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Sabe quando falam que o fundo do poço não é o pior, que tem como ir mais fundo? Pois então, eu estava tão fundo que podia sentir a terra pressionar meu corpo.
Mas não era eu que estava sendo enterrada. Era meu pai

Não me lembro muito do que aconteceu depois que Aizawa me deu aquela notícia. Apenas borrões. Quando percebi já estava no funeral. Não lembro quem me vestiu ou me trouxe. Só da minha mãe chorando e de que estava chovendo. Acho que agora eu estava em casa pelo retrato meu quando criança. Quais eram os 5 estágios do luto mesmo? Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação? Eu devia estar em negação

Negação

Eu fiquei em silêncio por 2 dias inteiros. Ou seriam 3? O tempo estava meio confuso para mim. Mas enquanto eu não falava nada, minha cabeça falava. Eu tentava achar algo para me apegar. Algum indício de que ele estivesse arrependido por tudo que fez, mas era só uma esperança idiota. Ele morreu porque dirigiu bêbado. Simples assim

Não conseguia acreditar que ele estava morto. Aquele cara que não se abatia por nada tinha morrido? Impossível! Desci até o porão de casa procurando algo dele. Sempre com alguém atrás de mim. Vi algumas fotos, peças de carro, latas de tinta e as garrafas de vinho. Peguei uma, mas então a retiraram de mim
    
Raiva

— Devolve— falei com uma voz que não era minha e sim de alguém que não falava a muito tempo. Tossi um pouco tentando voltar a voz ao normal. Vi Sero me olhar surpreso. Provavelmente por falar depois de dias

— Não. Vem pegar — senti um tic no meu olho e avancei para pegar a garrafa, mas ele desviou. Coloquei uma mão cobrindo meu olho esquerdo. Olhei para um canto com o olho direito tentando focar. Parecia que estava dopada

Fui até o quarto de minha mãe a chamar

— Ela está na casa de parentes do seu pai— o olhei sem entender. Não me lembro de ter visto ela sair. Na real minha cabeça estava uma bagunça. Puxei o calendário da parede vendo que tinham se passado 3 dias. Já era quinta- feira. Fui até meu quarto me arrumando — O que está fazendo?

— Vamos para a U.A

— O que? Não eles te deram uma semana de folga

— Não preciso de uma semana de folga. Já perdi tempo de mais. Tenho que pegar minhas provas, a matéria nova e treinar — e falar com Dabi e Hawks. Estava saindo de casa quando senti uma mão segurar meu braço. Olhei para o rosto preocupado de Sero
— Vem comigo — falei e o vi suspirar, mas pegar seu casaco e vir comigo

Como alguém que foi dobrada e desdobrada na última semana, eu sabia que a dor fazia sua mente focar. Mas a emocional, essa fazia você ter mais força. Deslizei por trás do meu alvo como uma sombra e coloquei Serena em sua garganta. Tinha apelidado minhas katanas de Selena e Serena. Serena paralisava e Selena atacava. Puxei a bandana de seu bolso e voltei para as sombras. Já tinha 8

Estava andando pelo campo de batalha e quando percebi já estava no meu quarto com algumas pessoas ao meu redor. Olhei para eles confusa. Eu estava agora no meio de prédios o que estava fazendo ali? Será que estava sonhando? Olhei para minhas mãos e vi ataduras. Levantei uma delas sem entender. Não lembrava de ter me machucado

Me levantei quase caindo fazendo alguns deles se moverem em minha direção. Acho que estava sentada a muito tempo. Olhei no calendário. Pelo menos ainda era o mesmo dia. Se antes eu odiava meu pai agora eu queria poder o trazer de volta e mata-lo de novo. O que eu fiz para merecer isso? Porquê estava sofrendo por algum que ria quando eu caia. Não fazia sentido

Senti meu sangue ferver. Fui até a varanda com pessoas ao meu alcance, então invoquei minhas asas e fiz uma rajada de vento os prendendo lá dentro e voei. Voei por um bom tempo até estar na praia sobrevoando o mar. Eu podia ir a muitos lugares, mas sempre voltava para lá, talvez porque as poucas lembranças boas que eu tinha de meu pai, eram na praia. Nós nadando por debaixo das ondas e fazendo castelos de areia

𝑾𝒆𝒔𝒕 𝑪𝒐𝒂𝒔𝒕-𝘏𝘢𝘯𝘵𝘢 𝘚𝘦𝘳𝘰Onde histórias criam vida. Descubra agora