Sempre tive um certo fascínio peculiar com números. Claro, não quando eles vinham acompanhados de letras e fórmulas para executar com maestria as matérias complicadas de álgebra linear. O que me fascinava eram as possibilidades.
O que números faziam? Definiam estatísticas, diziam com precisão dados que caracterizavam a vida inteira de uma pessoa, criavam pequenos mundos de formações praticamente impossíveis, construíam metáforas poéticas em
obras consagradas por séculos.Números diziam quão afinada era uma melodia de Bach através da sincronia das sinfonias. Mediam o valor praticamente inestimável de uma pintura de Michelangelo. O pintor, não o meu.
O coração de um beija-flor atingia até oitenta batidas por segundo. Oitenta batidas em sessenta segundos; 80 dentro de 60. Algo maior encaixava-se perfeitamente dentro de proporções menores.
Ainda assim, sentado ao lado da cama de Theo com os olhos fixos ao teto e os bipes ecoando em meus ouvidos, me perguntei quantas possibilidades cabiam dentro dos batimentos cardíacos dele. Um mundo cabia ali? Não tinha certeza. Mas o mundo dele se resumia àqueles números.
Quão miserável era o fato de a vida inteira de uma pessoa, todos os seus fôlegos provindos de momentos de pura e crua alegria, serem reduzidos a números em um pequeno monitor?
Quantas possibilidades seu coração possuía? Quantas possibilidades ele
queria ter?— Nem ao menos sei por onde começar.
A voz repleta de um tom quase elegante ecoando pelo quarto me fez erguer a cabeça e, inconscientemente, apertar ainda mais a mão de Theo embaixo da minha.
Tara Raeken estava parada ali, de face limpa e livre de maquiagem, e vestida com jeans e camiseta como uma estudante da UCL, não de Harvard.
Olhava atentamente o irmão, a garganta movendo-se de forma seca enquanto os círculos avermelhados embaixo dos olhos revelavam que
estava chorando.Eu não sabia como me sentir. Não a queria ali, chorando sobre o irmão como se sempre tivesse o tratado bem; como se sempre tivesse sido seu apoio.
— Você é o Liam, então? Me lembro de você na festa da Sra. Bryant — disse, me olhando.
Ergui a cabeça, não me encolhi. Precisava enfrentá-la, não no sentido literal, e precisava me colocar de frente àquilo.
— Eu — disse com firmeza na voz. — Namorado de Theo.
Ela pareceu fazer um esforço de magnitudes imensuráveis para não deixar os lábios franzirem com desgosto. — Eu sei.
— Bom.
Tara Raeken respirou fundo. Deu um passo à frente e depois outro, caminhando até o outro lado da cama com movimentos que pareciam ser incertos, como se Theo fosse acordar a qualquer momento e dizer a ela para não tocar nele, para não se aproximar. Mas ela o tocou.
Observei com cuidado enquanto ela erguia a mão e, estendendo parcialmente dois dedos pequenos, percorria-os pelas bochechas pálidas de Theo até a têmpora esquerda dele. Eu sabia como era a textura da sua pele sob meu toque porque havia passado uma grande parte da noite anterior desafiando todas as leis de visita hospitalares para me deitar ao seu lado e abraçá-lo.
Theo estava gelado, com aspecto praticamente marmóreo nos pontos em que seu sangue deveria estar pulsando energicamente com uma subjetividade de vida, de batimentos. Ao invés disso, seu coração batia devagar como se estivesse extraindo com desespero sufocante as últimas chances que tinha.
— Ele está em coma ou dopado? — ela questionou, limpando duas lágrimas com pressa. — O que houve? Os médicos tentaram me explicar quando eu subi, mas não quis ouvi-los.
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Ephemeral (thiam's version)
أدب المراهقينLiam gostava de conhecer profundamente tudo aquilo que o atraía. Os sentimentos e enigmas de Theodore Raeken, quarterback e capitão do time de futebol, não eram uma exceção. Principalmente quando Dunbar é convidado a vivenciar as pequenas e melhores...