Agora é que eu me reencontro com você

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A viagem é longa. Já estou no avião, olhando para o céu lá fora e pensando que meu agente e os editores do livro não podem mais me contatar. Não até esse final de semana acabar. Temos dois dias e meio, Faron, para lavar a roupa suja com Ariel e depois deixar tudo em panos limpos. E tentar fazer com que Ariel melhore. Não. Não sou um serial killer indo atrás de sua próxima presa. Embora pareça muito. Eu sei. Mas existem muitos por aí que adorariam ter a oportunidade de rever seus casos não correspondidos do passado para ver como estão. Eu sei que ele está vivo, ao menos. Minha amiga de Sta. Maria que estudou com Ariel o encontra várias vezes na cafeteria do centro na qual ele trabalha. No mínimo duas vezes por semana ele despeja o suco de limão e a entrega o sanduíche vegano. A maioria dos meus amigos são veganos. Eu sou uma exceção que ainda se rende a carne bovina e queijo em um bom cheeseburguer de vez em quando. Já provei carne de grão de bico. É bom também. Se as lancherias mudarem a receita da carne do hambúrguer, vou comer e fazer sinal de "delícia" com os dedos para o garçom ou garçonete. Tanto faz para mim.

O assento ao meu lado é puxado por uma gravidade multiplicada por cem de uma senhora de cabelos brancos e olhos de esmeralda. Está com jeito de estar indo visitar um filho que já tem família, porque não para de olhar os vídeos de um bebê. Deve ser o neto. Eu me viro para os lados, com os fones de ouvido tocando Quit (feat. Ariana Grande) do Cashmere Cat. Eu amo essa música. É uma das que mais escutava nas viagens de ônibus até Sta. Maria na época em que conheci o Ariel e Nathan da vida real. Dua Lipa era a segunda mais escutada. Tinha o costume de relacionar cantores com pessoas que acabava conhecendo. Ariel foi Lady Gaga e Nathan foi Dua Lipa. Explico mais tarde. Lana Del Rey me representa. Foram as músicas destas três cantoras que ditaram a forma como a história do O John Wayne de Tulancingo foi contada.

Pronto, falei.

Era ótima ouvir Quit(feat. Ariana Grande) do Cashmere Cat, apesar da melancólica que fazia-o sentir ter deixado alguém para trás enquanto o ônibus passava por vastas plantações atingidas pelos primeiros raios de uma manhã de verão.

Fechando os olhos, eu recordo Nathan Kings. O sujeito que mais me deu motivos para escrever O John Wayne de Tulancingo. Que me desafiou, sem que saiba. Eu conheci Nathan Kings depois de dar um tempo para a imagem de Ariel Vargas na minha cabeça. Eu já tinha comentado sobre Nathan com Ariel. Nathan Kings morava em Sta. Maria também. Ele era bonito. Era da mesma geração que eu. Hoje, eu já não o vejo da mesma maneira. Ariel é bem mais bonito. Com certeza. Tanto por dentro quando por fora. Nathan não tinha solução mesmo. Ele era mais novo e ainda tinha muito que aprender sobre a vida. A rede social dele era carregada de fotos bonitas. Numa delas, está vestido com as mesmas roupas que o Nathan Kings do livro usa quando conhece Ariel Vargas em Romero's Beach. Sunga preta e uma camisa florida azul claro aberta. Na foto do Nathan real, ele tem um cigarro aceso entre os dedos. Nathan Kings, nas redes, era o ator hollywoodiano influenciador com um físico parecido ao do Josh Hutcherson. No entanto, na realidade não era tanto assim. Era apenas um jovem querendo parecer ser o melhor amigo da Dua Lipa no meio das pocs (como chamamos os gays afeminados que lutam pelos direitos dos que têm vergonha de terem nascido gays e dos que se consideram "fora do meio", os complexados). O Nathan da vida real canta também. Tem uma voz boa. Se fosse para o The Voice, viraria a cadeira. Preciso ao menos considerar isso.

O processo de conhecer Nathan Kings aconteceu quase do mesmo modo que foi com Ariel Vargas, só que um pouco mais rápido. Nos encontramos nas redes também. Ele tinha se mudado há pouco tempo para Sta. Maria. E, detalhe. Eu já sabia que ele tinha crescido em Santa Barbara. Não porque eu o stalkeava. Em todos os apps, o local onde a pessoa morava costumava aparecer na descrição do perfil. Santa Barbara. Nathan Kings é de Santa Barbara. Quando conversamos, já comentei que ele era da mesma cidade que eu. Para ter o que falar. Puxar assunto. É o que pessoas fazem quando estão interessadas em alguém. Elas buscam assuntos para conversar com seus crushes! Conversamos em um período que estava me preparando para ir visitar minha amiga em Santa Barbara. Era a oportunidade perfeita para dar uma segunda chance a um lance promissor entre dois gays solteiros bonitos.

O John Wayne de TulancingoOnde histórias criam vida. Descubra agora