3º CAPÍTULO - A FUGA

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A atmosfera de Paris está tranquila. Hosana permanece imóvel por uns instantes, ouvindo o ressonar de Gerald. Está cada vez mais difícil escondê-lo da polícia brasileira. Agora até a Interpol o está caçando. Ela se sente satisfeita, contemplando aquele momento calmo e feliz. Aproveita a ocasião para agradecer por ele estar aparentemente a salvo.

Desde a noite que souberam das investigações policiais, ele está ansioso. Precisa coletar provas de sua inocência, mas nada parece dar certo.

Os advogados que trabalham em seu escritório aconselham a fuga. Depois, fazem um saque vultoso na conta corrente de Gerald. Em seguida, ela saca de sua própria conta. Todo aquele dinheiro fica com Hosana. É com o que contarão dali em diante.

Os passaportes falsos em mãos mostram figuras totalmente diversas: Gerald com cabelos pintados de castanho, usando bigode, lentes azuis e óculos. Hosana, por sua vez, com cabelos, roupas e acessórios rastafári, parece outra pessoa.

As longas avenidas rodeadas de árvores, as pontes, os candeeiros de ferro, os cafés com esplanadas aquecidas, os prédios nunca altos em demasia, a Torre Eiffel iluminada, os museus e os monumentos mais conhecidos do mundo, nada disso alegra Gerald. Ao contrário, aquilo o faz lembrar de sua liberdade, da felicidade de crescer com sua empresa.

Ao mesmo tempo em que tudo lhe parece familiar, a cidade não tem agora para ele a magia que o encantava.

— Paris tem sempre um delicado bom senso, a que se pode chamar elegância. É isso. Elegância. Nenhuma outra palavra descreve melhor a aura de Paris, sendo essa elegância que apaixona qualquer pessoa, em qualquer altura do ano — fala Hosana.

Gerald não responde, apenas suspira.

Entre quentes noites de sexo e o remanso da satisfação, resolvem fazer planos para a saída de Paris. A Interpol, Organização Internacional de Polícia Criminal, mundialmente conhecida, coopera com polícias de diferentes países, e já está no encalço de Gerald. O Brasil e a França solicitaram a ajuda da organização para capturá-lo.

Decidem seguir para a Inglaterra.

— "La Manche" para os franceses, e "English Channel" para os ingleses. Dois nomes diferentes para um mesmo lugar, conforme o lado em que se está. De certa forma, isso representa bem o significado do canal que separa os dois países e ilustra de forma divertida a eterna e notória rivalidade entre ingleses e franceses. Nos países de língua portuguesa, esta faixa de água, ligando o Oceano Atlântico ao Mar do Norte, é conhecida como Canal da Mancha e, se você vai viajar entre França e Inglaterra, tem que atravessar esse canal, seja por cima ou por baixo — comenta Gerald, absorto, olhando a embarcação deslizar com lentidão.

A primeira vez que atravessaram o canal foi em uma excursão de ônibus. Voltaram impressionados. O gigantesco navio engoliu o ônibus em que viajavam, assim como diversos outros, além de grandes caminhões de carga e dezenas de automóveis. Centenas de pessoas embarcaram também a pé ou com suas bicicletas.

Sabem que aquele é o trecho marítimo mais movimentado do mundo. É impressionante. A chegada e a saída de navios dão a impressão de nunca cessarem. Enquanto um navio parte, outro já aporta, outro se aproxima e a partida de mais um é anunciada.

Depois daquela viagem de estreia, eles atravessavam o canal por conta própria em outras ocasiões, em dias com céu azul e temperatura agradável até dias frios, com muito vento e mar agitado.

Olhando para as águas em volta, Hosana fala:

— É difícil não se lembrar de todos aqueles que se lançam nas águas do Canal da Mancha para fazer a travessia a nado. Que coragem.

PARIS VERMELHAOnde histórias criam vida. Descubra agora