PARIS VERMELHA

8. A DECEPÇÃO DE HOSANA

Em São Paulo só falam sobre o iminente casamento. Gerald Champoudry é figura popular na cidade. Político de primeira viagem, tentando ser governador de um estado recém-criado, advogado, com escritório na Avenida Paulista, e empresário dos perfumes. Com Hosana, formam um lindo casal. Ambos belos, elegantes e bem-sucedidos. A notícia se espalha como vento soprando fogo em mato seco.

— Espero que ele saiba o quanto é um homem de sorte — fala Geraldo Bastos para Hosana. Ela sorri.

— Ambos somos pessoas com sorte e também felizes.

— Vão procurar um juiz de paz para casar?

— Não. Gerald quer primeiro um casamento romântico. Escolhemos Paris, a cidade natal da mãe de Gerald. Será na capela gótica, Sainte-Chapelle, na Île de la Cité. Em seguida, voltaremos ao Brasil e, aí sim, faremos uma recepção formal para os amigos, com juiz de paz oficializando nossa união no Brasil.

— Paris? Por que Paris, Hosana?

— É uma longa história entre eu e Gerald que, algum dia, com calma, contarei a você. — Ele a observa curioso, mas nada pergunta sobre "a longa história".

— E quando vai ocorrer o feliz evento?

— Daqui a seis semanas.

***

Poucos dias depois, notícia na primeira página de O Estado de São Paulo: "A autópsia revelou que a mulher encontrada no rio Tietê, identificada como Laís Benedetti, era secretária num escritório de advocacia. Morreu de overdose de uma droga ilegal."

Hosana recorda a manchete anterior do jornal O Estado. Os dias subsequentes são preenchidos pelos frenéticos preparativos para o casamento. Há muita coisa a fazer. Enviaram convites para duzentas pessoas.

Hosana escolhe o vestido dela com a estilista Martha Medeiros, conhecida por seu trabalho impecável com as rendas e técnicas manuais, transformadas em belíssimos vestidos de festa e de noiva. A novidade da vez é que a designer agora faz criações com a mesma renda usada por grifes de peso, como Valentino, Chanel e Dolce & Gabbana.

Gerald encomenda o meio fraque com a gravata plaston e o colete cinza, camisa branca de colarinho de ponta virada e calça listrada. Ele solicita o uso do meio fraque para os pais e padrinhos. Ele escolhe para padrinhos um advogado de sua firma com a esposa e envia convites para os demais colegas do escritório. Hosana, por sua vez, terá com padrinhos Geraldo Bastos e a esposa, e todos os amigos da agência, como convidados.

— Está tudo preparado — informa Gerald a Hosana. Já tomei as providências necessárias.

Hosana sente pequeno calafrio percorrer seu corpo.

— Mal posso esperar, meu querido.

Na noite de quinta-feira, duas semanas antes do casamento, Gerald vai ao apartamento de Hosana.

— Infelizmente, Hosana, surgiu uma emergência. O administrador da indústria em Grasse está com grande problema. Vamos nos encontrar em Paris para resolver tudo.

— Paris? Por quanto tempo ficará ausente?

—Dois ou três dias, quatro no máximo. Voltarei em tempo de preparar nossa viagem para Paris. Não se preocupe.

Depois que Gerald se retira, Hosana pega suas runas e faz sua jogada, sem refletir sobre o quanto aquilo é tolice. Lê a mensagem em seu caderno de anotações: