Agora é que VOCÊ é enganado!

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 Então... Está pronto? – Meu agente literário, Kellan, me interroga.

Baixo o manuscrito sobre a mesa. Me deparo com a cara ansiosa de Kellan.

- Sim. Está pronto.

E devo dizer que ficou imbatível!

Meu agente sorri com a mesma empolgação de um participante que acerta a resposta final de um jogo de perguntas e respostas valendo um milhão de dólares. Ele em seguida sai da sala de leitura de manuscritos da editora me prometendo trazer o prêmio de conciliação por torná-los os futuros milionários daquela sala. Vai me trazer o pão com creme de avelã que já apelidei de "cocô dos anjos" naquela descrição do autor. Coisa mais bizarra, hoje penso. Ainda lembro do dia no qual participei da primeira noite de autógrafos dos livros da trilogia do M.S.E. Um dos jovens leitores perguntou se eu não queria ter me referido a fruta "côco" ao invés das fezes. E eu tive que confirmar em voz alta no meio de alguns pais que acompanhavam os filhos adolescentes que não. Eu queria dizer cocô mesmo. Não tinha lógica um côco ser comparado com um creme de avelã. Nem óleo de côco tem na composição do creme. Mais óleo de palma. (Se bem que hoje em dia quase tudo que a gente consome tem óleo de palma. Desde o que comemos até o que usamos para nos lavar.)

O John Wayne de Tulancingo realmente vai vender muito. Pode se tornar best-seller em questão de dias. Ou até horas, se a fandom das redes fizer caridade. Lançando nas livrarias das capitais do mundo que já decola. O sucesso, dessa vez, vai chegar mais rápido do que quando foi com o M.S.E. Eu diria que até mais organizado, porque o M.S.E., na época em que repercutiu pela primeira vez, não alcançou o ranking de best-sellers mundiais diretamente. Foi conquistando um espaço aqui e ali. Demorou, sabe? É assim que acontece com os aspirantes a escritores. Os que tem sorte com as editoras, andam. Os que são rejeitados precisam provar que 1 + 1 pode ser 3.

Eu solto o manuscrito do "John Wayne de Tulancingo" sobre a mesa. Era isso mesmo que você queria, não é, Faron? Provocar um cataclisma de easter eggs em uma obra de ficção cheia de metáforas. Você conseguiu. Parabéns para a sua mente vingativa. Nessa obra você explora os valores distorcidos de uma sociedade ocidental que dá mais importância para fama, luxo e poder do que para educação. O dinheiro grita mais alto no mundo dos magnatas e empresários ricaços. Se fosse diferente, professores seriam os melhores pagos, já que são eles que estimulam os futuros ricaços a pensar na infância.

E além de todos esses assuntos, você ainda usou a obra para evoluir. Será que conseguirá completá-la? Esperemos que sim.

A águia que tenho tatuada no tríceps parece querer bater asa toda vez que dobro o braço. Na cadeia alimentar, águias se alimentam de insetos e répteis, como a cobra que tanto o Nathan Kings da história quanto o da vida real têm tatuado no braço. E vão ter aqueles, após lerem a obra, que vão espalhar a teoria de que eu tatuei a águia como um tipo de ameaça à integridade de Nathan Kings. Acredite, não foi por isso. Sempre tive simpatia com pássaros. E eu realmente achei que a tatuagem da águia ficaria mais interessante. Por favor, cobras, me perdoem por esse bullying nocivo simbólico.

Kellan sapateia pelo corredor trazendo meu pão com côco dos anjos e uma pequena xícara de café. Ele só falta bater asas com os pés, de tão animado. Fazem alguns meses que a editora não lança uma obra tão instigante e propensa a dar muito o que falar. Claro que tive que explicá-los do que a obra realmente se tratava. Que "O John Wayne de Tulancingo" não se tratava apenas de minha última obra literária antes de eu seguir para uma nova Era com novos planos de vida, mas também de uma manifestação de superação com o meu próprio passado. E quando os repórteres perguntassem para mim quem era Ariel Vargas e Nathan Kings, eu responderia afinal.

O John Wayne de TulancingoOnde histórias criam vida. Descubra agora