Capítulo 07

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Ravi

— Esse entrou para a lista dos piores resgates que já fizemos — alguém da equipe murmurou atrás de mim, enquanto o lamento dos cães adultos nas vans da polícia e das ninhadas órfãs, incluindo cinco filhotes de lobo-guará, já alimentados na carroceria da minha caminhonete, se dividiam entre dor e medo.

Infelizmente para três pit bulls, a denúncia chegou tarde demais. Eles já haviam sido parcialmente devorados por seus próprios companheiros famintos quando invadimos a maldita chácara.

A dor dos animais e o peso macabro do ambiente agitaram a mente de todos os voluntários, em especial da deputada Patrícia, que, apesar de estar sempre na linha de frente comprometida com a causa, pela primeira vez parecia entorpecida com tanta crueldade. Ela mal entrou no local e, quando o fez, não aguentou nem cinco minutos.

Acorrentando as caixas de transporte da minha caminhonete, observei a mulher abrir a porta do SUV vermelho, jogar o casaco grosso no banco traseiro e sentar-se ao volante com a mão entre os cabelos.

Mais pálida do que costumava ser, ela encerrou a gravação habitual de seu canal na internet sem nenhum vigor, como se ainda estivesse em transe depois de perder agressivamente o controle com um vizinho abelhudo que saiu direto do inferno para defender os donos fugitivos do canil.

A última vez que a vi tão explosiva e distraída – porque também não tínhamos muito contato – ela deixou escapar que eram problemas relacionados ao ex-marido, mas me pediu para não perguntar por quê.

Agora a pouco, se o delegado Medina não tivesse saído pelo portão na hora certa, algo pior teria acontecido, pois o homem dava três do tamanho dela e não tinha ideia de que precisava avaliar com quem estava lidando.

Preocupado, mas com outra tarefa importante exigindo minha atenção, desviei o olhar novamente. Foi quando vi o delegado direcionar seu pessoal com as primeiras vans na estrada, e de onde estava, sinalizar para a deputada, perguntando mais de uma vez se ela estava bem e sendo ignorado em todas as tentativas.

Por alguma razão que ela não conseguia explicar ou verbalizar, não suportava a ideia de estar perto dele.

Fazia um ano e meio que ele havia sido transferido da Bahia para assumir o DEMA em Goiânia e, já no primeiro contato, antes mesmo das apresentações, os dois tiveram um desentendimento, a meu ver, sem motivo consistente. Como a situação só piorou com o passar dos meses, sem uma conversa esclarecedora, eles decidiram que ignorar um ao outro era uma ótima maneira de serem produtivos juntos na causa pela qual lutavam.

Talvez eu estivesse envelhecendo rápido demais para entender a mente dos mais jovens, porque aceitar aversão gratuita, sinceramente...

— Escuta, Ravi, já estou começando a pensar merda para justificar tanta antipatia da aguardente ali — disse Medina ao se aproximar de mim.

— Calma, camarada. Todo mundo está no limite. — Virando-me para ele, vi sua camisa preta manchada de vômito e lembrei que alguém lá dentro havia comentado sobre a deputada ter vomitado cá fora.

— Ela não me olha na cara, mesmo em uma situação como esta. Porra, tem medo de homens ou é racista? — exclamou em bom tom.

— Você não acha melhor resolver esse impasse com ela? — Voltei à minha tarefa. — Garanto que o diálogo será o melhor caminho.

— Tentei e várias vezes não deu certo. É como se ela estivesse na frente de um bicho selvagem. Vejo raiva e pavor nos olhos dela. Até treme. Quase surtou agora a pouco quando a toquei para dissolver a confusão. É foda não pensar em segregação, mas... — Ofegou enraivecido. —Esquece, você não vai entender...

A herdeira e o viúvo Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora