Agora é que eu supero

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É passada das duas horas da tarde quando acordo. Eu não sonhei com absolutamente nada. Meu cérebro estava muito cansado para conseguir projetar algo. Me viro e dou de cara com Ariel Vargas dormindo só de cueca. O que fizemos fora algo que nunca imaginei que aconteceria. Porque eu não queria. Até certo ponto. Meu plano era fazer com que Ariel me visse da verdadeira forma que sou. Que, se fosse possível, eu o convencesse nesse final de semana a voltarmos a sermos no máximo amigos. Algo que eu achava difícil também, quando lembrava do gênio forte do John Wayne de Tulancingo da vida real.

Agora quem observa o companheiro ao lado na cama sou eu. Não mais o Ariel Vargas da ficção observando o Nathan Kings da ficção, na mansão da Anja Gótica. Me sinto muito o John Wayne de Tulancingo. O que você escreveu, Faron Battsil, seria um monólogo?

"Como vou saber?"

Ariel tem muitos traços de ameríndio. Ele é bem mexicano. E os mexicanos são europeus misturados com povos Astecas. Sabia que conhecia aquele rosto de algum lugar. Por isso que algumas pessoas me acham meio parecido, talvez, com Ariel, em alguns traços do rosto. Somos dois Ameríndios. Eu com alguns traços de Cherokee. Será que as tribos indígenas americanos de milênios se conheceram? Pode ser que parte da nossa ancestralidade ainda nos conecte hoje em dia de alguma forma. Os índios costumavam ser bem espirituais. Se essa for a razão de Ariel e eu termos nos encontrado, estou batendo na porta da cartomante terça-feira para pedir o dinheiro de volta.

Mentira. Não vou não. E eu nunca disse isso.

Ariel se espreguiça. Eu o escuto da cozinha. Estou preparando algumas frutas para comermos de novo. Uma laranja cairia bem agora. Se eu ainda estou com um pouco da cabeça pesada por causa do Festival, imagina Ariel que além de dançar que nem um louco comigo, tomou aquelas balinhas. Vi que ele tinha tomado duas. Uma bem no início do festival e outra ali por meia noite. Duas ele deu para as amigas pocs e mais uma para um outro grupo de amigos que ele encontrou no caminho para um outro palco. Duas meninas e um menino alto e bem magro de cabelo comprido. Uma delas trabalhava com ele no bar & cafeteria.

- Bom dia, flor do dia. – Ariel sai do quarto forçando as vistas. Ele vai direto ao banheiro levando roupas limpas na mão. Escuto-o fazer xixi e escovar os dentes. Quando ele sai do banheiro, definitivamente é outro Ariel.

- Bom dia, flor do dia. – Ele me responde de forma simpática. Olhos já acostumados com a claridade de fora. – Fazendo o café de novo?

- Dei uma cortada nas frutas. Bom pra se recuperar do Festival.

- E que Festival! – Ariel se aproxima do balcão. Responde enquanto morde a laranja descascada. – Curtiu?

- Sabe que eu até curti?!

- Agora nunca mais vai deixar de ir em um. Só tem que experimentar mais coisas. Se é o que me entende.

- Não sei se vou ter tempo pra isso. Não pelo menos por agora.

- Ué.

- Trabalho. – Eu falo descascando um kiwi. – Tem diversos outros projetos que a editora está apostando pra publicar ainda no ano que vem.

- Bons também.

- Bons? É. – Eu penso comigo. – Pode ser. Nada comparado ao...

Eu paro. Me flagro que o livro fez parte do trato. Passar o final de semana com Ariel valia a publicação do John Wayne de Tulancingo. Caso Ariel aceitasse que passasse o finde com ele, cancelaria a publicação do livro que traz o autor sendo o protagonista Ariel Vargas. Agora eu preciso cumprir o trato.

Ariel fica em silêncio. Percebo que ele também notou que quase mencionei o livro que faz parte do nosso trato. Mesmo que eu não o mencione, é doloroso pensar que não poderei publicar "O John Wayne de Tulancingo" em nome de outra causa. No entanto, sei que foi o melhor. Coloquei isso na minha cabeça. Ou era o livro ou o peso da mala da amizade do verdadeiro Ariel Vargas que teria que lidar até o fim dessa vida. Quando será que teria a chance de fazer as pazes com Ariel senão com uma chantagem?

O John Wayne de TulancingoOnde histórias criam vida. Descubra agora