Recobrei a consciência quando percebi que agora eu ia ser taxado como o "pão-duro" por toda a faculdade por não falar algo que eu não sabia, mas esse era o menor dos meus problemas. Quando percebi que estava seguro em um quarto provavelmente abandonado e que ninguém entraria, me sentei com as costas na porta e comecei a refletir tudo que estava acontecendo recentemente, nada daquilo podia ser normal, aquela sombra me perseguindo, somente eu e Luna ver a porta, por mais que eu odiasse pensar nisso, tudo apontava pra eu estar ficando louco. Aquilo tudo somado com a minha mãe piorando a cada dia me deixava tão perdido quanto um barco à deriva no meio do oceano, foi então que levantei a cabeça e, pra tentar me acalmar comecei a observar o quarto em que entrei, parecia ser um cômodo muito antigo ali da casa e que ninguém usava à anos, as paredes laranjas estavam descascando, algumas molduras na parede estavam quebradas, as estantes que cercavam uma boa parte do quarto estavam lotadas de livros, todos empoeirados e com teias de aranha os grudando. O quarto era lotado de cavaletes com algumas pinturas, umas eram uma espécie de releituras de quadros famosos como "A Noite Estrelada" e "O Grito", mas eram longes do original, provavelmente feitos pelo Richard quando ele era pequeno. Fui caminhando pra ver os quadros mais de pertos, todos estavam alinhados em uma simetria assustadora na sala, com um espaçamento de três pessoas para cada um, chegava a dar medo tudo isso, mas o que mais dava medo era o fato de, a cada passo, cada quadro que eu deixava pra trás, uma sensação estranha cobria meu corpo, a cada quadro meu pingente vibrava no meu pescoço, e na penúltima fileira de quadros, fui olhar pra ver o que estava acontecendo e...
Simplesmente os quadros que eu acabara de ver desapareceram, não só eles como todas as estantes e molduras da parede, naquele exato momento soube que estava em mais um transe, mas dessa vez era diferente, eu conseguia me mexer, conseguia ver tudo em minha volta, e meu pingente... Estava roxo?
Geralmente ele é um tom de cinza bem escuro, mas agora ele estava roxo e, formigava meu peito, era estranho, não que toda a situação não fosse mas, o que meu pingente tem a ver com tudo isso? Na hora eu tive a única e brilhante ideia que veio na cabeça: jogar ele longe.
E como era óbvio, aquilo foi a PIOR coisa que eu fiz, quando tirei ele do pescoço e joguei em direção a porta, meu corpo todo sentiu uma pressão avassaladora, era como se o mundo tivesse caído em cima de mim por poucos segundos e de repente, meu corpo virou uma pena, completamente leve, me virei pra finalmente ver os últimos dois quadros novamente enquanto podia movimentar meu corpo, foi então que ambos se desmancharam, bem diante dos meus olhos, como se fosse cinzas, e atrás do quadro da esquerda, a mesma sobra se levantou, dessa vez ficou claro que era um clone meu, mesmo com o quarto todo escuro deu pra ver exatamente seus traços, o "formato dos olhos" em sombra, minhas roupas e aquele sorriso maléfico de antes. Mesmo encarando essa aberração de frente, dessa vez meu corpo estava livre, e eu tinha duas opções: Correr ou fugir, porque lutar com aquilo estava fora de cogitação.
Tentei virar e começar a correr em direção a porta mas escorreguei e cai de boca no chão, o piso estava empoeirado e com algumas cinzas dos cavaletes, me levantei no mesmo instante sem mal sentir a dor no nariz por ter batido, corri sem olhar pra trás até a porta e quando fui abrir, dei um dos maiores gritos da minha vida:
- CADE A MAÇANETA PORRA? ALGUÉM ME AJUDA, SOCORRO!
O grito veio do fundo da minha alma mas... Nada saiu, nem mesmo um som se fez ao mexer minha boca, o desespero bateu e o corpo congelou, comecei a bater na porta desesperado pra que aquilo quebrasse ou alguém abrisse do lado de fora, mas nada aconteceria ali, agora era com certeza o momento da minha morte e eu não estava nem um pouco pronto para isso.
Virei meu corpo para ver a sombra novamente, ela estava se aproximando de mim lentamente, a cada passo em que se aproximava, a sala se despedaçava, se tornando um quarto vazio assim como a porta de hoje cedo, era como se o seu corpo consumisse tudo que estava próximo, e logo me consumiria também, foi então que a mesma voz que falou comigo antes, voltou à tona:
- Você.... Escolhido....
- EU? Desculpa deve estar confundindo com outra pessoa tá legal? Não sei o que é isso mas POR FAVOR PARA!
- Pingente... Receptáculo... Infra... Mundo...
- Como é?
Enquanto a sobra soltava palavras aleatórias, meu corpo suava frio e minha mente rezava pra que ela parasse, seu sorriso havia sumido de seu rosto e seus olhos se fecharam, agora era quase como uma cara sem rosto, era medonho. Logo quando estava à uns quatro passos de mim, a sombra parou e, sem pensar muito pegou o pingente que eu havia jogado, logo ao toca-lo ele começou a brilhar e a pulsar um roxo vibrante, oscilando com o seu cinza original, a estrela do centro dele começou a girar como um volante enquanto a sombra o balançava, como um pêndulo, não sabia se aquilo era um ritual ou algo do tipo, só vi que ao longo que o pingente balançava, a sombra começou a se desaparecer e a ser sugada para dentro do pingente, quando terminou de desaparecer o pingente caiu no chão, ainda pulsando aquele roxo, que agora estava com uma presença maligna nele, conseguia sentir isso de longe e estava com medo de usar ele novamente, foi então que ele deu um último brilho muito forte e voltou ao normal depois da estrela girar muito na direção contrária.
Não sabia se podia vestir aquilo novamente, estava tão amedrontado com a cena de agora que a minha vontade era jogar aquele pingente pela janela, mas se aquilo caísse nas mãos de alguém, poderia causar problemas pra todos ou até mesmo machucar alguém, eu sentia isso sem nem mesmo saber o que era, por algum motivo eu tinha alguma "ligação" com o pingente. Com todo o medo do mundo então o coloquei no pescoço de novo, aparentemente estava normal, sem formigar nada e sua aparência era a mesma de sempre, o quarto voltou ao normal com os quadros no lugar, e agora que toda aquela loucura acabou a maçaneta estava no lugar, era só eu abrir pra sair correndo igual uma criança chorona de novo, se não fosse pela porta abrir bem na minha cara, quase arrancando meu nariz e quatro pessoas caírem em cima de mim.
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Projeto Éden
FantasyO projeto surgiu como uma história fantasiosa que eu criei pegando de inspirações várias obras que acompanhei ao longo do meu crescimento... "Você provavelmente já deve ter sentido aquela vontade de sair por ai correndo como se nada importasse, pens...