Capítulo 3 - A Festa

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 Logo depois de ouvir isso, o transe acabou e eu estava paralisado, olhando fixamente para uma parede de cimento, com um grafite escrito algo sobre política, nem prestei atenção na crítica porque estava assustado demais pra pensar nisso, meu corpo inteiro suava frio, eu conseguia sentir cada fio de cabelo meu se arrepiando junto com meu corpo, estava meio zonzo ainda e o pingente com pentagrama estava no pescoço ainda, me virando pra ver a expressão dos outros...
- TA FAZENDO O QUE AI PARADO MICHAEL ?
Marcos gritou, no mesmo lugar que a gente estava antes, estava todo mundo lá, inclusive Luna, parece que só eu tive essa visão e todos estavam me esperando por algum motivo, fiquei com medo de "voltar no tempo", então corri até lá rezando para que ainda fosse um sonho, transe ou qualquer coisa que isso fosse.
- Achei que fosse ficar plantado lá igual uma árvore – disse Hugo, me encarando com um olhar de dúvida
- Foi mal, é que a mensagem do grafite era bem reflexiva
- Que? Pra começar que você nunca se interessou por política, e a mensagem tá escrito "Governo merda", cadê a reflexão?
Nessa hora meu queixo caiu, não sabia como responder já que eu nem tinha lido a escritura, só "Governo", era óbvio que eles perceberiam algo de errado comigo, eu teria que explicar tudo que vi e-
- Ué, vocês acham o Governo ruim? Se tiveram a dúvida então já é reflexiva, agora vamos logo pro lugar certo que eu to ficando com fome.
E com essas poucas palavras, Luna acabara de me salvar de horas de explicação pra provar que eu não estava usando nada ou ficando louco, além disso, agora que olhei para trás pra ver o grafite de novo, a porta já não estava mais lá, o que faz sentido já que o lugar da festa não era ali, e sim cinco quadras abaixo, coisa que o Marcos não teve a capacidade de notar.
Fomos andando rua abaixo pra chegar logo na casa, quando eu fui ficando um pouco pra trás, minhas pernas pareciam meio bambas e ainda estava tonto por conta da porta, achava que podia morrer a qualquer momento quando esse transe acontecesse, era algo bizarro mas... Eu me sentia curioso, por mais que pudesse me machucar eu queria saber mais daquilo, foi então que Luna discretamente se separou lentamente do grupo à frente e se juntou ao meu lado:
- Viu alguma coisa lá né? – Disse ela, quase cochichando no meu ouvido.
- Você também viu a porta...
- Sim, o que eu vi lá dentro, era tão...
- Bizarro?
- Sim, não parecia desse mundo, mas não pude falar nada, quando acordei você ainda estava parado ali e se eu fizesse qualquer coisa...
- Te julgariam, sei bem como é
Naquela hora fiquei um pouco mais tranquilo por saber que não era o único que estava vendo coisas, mas ainda assim, porque essas coisas estavam acontecendo só com nós dois? Não podia ser por acaso, ou eles estavam escondendo alguma coisa ou fingiam que estava tudo bem, mas era impossível duvidar dos meus amigos, a gente estava junto já faz tanto tempo que eu não conseguia duvidar deles, então só fiquei quieto na minha, olhei pra Luna e sua expressão era de receio e medo, não sei se ela viu a mesma coisa ou algo pior, só sei que afetara ela tanto quanto eu.
Antes que a gente percebesse chegamos na festa, era a casa do Richard, simplesmente filho do prefeito e provavelmente o jovem mais rico da cidade, os pais dele tiveram que sair para uma reunião e a casa ficou livre, que não era bem uma casa mas sim uma mansão gigantesca, como ele é descabeçado não pensou duas vezes em dar uma festa pra metade da faculdade, porque não né?
Logo na entrada, já vimos que aquilo iria tarde da noite, tinha gente pra qualquer lado que você olhasse, cada um com um copo descartável na mão ou uma latinha, e não vi nenhuma coca-cola por ali. A fachada da casa parecia retirada do renascimento, era uma arquitetura extremamente antiga, a porta tinha maçanetas com um detalhe de leão nelas, me senti entrando na mansão da rainha, se existisse uma no Brasil. Lá dentro, a casa era maior do que olhando de fora, literalmente um corredor gigantesco com várias portas em cada lado, algumas levavam pra umas salas quase que vazias, uma pra uma mesa de jantar e depois uma cozinha, no fim do corredor uma escada em espiral, lotada de gente bebendo esperava todos que entravam na casa, logo atrás dela um quadro de uma paisagem, parecia uma casa no campo perto de um rio, seria um quadro lindo se já não estivesse sujo de bebida.
Logo na entrada já veio um forte cheiro de vodka e energético, nesse momento eu sabia que nada de bom ia acontecer ali, mas como ficar em casa eu ia ver a minha mãe sofrer sem fazer muita coisa, fiquei ali, pelo menos eu estaria com meus amigos né?
- Seguinte, se alguém perguntar, eu só conheço o Diego ok? – Disse marcos, ajeitando seu gorro vermelho e saindo de fininho do grupo. Ele usava aquele gorro desde criança, acho que é igual o meu pingente pra ele, nunca vi ele sem aquilo, mas com certeza não seria aquilo que impressionaria alguma garota ali dentro.
- Eu vou ficar por ai, se precisarem de alguma coisa, me chamem.
E lá se foi Diego, andando pelo corredor enquanto algumas meninas olhavam pra ele, simplesmente porque ele tinha uma moto, chegava a ser bizarro o jeito que algumas olhavam. No fim, sobrou só eu e o Hugo ali, já que a Luna sumiu sem a gente nem ver pra onde foi, parecia até um fantasma.
- Vai beber alguma coisa Hugão?
- Já falei pra não me chamar assim, e não, não vou beber nada pra passar vergonha.
- Então... Prefere Huguinho?
Hugo odiava ser chamado assim por conta da sua altura, com a gente ele nem ligava muito mas se outra pessoa chamasse ele assim, virava uma fera e, infelizmente agora era um péssimo momento pra ter falado isso, já que ele ficou bravo e saiu andando como se não me conhecesse.
Então, em menos de cinco minutos a frase "vou ficar com meus amigos" simplesmente sumiu e agora eu estava sozinho em uma festa com um bando de adolescente bêbado, sem saber o que fazer e muito menos sem saber com quem falar, já que o Diego havia sumido, Hugo iria me ignorar, Marcos estava tentando puxar papo com garotas e falhando miseravelmente e Luna estava bebendo na cozinha, o que me surpreendeu um pouco, não imaginava que ela poderia beber assim, principalmente depois que o pai dela me encarou daquele jeito, como eu não queria atrapalhar a diversão, só virei de costas e fui contrário a ela quando um braço se amarra no meu pescoço com uma garrafa de vodka na mão, e do lado do meu rosto vem um hálito insuportavelmente ruim de vodka com energético, era ela, completamente bêbada em dez minutos de festa:
- Não vai beeeeber naaada nãoo? – Disse ela, soluçando e quase vomitando
- Errr.... Eu não bebo, foi mal.
- O QUE? Coomo assiiim você nãoo beebe? Preciisa de aalgo pra esqueecer da poorta

Nessa hora meu coração congelou, ela estava tão bêbada que não pensava nem um pouco pra falar, se alguém ficar sabendo sobre o que aconteceu envolvendo aquela porta a gente vai ser taxado de loucos logo nos primeiros dias de volta às aulas. Puxei ela pela blusa pra uma outra sala com um pouco menos de movimento.
- Wooow, não sabia que você era daqueles que tinha atitude.
Não vou mentir que meu rosto ficou vermelho igual um tomate, mas não era o momento pra isso:
- Escuta, você tá completamente bêbada, se controla pra não falar demais sobre aquelas alucinações que a gente teve ok?
- Alucina... AAAHHH aquilo sobre a porta e o transe, a paralisa e tudo mais né? Relaxa que eu não vou falar nada.
Pronto, agora todos da sala olhavam pra gente, pessoas da sala ao lado vieram ver o motivo de ela ter gritado toda essa história, quando percebi eu estava MUITO próximo dela com muita, muita gente me olhando, comecei a ficar vermelho de novo e tentando achar alguma forma de sair dali, foi quando a minha cara caiu:
- Quem que vendeu pra vocês?
- Eu quero também
- Parece boa
Simplesmente todos começaram a perguntar como se a gente tivesse usado alguma droga, não sabia aonde enfiar a minha cara e muito menos como sair dali, então pra não ficar mais tempo com gente me perguntando algo que eu não tinha só sai correndo pro andar de cima e me fechei em uma sala que tinha lá.

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