Capítulo 4: Verdades Sejam Omitidas

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 Ao lado dela, estava um homem que eu nunca vira em minha vida, tinha um cabelo castanho bem curto, com uma barba castanha e grisalha que ia até metade do seu pescoço, tinha o dobro da minha altura e seu braço parecia a minha perna, o que me deixou com medo, mas acima do medo eu estava com raiva enquanto meus olhos acompanhavam desde os seus tênis surrados, sua calça jeans e sua polo listrada até o seu olho verde, onde fixei nele com o fundo da minha alma:
- Mãe... Quem é esse cara? E porque ele tá aqui em casa?
- Filho... Esse é o...
- NÃO É PRA RESPONDER! Eu me preocupei com você, eu não sabia como te ajudar, achei que você estava mal por conta do que aconteceu com meu pai e agora, depois de alguns meses você simplesmente trocou ele por qualquer homem que apareceu na sua frente?
- Escuta aqui, abaixa o tom pra falar comigo que eu sou sua mãe, eu não pedi sua ajuda pra porra nenhuma, assim como você tá triste com o que aconteceu com seu pai, eu também estou porque ele era MEU MARIDO, a pessoa em quem eu confiei pra ficar a vida toda junta, mas a gen-
- CONFIOU TANTO QUE TROCOU EM 6 MESES MÃE!
E o silêncio tomou conta da sala, era duas da madrugada e provavelmente todos os vizinhos estavam acordados agora com a gritaria, um clima consumiu todo o ambiente, que agora parecia um funeral, que era pra ser desde o início, minha mãe acabara de trocar meu pai por alguém que ela conheceu a pouco tempo, isso não fazia sentido, ela não estava mal? Foi então que minha mente começou a clarear, e pude perceber com clareza o que estava acontecendo, minha mãe não estava ficando até tarde no trabalho, provavelmente nem trabalhando ela estava mais, aquela louça de hoje cedo, que parecia ter mais alguém em casa, realmente teve, aquela mancha no sofá que eu achei ser de choro provavelmente era outra coisa também, eu estava sendo enganado durante meses, pela minha própria mãe.
Foi então que o homem misterioso rompe o silêncio da sala, com a coisa mais inútil que poderia ter feito:
- Bom, meu nome é Paulo, prazer também.
Eu não tive reação, já estava abalado demais pra ter alguma, acabei de enlouquecer e brigar com a minha mãe em sequência e ainda preciso escutar isso, só subi de novo pro meu quarto lentamente, tropeçando em cada degrau, segurando o choro enquanto escutava os dois cochichando alguma coisa com algumas interrupções na fala, provavelmente se beijando, a casa que antes era amarela e viva agora parecia cinza e triste, como se nada mais fizesse sentido, meu quarto estava escuro, só conseguia ver o brilho da lua entrando pela janela junto ao vento, empurrando a cortina quarto a dentro, por instinto só fechei ela e me deitei, olhando para o teto do quarto frio, cinza, sombrio e triste, não conseguia dormir e meu olho coçava, só fiquei deitado ali, esperando que o tempo passasse mais rápido sem fazer nada, pra que tudo aquilo acabasse, mas...
- Ei, Garoto.
E o silêncio retorna, agora meus olhos arregalados olhando a parede, com medo de me virar e saber quem estava no meu quarto, minha raiva era tanto que se fosse o Paulo, provavelmente eu o daria um soco sem pensar, mas quando eu me virei, toda essa raiva, angústia e ódio se tornou apenas um único sentimento: H O R R O R.
Estava em outro transe, a figura preta estava na minha frente pela terceira vez no dia, mas dessa vez eu escutei sua voz, algo que nunca tinha acontecido, ela entrava em meus ouvidos e fluía por todo o meu corpo, era uma voz de um homem, mesmo parecendo a minha aparência, sua voz era diferente, parecia mais grave, mais velha.
- o que... quem é você?
- Como assim quem eu sou, não reconhece alguém próximo?
- Espera...
Enquanto ele falava, ele se aproximava, seu rosto e seu corpo foram se deformando, mesmo com o quarto todo escuro, conseguia ver o desenho do seu corpo claramente, ele ficava mais alto, seu rosto mudava em segundos, e quando eu olhei de novo, lá estava ele, bem na minha frente... Meus olhos começaram a chorar, aquilo ali não era real, eu sabia disso, mas era tão... tão...
- Pa... pa- PAI?
- Quanto tempo filho.
- Mas como, você tá morto!
- E quem confirmou isso?
Naquele momento, senti como se meu corpo pesasse 250kg, era meu pai falando comigo, mas... ele estava morto, como isso era possível? Aquilo não era real, eu sabia disso, mas porque eu estava acreditando tanto.
- Sei que você deve ter muitas perguntas agora filho, mas acredite, elas vão ser respondidas...
- Pai você não sabe como é difícil, continuar sem você...
- Filho, eu preciso ser rápido, só... me procure ta?
- Te procurar? Ta me pedindo pra morrer?
Ele deu uma risada sem graça, e continuou:
- Não filho, você já recebeu o chamado, eu preciso que você me busque, é só isso que posso falar, meu tempo... está acabando.
Enquanto ele falava isso, sua imagem ficava tremula e a outra figura de sombras aparecia em seu lugar, meu pai estava vivo sim, aquilo tudo era real e eu preciso salva-lo de alguma forma.

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