13. O PODER DA IMPRENSA

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Ao ler jornal, Hosana atenta para duas matérias separadas em O Estado de São Paulo. A primeira é um longo editorial, elogiando o governador Gerald Champoudry. A última frase diz: "Nenhum de nós aqui ou em Tapajós ficará surpreso no dia em que Gerald Champoudry se tornar presidente do Brasil."

A segunda, na página seguinte, comenta: "Henrique Chambelle, que morava no Rio de Janeiro, se divorciou de sua terceira esposa, Josiane. Agora, o empresário reside em Curitiba, é proprietário e editor do jornal Hora Certa, com tiragem de 500 mil exemplares e distribuição nacional."

O poder da imprensa. Esse é o verdadeiro poder. A imprensa brasileira foi de importância ímpar no impeachment de um presidente. E é nesse instante que a ideia toma corpo na cabeça dela.

Hosana passa os dois dias seguintes fazendo pesquisa sobre Henrique Chambelle. Ela vê algumas informações interessantes sobre ele na Internet. Chambelle é um filantropo, que herdou uma fortuna na indústria das montadoras automobilísticas e devotou a maior parte de sua vida a distribuí-la. Criou o jornal como forma de participar da política, sem fazer parte nela de forma direta. Mas não é o dinheiro dele que interessa a Hosana. São os fatos de ele possuir uma editora e também um jornal com tiragem nacional e de ter se divorciado recentemente.

Depois de seu encontro com o senador Denis, Hosana entra na sala de Geraldo Bastos.

— Vou embora, Geraldo.

Ele fala, com expressão compreensiva.

— Boa ideia. Você precisa mesmo de umas férias. Quando voltar, poderemos...

— Não voltarei.

— O quê? Não quero que você vá, Hosana. Fugir não resolverá.

— Não estou fugindo, até porque ele mora no norte do País. Um encontro entre nós é improvável.

— A decisão é irrevogável?

— É, sim.

— Detestaremos perder você, Hosana. Quando sairá?

— Já saí.

Hosana Stein pensou muito nas várias maneiras pelas quais poderia conhecer Henrique Chambelle. As possibilidades eram intermináveis, mas ela descartou uma a uma. Planejaria o que tinha em mente com o maior cuidado. E de repente ela se lembrou do senador Denis.

Chambelle e Denis tinham as mesmas origens, frequentavam os mesmos círculos. Não havia a menor dúvida de que se conheciam. E Hosana decidiu telefonar para o senador.

Ao chegar ao aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, Hosana teve súbito impulso. Abriu seu jogo de runas. Mentalizou o desejado e jogou. Sou inteligente demais para essas besteiras. Mas não resisto. Lê a resposta da jogada em seu caderno de anotações:

"Excelentes perspectivas para o futuro. Entrando em sua vida uma pessoa que juntará o sol e a paixão. Tenha cautela ao agir para sedimentar seu caminho."

Há um motorista com um Audi preto à sua espera no desembarque.

— Srta. Stein?

— Pois não?

— O Sr. Chambelle envia cumprimentos e me pediu para levar a senhora até seu hotel.

— É muita gentileza dele.

Hosana sente-se desapontada. Esperava que Chambelle a recebesse pessoalmente.

— O Sr. Chambelle quer saber se está livre para jantar com ele esta noite.

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