Conforme o barulho de pessoas, garfos e música aumentava me encolhia ainda mais atrás de Aurora e ao chegarmos no andar principal notei que todos nós encaravam.
Aurora me olhou feio e notei que estava agarrada ao seu braço.
- Desculpe, desculpe. - Pedi me afastando, a anfitriã sorriu, sem graça, seu sorriso amigável se contradizendo com o olhar de raiva que nós lançava.
- Senhora aqui estão as novas moças. - Falou gentilmente a garota loira, sorrindo e indo se sentar em uma mesa afastada.
- Muito obrigada Dione, bom. - Olhou para mim. - Vocês podem se apresentar agora. - Pediu e nervosa me inclinei levemente.
- Meu nome é Chihiro e eu tenho 18 anos. - Alguns seres deram risada e senti meu rosto corar, havia dito algo errado?
Aurora deu um passo a frente.
- Eu me chamo aurora, é um prazer conhecer todos vocês, prometo tentar servi--los bem o máximo que eu conseguir. - Os olhos brilharam de adoração para Aurora e me senti ofuscada imediatamente, sua presença foi solicitada a noite toda, em quanto eu fiquei de escanteio.
- Não esperava ter uma criada inútil assim. - Resmungou a madame Bovary sentada observando todos se divertirem, mantive meus olhos baixos.
- Me desculpe é que eu sou...
- Shhh. Em quanto não melhoramos sua popularidade, vai ajudar na cozinha durante a noite. - Apontou para a cozinha e sem opção fui, me sentindo incomoda, porque raios eu precisaria da aprovação daquela mulher?
- Não, Chihiro é melhor você se manter nas entrelinhas, lembre-se que você tem que voltar pra casa. - Resmunguei tocando meu rosto.
- O que você está fazendo aqui humana? Seu cheiro vai arruinar minha comida. - Olhei para frente e um rato Resmungão me olhava irritado, me surpreendi com a cozinha que era limpa e organizada.
- Não grite com a garota, Dish, assim você vai assusta-lá. - Uma rata de olhos gentis e quase da minha altura pegou meu braço, estava sem fala diante da irrealidade daquilo.
- Não se preocupe minha criança, diga o que a trás aqui?
- Observei mais duas cigarras humanoides mexendo em uma panela e engoli em seco.
- Bom a senhora Bovary me disse para ajudar aqui na cozinha. Então por favor me diga no que posso ajudar. - Ela sorriu amigável e limpou as mãozinhas em um avental branco.
- Claro.
- Como isso é possível? A madame só pode estar querendo vir a falência. - Resmungou Dish. - Ei humana! Fique longe dos meus pratos.
- Não seja rude! - Gritou a ratinha e me entregou um avental me olhando afetuosamente.
- É muito melhor que ela esteja aqui, vai nos ajudar muito mais. - Piscou. - Não ligue pra ele, tem um estranho preconceito contra humanos.
- Entendo, não tem problema, garanto que vamos nos dar bem. - Sorri e arregacei as mangas do meu vestido.
Entreguei comida a noite toda e ao amanhecer atravessei o salão principal até o jardim da frente para buscar água no riacho, vi duas garotas idênticas com runas estranhas pelo corpo se aproximarem junto com Dione.
- Bom dia!, Chihiro seu nome não é? - Perguntou, me olhando de cima a baixo, sem duvidas eu não estava na minha melhor imagem.
- Fico realmente triste por não ter dado certo sua apresentação essa noite, pobrezinha, deve ter sido difícil. - Vi as duas garotas atrás dela se entreolharem com deboche e franzi a testa.
- Bom eu não me importo com isso nem um pouquinho assim. - Gesticulei com os dedos. - agora se me der licença eu tenho trabalho a fazer. - Esbarrei nela abrindo caminho até o Rio e elas arfaram surpresas.
- Como pode ser tão rude? - Perguntou uma das meninas e antes que eu pudesse reagir senti uma lufada de vento me empurrar para dentro do rio.
- Ó pobrezinha! Cuidado, essas terras são conhecidas por fortes ventos! Mas sabe, pensando melhor pode ser algum castigo divino. Devia ter mais educação ao falar com Lady Dione, ela é a principal beldade da casa Bovary. - Falou mal contendo o próprio riso, a água batia nos meus joelhos mais a queda foi suficiente para me molhar inteira.
- Deixem ela meninas, uma garota rude como ela só serve pra trabalhar com os ratos mesmo. - Falou Dione e suas seguidoras riram, me dando as costas e entrando na mansão.
Bufei batendo na água que espirrou no meu rosto.
- Droga! Qual o problema dessas garotas? Resmunguei saindo do Rio, senti alguns olhos me encarando e notei um passarinho do outro lado da margem do rio.
- O que você está fazendo perdido aqui? - Entrei novamente e peguei o estranho passarinho de cor azul escuro, ele tinha uma calda feita de plumagem dourada, e parecendo feliz vôo ao meu ombro.
- Bom, acho que não tem problema se você vir comigo. - Acariciei sua cabeça e entrei na mansão.
Os dias se passaram tranquilamente, fui transferida para um quartinho pequeno embaixo da escadaria da casa e tirando o fato de ter encontrado o Uy, meu pássaro, aquele dia, nada de novo aconteceu, tentava ao máximo evitar as outras garotas na casa, em parte porque adoravam me provocar e em outras pois minha imagem só se manchava mais perante a senhora Bovary nesses conflitos.
Certa noite entretanto, quando estava limpando o chão da cozinha Aurora entrou gritando pelo meu nome.
- Chihiro-san! A senhora Bovary deseja vê-la! - Eu e a rata Thina (a única que me tratava bem ali) nós olhamos e ela me empurrou gentilmente.
- Vá menina! Deixe que eu termine o ensopado por você! - Retirei o avental do corpo e segui para o terceiro andar onde meu antigo quarto ficava aos tropeços, entramos no primeiro quarto do corredor e a senhora Bovary olhava para a cama friamente.
Notei que Dione estava deitada, adormecida enrolada em vários cobertores.
Por mais que ela fosse prestigiada o quarto era ironicamente simples, quase como todos os outros, o que mostrava que estávamos ali como escravas e não empregadas.
Bovary me encarou.
- Você vai substituir a Dione hoje a noite. - Falou e derrepente tocou meu ombro.
- Conto com você, Chihiro. - Abri a boca para dizer algo, meu coração batendo a mil, minhas mãos suavam frio.
- Arrume ela, Aurora. - Pediu saindo do quarto.
- Sim, senhora. - Se inclinou em reverência.
Fui vestida com um vestido verde de seda e meu cabelo foi preso em um coque alto, apesar de não ter colocado maquiagem eu estava me sentindo realmente bela.
Meu Uy parecia tão tenso quanto, mal se mexia no meu ombro a medida que descíamos as escadas, o local estava realmente cheio, mais que o normal e Aurora se inclinou para mim.
- Hoje é o festival dos sonhos, o preferido do Deus dessa região, boa sorte. - Ela sorriu e derrepente me vi novamente na mesma posição de 5 dias atrás.
Engoli em seco e sob pressão dos olhares curiosos comecei a cantar.
Eu tinha que fazer um bom espetáculo se quisesse ter mais regalias e conseguir ir a cidade.
Insegura continuei cantando e Uy para minha surpresa assobiava graciosamente ao ritmo da música.
Quando acabei alguns aplausos tímidos se espalharam pelo salão antes de se intensificaram, me curvei satisfeita e algumas meninas vieram até mim.
- Isso foi incrível!
- Parabéns! Onde aprendeu a cantar?
Sorri satisfeita e Aurora se aproximou.
- Isso foi bem impressionante, mais você não precisava ter feito isso bobinha, era só ter se apresentado e ido sentar. - Com aquilo me senti extremamente constrangida.
- Acho que exagerei um pouco. - Sorri sem graça e derrepente um homem alto se aproximou de mim, ele se vestia todo de preto e usava uma máscara branca.
As meninas se afastaram de mim e ele retirou a máscara parcialmente, tinha um rosto belo e olhos inexpressivos, era ap primeira vez que o via ali.
- Hã, E-eu posso ajudar com alguma coisa?
Ele colocou as mãos no bolso e retirou muito dinheiro de dentro dele.
- Eu... Eu quero você.Engasguei com aquilo e o olhei, ele era familiar.
- Não quero seu dinheiro, não estou a venda. - Falei e como um passe de mágica, Bovary apareceu pegando o dinheiro da mão do rapaz.
- Sem problemas, Chihiro, leve ele para o quarto 3. -mandou me olhando com ameaça nos olhos, sem escolha subi até o quarto, ele entrou e quando fechei a porta o encarei.
- Já vou avisando que se tentar alguma coisa comigo, você vai se arrepen...
Ele colocou as mãos acima dos meus seios e as subiu para o meu rosto.- Cante de novo. - Sussurrou no meu ouvido, sentia todo meu rosto vermelho e Uy tentava sem sucesso picar o rosto dele.
- Kohako. - Chamei baixinho sentindo pânico e desespero, O que era aquilo Afinal? Chega, estava esgotada, queria sair daqui, a ficha gradativamente estava caindo, finalmente eu tinha entendido que lugar era aquele. Como pude ser tão burra?
Chamei de novo e de novo.
Sem respostas.
Afastei as mãos dele abruptamente de mim, sentindo minha voz embargada pelo choro.
- Eu vou cantar para você, se não tocar em mim tudo bem?. - Ele concordou ao ver meu olhar, ele surpreendentemente não parecia uma pessoa ruim e quando me deitei e cantei todas as músicas que eu conhecia do meu mundo, várias e várias vezes ele dormiu educadamente ao meu lado na cama. Me levantei e fui até a janela, pressionei meus lábios em uma linha reta e sai, precisava arranjar um modo de fugir dali, agora que a madame Bovary estava de olho em mim, talvez viessem homens menos gentis que o de hoje, e ai eu não teria como fugir, quando eu estava próxima ao meu quarto alguém me abraçou por trás um estranho pó caindo em meu rosto limitava meus movimentos e forçava meus olhos a se fechar.- Sinto muito, mais você terá que vir comigo. - Então tudo ficou escuro.
"Você tem um coração muito puro pra esse mundo Chihiro, eventualmente, todos são atraídos a você seja com intenções boas ou ruins"
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A maldição de Chihiro
FanfictionChihiro é uma jovem gentil, que perdeu os pais quando um acidente de carro misterioso tirou suas vidas, ela e a avó yasu-sama estão se virando como podem desde então de modo humilde em uma cidadezinha do litoral chamada Sinelan. Kohaku é um servo, e...