Capítulo V - A Chuva

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Eu desci a escada, correndo, passando por quem fosse, o quê também não me importava, ignorei tudo e todos à minha volta. Saí pela porta da frente, na chuva, eu não ligava. Mas corri. Não pela chuva. Pelo Dazai. Não queria vê-lo mais. Por mais que ele nem viesse atrás de mim. Eu estava fugindo. Era a minha vez de sumir.

Vou sumir na chuva. Bem original. Não queria saber o que aconteceria depois, tantas possibilidades; ser morto pelo Mori, ou morrer pelo Dazai, pegar um resfriado, ser torturado até a morte por tentar fugir denovo, dentre inúmeras outras possibilidades..

Mori privavelmente me mataria depois. E sinceramente; foda-se. Eu não ligo. Não estou vivendo. Nem sequer chamaria isso de existir. Estou enjaulado. Essa é minha chance de escapar. Eu fico animado, no meu rosto escorrem lágrimas de alívio e gotas da chuva.

Mas, de repente, algo me prende no chão. Algo não me deixa sair dali.

Era ele. Mori conseguiu me alcançar. E as lágrimas de alívio se tranformam, quase que instantâneamente em lágrimas de tristesa e arrependimento.

-Chuuya, o quê eu disse que faria com você caso fizesse algo ou tentasse fugir de novo? - Mori diz, enquanto se aproxima de mim e segura meu braço esquerdo com força.

Dazai aparece atrás de Mori e fala algo, mas eu não escuto, eu sinto tudo em volta de mim desaparecer aos poucos, primeiro os sons; as vozes das pessoas, o som dos carros, o som da chuva, e então as coisas; carros, casas, logo as pessoas somem, inclusive Mori.

Agora é só eu e Dazai no mundo.

Só vejo ele.

Ele me afasta do Mori e continua falando coisas, então, eu recobro meus sentidos e volto a ver e ouvir as coisas normalmente. E, quando me dou conta, Dazai me abraça e eu o abraço devolta, ainda em lágrimas.

A chuva vai parando lentamente, e as outras pessoas começam à aparecer, logo, ouço o Dazai gritar para alguem e volta chamar a polícia, e essa foi a deixa do Mori, ele xinga e ameaça Dazai e sai.

Eu escuto e vejo normalmente, mas, a minha atenção ainda é voltada à você.

Dazai me acorda do transe e me leva novamente até o prédio da ADA. Ele me leva até a sala onde ele trabalha e pega algumas coisas. As pessoas chegam e perguntam o quê eu estou fazendo ali, e eu continuo te encarando, eu senti tanta falta de você...

Ele segura minha mão, responde para todos que precisa resolver algo, e nós saímos. No corredor eu consigo reconhecer um homem alto e loiro, ele usa óculos e anda pra lá e pra cá com um livro; "Ideais", eu olhei rapidamente para a capa, acho que era isso que estava escrito. E junto à ele, estava o Garoto-Tigre. Ambos me encaram e Dazai os encara devolta, sério, dessa vez.
-O quê foi? - Ele pergunta estressado.
-Ele... - O homem loiro olhou pra mim, com uma cara de desgosto.
-Ele é...
-Kunikida. - Interrompo Dazai, por ter lembrado o nome dele.
-Como sabe meu nome? - Eu não o respondo, apenas aperto a mão de Dazai, e doi um passo à frente, me aproximando do mesmo. - Dazai, explique isso, agora.
-Desculpe, Kunikida. Mas eu tenho coisas à resolver. - Ele sai sem dizer mais nada, me puxando junto. Nós vamos andando até a casa dele, mas eu não presto atenção no caminho, apenas sigo seus passos, ainda olhando pra ele. Sinto que estou parecendo uma criança que ganhou um doce pela primeira vez. - Chegamos. Chuuya? - Ele olha pra mim. - Por quê tá tão quieto? Que eu saiba você não era tão silencioso assim. - Ele levanta meu rosto com sua mão, ela é quente, eu seguro ela e a abraço em meu rosto. - Chuuya, você tá' quente... Deve estar resfriado, entra.
-Não acho que eu...
-Entra logo.
-Okay.... - Eu demoro um pouco pra responder.

Nós entramos, ele pega uma toalho e me manda ir moar banho, eu entro devagar, olhando em volta, é um apartamento pequeno, mas bem arrumado. Parece que o Dazai mudou bastante. Eu vejo algumas fotos dele espalhadas pela casa, e uma com seus amigos; Odasaku e aquele de óculos que Dazai nunca me disse o nome.

Continuo andando pela casa, e eu vejo, pela fresta da porta do quarto, uma foto nossa. A única que nós tiramos juntos em toda a nossa vida. Nela estamos rindo e sua cabeça está apoiada em meu ombro. Ele sai do quarto e vejo que a foto fica do lado da cama, o quê me deixa levemente surpreso.
-Éh... aqui. - Ele me entrega umas roupas. - O banheiro é essa porta.

Depois do banho e de me arrumar, eu saio e vou até a sala.

Dear Enemy - SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora