ATO QUATRO.

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ㅤㅤBaz nunca precisou que contassem a ele que sua mãe estava morta.

Ele estava lá quando aconteceu — papéis e mais papéis sumindo no fogo, a palma de suas mãos se queimando ao tocar a maçaneta da porta, seus joelhos encontrando o chão e seus olhos perdendo sua mãe. Não havia muito o que o fizesse ter essas imagens de volta; ele as tinha guardado com cuidado e empenho em um baú grande, com entalhes precisos e pinturas prateadas, escorado contra uma parede especial de sua mente e, sempre que queria, visitava-os silenciosamente, apreciando suas verdades, sentindo seus vincos e suas pontas.

O problema era que uma parte sempre lhe escapava; ela ficara presa do lado de fora do baú uma primeira vez e nunca mais teve a chance de ser colocada junta as outras. Era cheia de volatilidade e certa tragédia e o trazia de volta com a brusquidão e a rapidez que uma chama podia queimar palha. Ele não precisava de cenas rodando e rodando sua cabeça para saber que acontecera, mas terror suficiente comprimia seus pulmões quando esbarrava na parte perdida.

Nunca chegaram para o Baz de cinco anos de idade e disseram que sua mãe estava no céu como uma estrela, que ela tinha ido para um lugar melhor, ou que tivera que partir e já não era mais capaz de voltar. Houve um dia em Baz acordou no hospital, mãos e joelhos cobertos de esparadrapo, somente Fiona e flores ao seu lado, e, quando se dera conta da expressão dela em sua direção, Baz meio que soubera que era ele sozinho dali para frente. Ele sozinho com seu pai e uma pitada de Fiona, de Dev e de Niall.

(E de Simon, eventualmente.)

(Penélope também.)

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ㅤㅤAinda que muito citada, Penélope era presente na vida de Baz apenas um pouco. Presente fisicamente, ele queria dizer. Simon orgulhava-se imensamente por ela e a mencionava tanto quanto não mencionava qualquer outra pessoa (embora Baz desconfiasse que Snow o diria algo se ele o perguntasse; qualquer coisa já seria mais do que ele mesmo diria, de forma que testar sua teoria seria abrir espaço para uma reciprocidade remota e improvável), o que significava que Baz acumulava uma quantidade de informações considerável.

Bunce fazia curso de Letras na mesma universidade que Baz pela manhã e, durante a tarde, fazia estágio em uma escola de ensino fundamental a 20 minutos de lá. As vezes Penélope ficava até um tanto mais tarde na universidade para dar aulas de reforço de matérias de seu curso; as vezes ficava até mais tarde para dar aulas de reforço de matérias que não eram de seu curso.

("Merlin, ela é genial, Baz", Snow dissera no dia que contara isso a ele. "Sabe o que eu acho? Acho ela a melhor de todas. Facilmente. A melhor de todas em tudo que quiser fazer... Só que não diga a Penny que eu disse isso ou ela vai ficar se achando." Baz se lembrava apenas de pensar sobre como os olhos dele pareciam transbordar apreço.)

Penélope e Baz poderiam ter sido o pesadelo de seus professores (com todos os seus questionamentos e implicações de um ensino perfeito) se tivessem tido a chance de estudarem juntos, ele sabia disso. Exceto que na época o pai de Simon era o diretor de Watford, o que automaticamente os tornaria inimigos, porque Bunce e Snow eram uma maldita duplinha, e Baz era incrivelmente orgulhoso e definitivamente não aceitaria ser o segundo da sala.

Pensando bem, ser o pesadelo dos professores poderia acontecer de um jeito ou de outro.

Snow soava dependente a ela, também. Isso ele não tinha dito, mas Baz não pôde deixar de notar com o passar do tempo (primeiro vendo como uma relação perigosíssima e patética. Depois como irmã e irmão e algo que ele nunca teria) (Baz poderia muito bem passar meses sem nem sequer pensar em sua meia-irmã). Tão claro quanto uma chama ele dizia, sem sequer notar, que ela cuidava dele. Por Crowley, Simon nem mesmo devia notar o quão sortudo era.

MOZART E BRONZEOnde histórias criam vida. Descubra agora