1º CAPÍTULO - GERALD CHAMPOUDRY

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A chuva fina e gelada bate no rosto de Hosana Stein. A cabeça fervilha com os planos de última hora. Aperta a capa de gabardine contra o corpo e puxa o capuz, que mal lhe cobre a testa. Caminha apressada. Aquela é uma oportunidade única.

Há alguns dias, Hosana encontrou Gerald Champoudry, que além de advogado, com escritório na Avenida Paulista, é proprietário de excelente marca de perfumes, já despontando no mercado mundial. É uma conversa rápida, enquanto tomam champanhe no lançamento da coleção de joias da amiga comum Carla Zattel. Ela fala sobre sua facilidade em misturar essências e reconhecê-las de imediato. Não sabe que a atividade dele é voltada justamente para o ramo de perfumaria. Ele, entusiasmado com o interesse dela no assunto, a convida para conhecer sua fábrica na França.

— Os franceses chamam isto de "art de vivre", a arte de viver bem. Difícil encontrar alguém que não se identifique com essa filosofia de vida, não? — Ele fala.

Ela já estava encantada com o convite, quando recebe outro, para trabalharem juntos. As pernas lhe tremem. A voz sai levemente do tom. Controla a emoção. Aceita conhecer a fábrica e falarem sobre a proposta de trabalho.

— Alguns dias de folga e fazemos a viagem. Irá comigo conhecer a empresa? Tenho certeza de que se encantará com a magia dos perfumistas.

— Oh, Gerald, não tenho intenção de afastar você de seus negócios... Afinal, você está aqui em São Paulo para abrir frentes de negociação com compradores.

— Bem, será por pouco tempo. Iremos numa sexta-feira à noite, após completarmos nossas tarefas do dia, e voltaremos a São Paulo após quatro ou cinco dias na França.

Ao saírem do prédio, cada um segue seu caminho. Despedem-se, confirmando a viagem. É sábado à tarde. Cintilações de luz dourada pintam o céu e as sombras das nuvens correm por detrás dos altos edifícios da cidade, perseguindo-se entre si, afastando-se da linha do horizonte, agora com tons vermelhos, indo para um tênue violeta.

Hosana, dirigindo-se para casa após aquela conversa com perspectivas únicas, coração opresso numa possível mudança de vida, sente-se eufórica. É uma longa caminhada até seu edifício, porém o bastante para pensar e sonhar.

Tem vinte e três anos, formada em jornalismo, publicidade e marketing. Uma moça alta, magra e esguia, cabelos longos e castanhos, que mais parecem uma cascata de veludo, caindo sobre a capa de gabardine, enquanto ela tenta ajeitá-los dentro do capuz. Caminha rápido, enquanto a cabeça gira em múltiplos pensamentos.

Senta-se em sua poltrona preferida, onde se harmoniza e pensa concentrada. Pega o livro ao lado e lê: "A arte de elaboração do perfume nasceu no Egito. Por volta de 2000 A.C., os primeiros clientes foram os faraós e os membros importantes da corte, logo o uso do perfume se difundiu. O químico árabe Al-Kindi (Alkindus) escreveu no século IX um livro sobre perfumes chamado Livro da Química de Perfumes e Destilados. O médico e o químico persas Muslim e Avicenna (também conhecido como Ibn Sina) introduziram o processo de extração de óleos de flores através da destilação. A partir da Espanha, o perfume foi introduzido em toda a Europa durante o Renascimento. Foi na França, a partir do século XIV, onde se cultivavam flores, que ocorreu o grande desenvolvimento da perfumaria, permanecendo desde então como o centro europeu de pesquisas e comércio de perfumes."

Deposita o livro sobre a mesa e aspira o odor da terra molhada pela chuva recente. A primavera chega e com ela o desejo de comungar com a natureza, colocar flores nos vasos e sentir o aroma espalhado pelo ar.

Aproveitando a sincronicidade do momento, resolve ter uma vida mais verde e perfumada, dentro de seu lar.

A melhor saída para tornar esse sonho realidade é apostar em soluções simples. Comprará telas metálicas usadas nas lajes de concreto. Várias telas sobrepostas, cada uma pintada de cor diferente, fixadas por arames metálicos, servirão de suporte para vasos de fibra de coco com espécies de fácil manutenção. Sua varanda tomará um ar de jardim tropical, com plantas como samambaias e rendas portuguesas, que não a deixarão na mão. Bastará regá-las com regularidade e estarão sempre ali para agradar o olhar e refrescar o ambiente.

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