Capítulo 16

1.8K 423 39
                                    



Capítulo 16

Monique

Depois de ser acordada para um lanche no meio da tarde, voltei para a cama e dormi o resto do dia, exausta a ponto de nem perceber quando Ravi voltou com Gabizinha. E foi melhor assim. Não faria nenhum bem a ela me ver tão abatida e com os hematomas pelo corpo.

Acordei no meio da madrugada, depois de um pesadelo horrível com meu irmão se transformando em um monstro e me arranhando a ponto de meu corpo ficar desfigurado. Pesadelos semelhantes aos que me assombravam na infância, quando mamãe me fazia acreditar que se eu me aproximasse dele, ele me machucaria como havia feito com o trabalhador da fazenda.

Enquanto ouvia os uivos e latidos dos cachorros, me escondi debaixo das cobertas, apenas respirando e rezando pela proteção divina para meus entes queridos. Pedi também por mamãe, para que nada de mal lhe acontecesse naquele lugar, e que a mão divina fosse à frente do ministério público e decidisse o melhor na audiência de custódia que aconteceria na tarde daquele próximo dia.

A certa altura, ouvi passos cautelosos no corredor e o som de um bocejo desajeitado seguido por um "Shh" abafado. Foi quando meu dedo fraturado já latejava muito e meu corpo exausto clamava por uma forte dose de analgésico. Era Joshua e sua fiel cachorrinha que tinham acordado, e isso foi o empurrão que  eu precisava para sair da cama, usar o banheiro, pegar minha caixa de remédios e deixar o quarto em busca de algo para acalmar meu estômago.

Seguindo os sons da cachorra, passei por uma grande cozinha com móveis rústicos em madeira maciça. Encontrei meu irmão em outra parte reservada do cômodo, colocando lenha em um amplo fogão a lenha. A gigante caramelo estava em seu pé, curvada sobre uma vasilha com água.

— Minha irmã, por que já está de pé? — Joshua largou as madeiras quando me viu.

— Meu estômago está roncando de fome e tenho que tomar o remédio agora. — Estendi a mão boa para abraçá-lo e doeu sentir como ele ainda ficava chocado ao receber meu menor carinho.

— Melhor você sentar. Jussara ainda não chegou para ajeitar as coisas do café, mas ela sempre deixa algo no ponto...

— Eu como qualquer coisa.

Enquanto eu lhe dava um abraço apertado e apoiava meu rosto no início de seu estômago, ele mantinha as mãos afastadas de mim, suspensas no ar.

— O seu nariz... ele está chiando. Isso não é nada bom, pirralha.

— Me abraça, Joshua. Pode me abraçar. — Um bolo travou minha garganta. O medo de perder minha nova família me dominava. — Você é bom. Eu acredito muito em você.

— Você acredita, hein?

— Sim. Você é um homem bom. Se errou, foi porque estava tentando acertar as coisas.

— Imagina só descobrir que fiz tudo de caso pensado e faço outra vez se algum filho da puta...

— Shh, shh. Só me abraça.

Meu irmão me abraçou vigorosamente, depois afrouxou o aperto e pediu desculpas por ser tão desajeitado.

É verdade que ele era um homem áspero, mas aqui, ao seu lado, eu não sentia nada além de amor e conforto. Às vezes, ele usava termos desconhecidos e misturava frases, mas eu sabia que nossas experiências compartilhadas nos ajudariam a entender um ao outro. Eu nunca o deixaria sozinho novamente. Por nenhuma razão. Minha mãe e suas vozes tinham que sair da minha cabeça de qualquer maneira. Joshua era meu sangue, e ele me amava.

A herdeira e o viúvo Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora