Subitamente, me afasto de Ariel.
- Não dá.
- O que foi?! - Ariel está excitado e confuso com meu gesto negatório. - Foi por isso que você veio aqui hoje. Pra ficarmos, não é?
- Eu já te falei que não foi por isso.
- Então pra que foi?!
Eu sabia. Ariel ficou zangado de novo. Aqui vamos nós.
- Superarmos os nossos passados não é ficarmos, Ariel. Vim mais como um amigo.
- Você não veio pra isso. – Ele dá um sorriso de que não acredita em mim. E se insinua de novo. Me pega de novo.
Respirando fundo para não cair na tentação, me afasto novamente.
- É CLARO que eu vim pra isso, ARIEL! Cheguei ao ponto de ter que ESCREVER UM LIVRO falando sobre você pra TENTAR SUPERÁ-LO! – Eu me exalto. Passar um ano inteiro estudando e escrevendo sobre alguém que até algumas horas nem sabia mais que eu existia é algo que frita nossos neurônios.
Conforme eu vou para a pequena cozinha do apartamento pegar um copo de água, Ariel se agita onde está. Ele está estressado porque o deixei excitado e agora estou negando fogo. Parece que é um tipo de vingança minha, porque é quase a mesma coisa que aconteceu da última vez que nos vimos. Ele negou fogo para mim e eu saí triste, mesmo sabendo antes do encontro que poderia não rolar nada mesmo. Difícil não ficar cabisbaixo quando alguém bonito como Ariel não quer ficar com a gente.
- Está se vingando?! Parabéns!
- Me vingando do quê?
- Da vez que você veio aqui e eu fui do mesmo jeito que você foi agora.
Ele também percebeu.
- Parece que é um tipo de vingança, mas não é.
Ariel ri debochado e desvia o olhar. Ele não acredita que eu não esteja me vingando. Eu bebo a água enquanto observo um Ariel confuso. Que não sabe o que fazer após levar um fora. Ele está parecido comigo em nosso primeiro encontro. Como não quero fazê-lo pensar que isso faz parte de um plano de vingança onde estou o fazendo sentir tudo que eu senti quando fui rejeitado por ele, termino de beber a água gelada e retorno até Ariel.
- Preciso ir dormir. Boa noite. Você dorme no sofá.
- Espera, Ariel! Você não precisa me evitar desse jeito agora só porque eu não quis... você sabe...
- Não quero mais saber. Me deixa em paz por hoje. – O Ariel perturbado desvia de mim e vai direto ao único quarto do apartamento. Ele está meio bêbado também. Dá para ver em seus olhos. O jeito como Ariel chegou em mim há pouco é o que ocorre geralmente entre gays que se dizem "fora do meio". Ao menos um deles se embebeda para conseguir digerir o fato de que vai ficar com um cara. Gays complexados beirando os quarenta anos de vida precisam ser estudados. Gays complexados de vinte e tantos anos ainda têm chances de enxergarem os verdadeiros valores da vida que seus familiares e amigos heteros escondem deles por causa da mera imagem padronizada para eles da qual tanto prezam.
Sem me contrapor muito, deixo Ariel seguir. Ele bate a porta do quarto com força e depois de um tempo apenas o ouço deitando na cama. Me ajeito para dormir no sofá da sala. É um sofá confortável de deitar. Meus pés ficam um pouco para fora. Ao deitar, olho para a claridade que a sacada trás da noite lá fora. Já é quase meia-noite. É sábado. A ficha de que me encontro novamente no apartamento do homem por quem um dia me apaixonei por mensagens e fotos nas redes e depois pessoalmente cai. Achei que nunca mais viria aqui.
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O John Wayne de Tulancingo
RomanceNathan Kings é o gay da Califórnia disputado. Elegante, gato e gostoso, ele sonha em um dia se tornar, junto com sua prima aspirante a cantora, famoso e não hesita em levar seu futuro amor junto. Se caso tiver um. Não importando o caminho que terá d...