2º CAPÍTULO - ANNA ZANATA

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O trajeto entre a cobertura de Gerald, na Avenida República do Líbano, em Vila Nova Conceição, e o apartamento de Hosana, perto do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, não é longo, mas o trânsito transforma-o numa eternidade.

A informação de que o inspetor do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico de São Paulo, Nicolas Frazão, compartilhou com ela poucas horas antes, abalou sua vida.

Hosana fez o homem acreditar que Gerald viajou para a França. Talvez esteja em Grasse.

Ela precisa abandonar o único homem com quem deseja viver o resto de seus dias. Enquanto dirige, seus pensamentos fervilham. Deixará Gerald sozinho, apesar de duvidar das palavras de Frazão. Não levará o inspetor direto ao homem amado. Supõe que as revelações são apenas suspeitas, mas se correr até Gerald fará aquele homem encontrá-lo.

— Meu Deus!

É um turbilhão de sentimentos, no qual está envolta. O coração parece explodir no peito. Gerald precisa dela naquele instante, assim como ela necessita dele. Parece que o ar lhe falta.

Seus olhos estão enevoados pelas lágrimas que descem pelo rosto. Faz a volta com o carro e sente seu coração bater como tambor descompassado. Para o carro num local pouco iluminado e envia uma mensagem pelo celular. "Saia de onde estiver. A polícia está a sua procura." Religa o motor e volta para casa. Entra na garagem do prédio. O porteiro da noite fala pelo interfone haver correspondências para ela. Antes que ceda à vontade de pedir ao porteiro para deixar a entrega para o dia seguinte, resolve descer até o térreo e pegar tudo com ele.

— Boa noite, Srta. Stein.

Além da saudação, o porteiro entrega a ela vários envelopes. Ele percebe com discreto olhar o rosto de Hosana marcado por lágrimas.

Sorrindo, como se estivesse tudo bem, ela atravessa o saguão e vai direto para o elevador, fazendo apenas breve aceno na direção da recepção.

— Hosana!

Vira a cabeça e vê uma morena elegante, vestida com conjunto estiloso de saia e casaco, se levantando de uma das poltronas do saguão. Seus cabelos escuros e ondulados vão até os ombros e seus lábios estão cobertos de batom cor-de-rosa. Não a reconhece e franze a testa.

— Pois não? — responde, na defensiva. Há um brilho ansioso naqueles enormes olhos verdes. Aquilo atiça seus instintos. Apesar do abatimento, ela endireita os ombros e a encara com firmeza.

— Anna Zanata—a outra diz, estendendo a mão direita numa postura profissional. — Investigadora do Denarc- Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico. Conhece, não?

Todas as guardas levantadas.

— Claro!

Ela sorri e Hosana percebe o leve sarcasmo no curvar da boca.

—Não fique amedrontada. Só quero conversar com você um instante. Estou trabalhando num caso e será interessante se você puder me ajudar.

— Não quero ofender você, mas não imagino o que possa lhe dizer, investigadora.

— Não? — Ela arqueia a sobrancelha. — Nem sobre Gerald Champoudry?

O corpo de Hosana se retesa.

— Em especial sobre ele.

— Como? Não pretende auxiliar a polícia?

— Não se trata disso, mas de sigilo profissional. Sou a assistente direta dele e nada do que ocorre na empresa eu posso conversar com outra pessoa.

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