repetiu, rindo.

Outra coisa que descobriu sobre o futuro fisioterapeuta era o quanto ele podia ser insistente.

— Agora é!

Se colocou à frente de Hansan, erguendo suas duas pernas para o ar, iniciando mais uma rodada de alongamentos.

— Quando o senhor conseguir usar a prótese, vai me levar para dançar.

— Continua não sendo um convite. E se você me chamar de senhor outra vez, eu vou é te chutar para fora daqui!

Dae-ho parou o movimento que fazia, segurando as pernas do Lee ainda no ar, olhando-o assustado pelas palavras ditas em um tom tão sério para, segundos depois, jogar-se para frente, explodindo em gargalhadas a ponto de quase debruçar-se sobre o corpo do outro.

— Você imaginou, não imaginou? — Negava com a cabeça, segurando o riso.

Não lhe daria o gostinho de rir de suas bobagens.

— Literalmente! — Ainda gargalhava com vontade.

Em sua mente se repetia a imagem de Hansan, pulando de uma perna só, tentando lhe chutar o traseiro e caindo com tudo no chão.

— Você é um péssimo fisioterapeuta! — Acabou não aguentando e rindo também.

— Sou tão ruim, que terminamos e você nem percebeu — gabou-se por concluir a sessão sem as costumeiras reclamações do seu paciente. — Vem, vou te ajudar a levantar.

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