14. HOSANA NO JORNAL

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Hosana e Henrique vão a Paris em lua de mel. Lá, em todos os lugares que visitam, ela especula, em pensamento, se Gerald e Nicole andaram por eles, por aquelas ruas, jantado aqui, feito compras ali. Imagina os dois juntos, fazendo amor, Gerald sussurrando no ouvido de Nicole as mesmas mentiras que dizia a ela. Mentiras pelas quais ele ainda haverá de pagar caro.

Henrique a ama com sinceridade e se desdobra para fazê-la feliz. Em outras circunstâncias, Hosana poderia ter se apaixonado por ele, mas algo em seu íntimo morreu para sempre.

Nunca mais confiarei em qualquer homem.

Poucos dias depois de voltarem para Curitiba, Hosana surpreende Henrique ao anunciar:

— Henrique, quero trabalhar no jornal.

Ele ri.

— Por quê?

—Será interessante. Fui executiva numa agência de propaganda. Poderei ajudar a empresa nessa área.

Ele protesta, mas no final cede.

Henrique nota que Hosana lê O Estado de São Paulo todos os dias.

— Acompanhando o noticiário sobre o pessoal da cidade natal? — zomba ele.

— De certa forma, sim.

Hosana sorri. Lê tudo o que se escreve sobre Gerald. Quer que ele seja feliz e bem-sucedido. Quanto maior seu sucesso, maior será a queda.

Quando Hosana ressalta que o jornal Hora Certa está no prejuízo, Henrique solta uma risada.

— Meu bem, é uma gota no rio Amazonas. Recebo dinheiro de lugares que você nunca ouviu falar. Não tem a menor importância.

Mas tem para Hosana. E muita. À medida que se torna mais e mais envolvida na direção do jornal, conclui que o motivo para o prejuízo está no movimento sindical. Os equipamentos gráficos do Hora Certa estão obsoletos, mas os líderes sindicais se recusam a permitir que o jornal adquira novos equipamentos, alegando que isso custará muitos empregos e os gráficos sindicalizados ficarão desempregados. Estão no momento negociando novo aumento com o Hora Certa. Quando Hosana aborda a situação, Henrique diz:

— Para que nos incomodarmos com essas coisas? Vamos tratar apenas de nos divertir.

— Estou me divertindo — garante Hosana.

Hosana tem uma reunião com Matheus Blanco, o editor-chefe do jornal, e George Adamo, o advogado do Hora Certa.

— Como vão as negociações?

— Eu gostaria de ter notícias melhores, Sra. Chambelle, mas receio que a situação não é boa.

— Ainda estamos em negociação. — fala Matheus Blanco, ríspido.

— Aparentemente, Joaquim Müller, o líder do principal sindicato, é obstinado, não consegue ceder um milímetro. O contrato coletivo termina dentro de dez dias. Müller garante que se o sindicato não for atendido nas reivindicações, com contrato assinado, os gráficos entrarão em greve — conclui o advogado George Adamo.

— Acredita nele?

— Acredito. Não gosto de ceder aos sindicatos, mas a verdade é que sem isso não teremos jornal. Eles podem nos fechar. Mais de uma empresa já quebrou por desafiar os sindicatos. Não teremos tempo hábil para treinar alguém— complementa Matheus Blanco, irritado com a interferência de Hosana.

— O que eles estão pedindo?

— O de sempre. Horário de trabalho menor, aumentos, proteção contra futura automação — Adamo informa.

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