ㅤㅤSimon sempre precisou ter Penélope por perto.
Precisou quando ele era o aluno novo, pequeno e muito deslocado, sentindo que sempre que gostaria de se aproximar, todos, mais ágeis que ele, saíam de perto — se dispersavam menos discretamente do que achavam que estavam fazendo. Precisou quando um garotinho resolveu finalmente ultrapassar a barreira e implicá-lo sempre que o via pelos corredores. Precisou novamente a primeira vez que Simon fez uma aposta (a qual ele perdeu), quebrou um braço (porque crianças poderiam ser intensas e odiar perder apostas) e foi chamado para sala do diretor (que por acaso era seu pai adotivo).
Simon, porventura, também precisou dela quando terminou seu primeiro namoro, foi a sua primeira festa, teve sua primeira ressaca e seu braço quebrado uma segunda vez. Quando ele soube que era órfão mais uma vez e então de novo (um pouco mais metaforicamente a segunda vez). Sempre precisou e ela sempre esteve lá. Sem sequer uma exceção, o que sempre o levava a tentar recompensá-la de alguma forma — como quando ela terminou seu primeiro namoro ou quando precisou estar na primeira cerimônia que a mãe dela participara como a diretora de Watford (ainda que essa tenha sido mais um suporte mútuo). As mãos dela tremiam tanto que por um instante ele precisou cobri-las com as suas, mesmo que estivessem diante de toda a escola — Simon precisava que ela soubesse que ele estava lá, servindo de suporte, tornando-as quentes outra vez.
Penélope era a irmã que ele nunca teve e Simon torcia todos os dias para que ela soubesse que ele era bem mais que somente grato por tudo. (Merlin, tudo o que estava acima de gratidão, ele a admirava e a amava como não poderia amar ninguém mais, não da mesma maneira, com a mesma proporção.) Que ele não gostaria de ter outra irmã senão ela e que estava muito feliz de não ter ficado sozinho; que sozinho as coisas teriam sido infinitamente mais difíceis, naturalmente debilitantes, propensas a náuseas.
E, se ainda tivesse que ser honesto, Simon conseguiria admitir que as coisas também seriam convenientemente mais tranquilas para Penélope se não fosse o poço aparentemente infinito de melodrama que ele era. Talvez, se não fosse por ele, ela poderia ter ido estudar em uma daquelas grandes universidades para pessoas inteligentes como ela; talvez estivesse morando com o namorado, sem ter que se preocupar se seu colega de quarto voltara a queimar pesadelos toda madrugada.
Sendo assim, muito obrigado, Penny, por não o abandonar no caminho. Ele não saberia dizer como tocaria sua vida se não fosse por você.
Menos agora.
Agora, Simon gostaria que Penélope desse logo o fora do apartamento para que ele pudesse dar o fora. Simon precisava dela o mais longe possível, e que de preferência ela não soubesse quem estaria para chegar e para onde ele estava indo porque então Shepard saberia e Merlin, ele não o deixaria em paz. Simon precisava dela bem, bem longe para ficar okay. Naquele momento, ele precisava da solidão, do vazio do apartamento, do silêncio das paredes, muito obrigado.
Não o entenda mal. Um tanto mais e ele teria Baz Pitch. O cortês, sarcástico e muito atraente Baz Pitch. Você sabe, seu grande amor. (Por favor, deixe-o ser meloso em paz, Penny já estava o importunando o suficiente.) E se por acaso Simon demorasse mais um pouquinho ele não aguentaria mais estar em sua própria pele, ele precisava ir.
Sabe, só ir.
Ele teria Baz Pitch por ali logo, logo, quer dizer — a maldita solidão.
— Si, você sabe — Penélope disse — que Baz é um mesquinho obcecado por horários, não é?
Simon enrugou o nariz, pego de surpresa. Não via o que ela estava tentando conseguir dizendo aquilo para ele outra vez — como se ele já não estivesse repetindo incansavelmente para si mesmo —, mas esperava que o moletom que ela recebera em seu rosto tenha sido uma das opções.
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MOZART E BRONZE
Fanfictionㅤㅤ❝Francamente, se alguém tivesse que receber a culpa por acabar com a 'boa convivência entre vizinhos' seria Simon. A começar com o fato de que ele era todo cachos cor de bronze, olhos azuis e pintas por toda parte e era ridículo, mas Baz tinha um...