Logo depois de acordar desse transe, fiquei parado ali por uns cinco minutos tentando entender o que acabou de acontecer, nada ali estava fazendo sentido, o que era aquela sombra? O que aconteceu com meu pingente? Por que isso aconteceu agora? Eram tantas perguntas atormentando minha cabeça que quando me dei conta, já haviam se passado 35 minutos e meu ônibus já estava bem longe do ponto e, como se não bastasse ainda começa a chover justo no dia que esqueci meu guarda-chuva, agora me encontro andando no meio da cidade completamente ensopado, rezando pra que meus braços sejam o suficiente pra não molhar o material dentro da mochila, foi então que vindo de encontro comigo uma luz amarela começa a brilhar no meio da rua, aquele ronco começou a ficar mais alto e logo já descobri quem era:
- Tá fazendo o que aqui ainda Michael? Perdeu o ônibus?
- Digamos que sim...
- Sobe ai, te dou uma carona.
- Tem certeza "di" ? Sua casa fica do outro lado da cidade
- Relaxa, só vou pedir um dinheiro pra gasolina depois
Nunca tinha visto alguém tão "pão-duro" quando o assunto era gasolina, literalmente qualquer coisa ele cobrava com gasolina, eu não vou reclamar porque não tinha dinheiro mesmo então só subi na garupa da moto e fui embora, não vou mentir que ele me salvou de uma fria, literalmente.
Chegando em casa, a chuva milagrosamente parou, parecia até algo planejado, meu sapato estava todo encharcado e meu uniforme ensopado, entrar em casa naquele estado era como assinar uma sentença de morte com a minha mãe, principalmente porque eu teria que lavar tudo depois, então tive que ficar do lado de fora esperando pelo menos a camiseta, já que o tênis era só entrar descalço, o que eu não esperava era que olhando para a rua, eu começasse a ver aquele vulto novamente, passando como se fosse uma pessoa normal, caminhando lentamente passando pela calçada do outro lado da rua, tentei mexer meu corpo novamente para me esconder dentro de casa mas novamente nada se movia, era quase como uma maldição, enquanto meus olhos reviravam o horizonte em busca de algo, vi aquela sombra parar bem na minha reta, ela parecia a de um jovem, provavelmente da minha idade, foi quando aquilo virou para mim e me encarou, não tinha boca, nariz nem um rosto, apenas duas pupilas roxas olhando fixamente para a minha alma, conseguia sentir o pingente se movendo no meu pescoço e a sombra virando completamente seu corpo para mim, comecei a pensar que morreria ali mesmo, na frente da minha casa, se não fosse por Luna, que quando pisquei meus olhos novamente, a sombra havia sumido e a única coisa em minha visão era uma mão balançando pra cima e pra baixo como se eu estivesse dormindo, seu outro braço tocou meu ombro e foi quando me dei conta:
- Michael, tá ai? Tá me ouvindo?
- Ahn? Ah oi, oi, to sim, só cheguei cansado e acabei tirando um cochilo – Não poderia simplesmente contar pra ela o que acabara de acontecer, provavelmente ela ia me chamar de louco (ou drogado, que era o mais provável), então tive que inventar alguma desculpa esfarrapada em pouco tempo:
- Não faz mais isso não, quase morri com você sentado igual um cadáver na frente da sua porta... Quer dizer, essa é sua casa né?
- É sim, aliás, como você sabia que eu morava por aqui?
- Não sabia, só estava voltando pra casa e vi você ai parado igual uma estátua.
- Então foi isso... Pera, você mora por aqui?
Queria não ter perguntado nisso, pois na mesma hora dois adultos apareceram logo ao lado da minha casa, pareciam extremamente furiosos com alguma coisa, logo percebi que eram seus pais, e provavelmente não gostaram de ver a filha sozinha na rua com um garoto de noite, já que haviam se passado umas duas horas desde que eu me sentei do lado de fora, estava escuro e a minha sorte foi que minhas roupas já estavam secas, com exceção do meu tênis que continuava ensopado, mas esse era o menor dos meus problemas, ainda estava preocupado com essa sombra me apavorando de tempos em tempos e agora vou ter que lidar com dois pais estressados, pelo menos era o que eu pensava.
Logo quando eu fui explicar a situação, eles já tinha sumido em meio à vizinhança, era como se eles nunca estivessem ali, mas não vou ficar caçando problema que não preciso, só entrei logo em casa e deixei o tênis do lado de fora, só espero que nenhum cachorro de rua o destroce até o amanhecer. Lá dentro de casa percebi que minha mãe ainda não havia chego do trabalho, fiquei preocupado e aliviado ao mesmo tempo, é bom que ela tenha se estabilizado nesse emprego já que as coisas andavam difíceis pra ela, então manter a cabeça ocupada com algo pode ser bom, e melhor ainda era eu poder comer o que quiser já que ela não estava em casa, esquentei uma lasanha e uma latinha de suco de maracujá que tinha na geladeira estavam uma delícia, foi quando olhei pro celular e vi ele pipocando de mensagem, aparentemente o pessoal ficou bem animado com essa festa do sábado, todo mundo não tira o assunto da boca mais, até mesmo o Diego e o Hugo que não vão em festas estão querendo ir, provavelmente vamos reunir o grupinho inteiro de novo, mas o que me deixava mais intrigado era se...
- MEU DEUS SÁBADO É AMANHÃ? ?
Achei que fosse demorar ainda pra chegar pois quando avisaram não falaram nada de ser no dia seguinte, provavelmente só conseguiria avisar minha mãe amanhã e se ela soubesse que eu vou em uma festa de última hora ela iria voar no meu pescoço, mas, pera... Eu já tenho 18 anos certo? Não tem problema eu ir pra algum lugar sem avisar minha mãe mesmo morando na mesma casa, e foi com esse pensamento que quase morrendo de cansaço eu fui dormir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Projeto Éden
FantasíaO projeto surgiu como uma história fantasiosa que eu criei pegando de inspirações várias obras que acompanhei ao longo do meu crescimento... "Você provavelmente já deve ter sentido aquela vontade de sair por ai correndo como se nada importasse, pens...