12. A POSSE DO GOVERNADOR

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Após cumprir as formalidades legais da posse, Gerald, acompanhado de Nicole, vai para os jardins da assembleia estadual, em Piratininga, a capital de Tapajós, perto do requintado relógio de flores de dez metros, criado para a ocasião.

Nicole se posta ao lado de Gerald, orgulhosa, observando seu discurso ao grande público que o ovaciona por diversas vezes.

As obras dos órgãos públicos na capital foram todas executadas pelo governo federal, para permitir o início dos trabalhos do novo governador e sua equipe, tão logo ocorresse a posse. Mais uma vez, o senador Denis teve papel preponderante na consecução desse objetivo.

Se Gerald se comportar direito, a próxima parada será o Palácio do Planalto, o pai dela lhe assegurou. E Nicole fará tudo ao seu alcance, para que nada saia errado. Absolutamente nada.

Depois da cerimônia, Gerald e o sogro sentam na biblioteca do Palácio do Executivo, lindo prédio que imita o Petit Trianon, a residência de Maria Antonieta perto do palácio de Versalhes. O senador Denis corre os olhos pela luxuosa sala e acena com a cabeça, em satisfação.

— Vai se dar bem aqui, filho. Muito bem. A escolha da construção combina com você e com Nicole.

— Devo tudo a você — declarou Gerald, efusivo. — E não esquecerei isso.

O senador Denis acena com a mão para descartar o assunto.

— Não pense nisso, Gerald. Você está aqui porque merece. Ajudei, é verdade, mas tenha certeza de que isso é apenas o início. Estou na política há muito tempo, filho, e aprendi algumas coisas. Ele olha para Gerald, esperando.

Respeitoso, Gerald fala:

— Eu adorarei ouvi-las, Roberto.

— As pessoas não entendem direito como funciona — explica o senador Denis. — O importante não é a quem você conhece, mas sim o que sabe sobre quem conhece. Todos nesse meio têm algum mistério sepultado em algum lugar. Tudo o que você precisa fazer é desencavá-lo e ficará surpreso ao descobrir como os outros terão o maior prazer em ajudá-lo, em qualquer coisa que precisar. Por exemplo, sei de um senador, que passou um ano numa instituição para doentes mentais. Um deputado federal de um estado do Norte ficou uma temporada num reformatório por roubar. Compreende os prejuízos que eles sofreriam na carreira política se esses fatos fossem divulgados? Mas são armas que podemos usar.

O senador abre uma pasta de couro, tira um maço de papéis e o entrega a Gerald.

— Estas são as pessoas com as quais você lidará aqui em Piratininga. São homens e mulheres poderosos, mas todos têm seu calcanhar de Aquiles. Vieram ofuscados pelo poder e pelo dinheiro, que chega fácil num estado novo. — O senador sorri. — Até o prefeito de Piratininga tem seu calcanhar de Aquiles. Já foi preso por porte de drogas — comenta o senador Denis, olhando Gerald. Lá no fundo dos olhos do senador, Gerald vê uma ponta de ameaça.

Gerald folheia os papéis, com os olhos arregalados.

— Guarde isto trancado a sete chaves, está bem? É mina de ouro.

— Não se preocupe, Roberto. Terei o maior cuidado.

— E mais uma coisa, filho. Não pressione demais as pessoas, quando você precisar de alguma coisa. Não as deixe sem saída, apenas apreensivas. É normal elas cederem nesse ponto. Se deixá-las sem saída, elas criam coragem indômita e podem se voltar contra você. — O senador faz uma pausa.

— Como você e Nicole estão se dando?

— Muito bem.

É verdade, num certo sentido. Para Gerald, é um casamento de conveniência e ele toma o cuidado de evitar qualquer coisa que possa perturbá-lo. Jamais esquecerá o que seu deslize anterior quase lhe custou.

— Isso é ótimo. A felicidade de Nicole é muito importante para mim.

É um aviso.

— Para mim também — manifesta-se Gerald.

— Ah, outra coisa. Você gosta de Pedro Roth?

Gerald responde com o maior entusiasmo:

— Gosto e muito. Ele me dá tremenda ajuda.

O senador Denis aprova.

— Fico contente em ouvir isso. Não encontrará outro melhor. Vou emprestá-lo a você, Gerald. Ele abrirá muitos caminhos à sua frente.

Gerald sorri.

— Agradeço.

O senador Denis se levanta.

— Tenho de voltar a Brasília. Avise-me, se precisar de alguma coisa.

— Obrigado, Roberto.

***

No domingo, depois da reunião com o senador Denis, Gerald tenta falar com Pedro Roth.

— Ele está na igreja, governador.

— Ah, sim. Esqueci. Falarei com ele amanhã.

Pedro Roth vai à igreja todos os domingos com a família e três vezes por semana participa de reunião de orações, com duração de duas horas. De certa forma, Gerald o inveja. Roth deve ser o único homem realmente feliz que conheço, pensa ele.

Na manhã de segunda-feira, Roth entra na sala de Gerald.

— Quer falar comigo, Gerald?

— Preciso de um favor. É pessoal.

— Qualquer coisa que eu puder fazer.

— Preciso de um apartamento.

Roth corre os olhos pela enorme sala com expressão irônica de incredulidade.

— Acha este lugar pequeno demais, governador?

— Não. — Gerald olha nos olhos de Roth. — Às vezes, tenho encontros particulares à noite. E precisam ser discretos. Entende o que estou dizendo?

Há uma pausa constrangida.

— Entendo.

— Quero um apartamento longe do centro. Pode cuidar disso para mim?

— Acho que sim.

— Esse assunto ficará apenas entre nós dois, é claro.

Pedro Roth demonstra tristeza.

Uma hora depois, Roth liga para o senador Denis em Brasília.

— Gerald me pediu para alugar um apartamento para ele, senador. Com o máximo de discrição.

— É mesmo? Ele está aprendendo, Pedro. Faça o que ele pede. E cuide para que Nicole nunca descubra. — O senador pensa por um instante. — Arrume o imóvel num município próximo, para que ele chegue lá e volte com rapidez. Escolha um lugar discreto, com entrada privativa.

— Acha certo ele trair sua filha?

— Pedro, apenas faça o que lhe falei.

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