Capítulo XIV

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-Eddie... - vi Eddie parando em minha frente. Seus olhos estavam fixos em meu joelho, olhando assustado - Eu deixei cair, me desculpa. - algumas lágrimas desciam em meu rosto.

Ele olhou para a grande caixa térmica de metal no chão, ainda fechada graças à tranca. Então ele se aproximou mais de mim e se ajoelhou, pegando minha mão ensanguentada.

-Eu ia arrumar as coisas enquanto vocês estavam no rio. Achei que conseguia pegar a caixa, mas ela é muito pesada - dei um sorriso sem graça - Cai ajoelhada em uma pedra... e a mão eu cortei na caixa.

-Você é doida sabia? - ele me pegou no colo, e andou até um dos tocos que estavam espalhados ali como bancos. - Sorte que sua mãe mandou um kit de primeiros socorros.

-Ela é enfermeira. Obvio que ela ia mandar.

Ele sorriu, e andou até o carro, voltando com a caixinha que ficava no guarda roupas da minha mãe. Ele se ajoelhou de novo, e começou a limpar minha mãe.

-Ai caralho. Devagar, Eddie. - Tentei puxar minha mão, mas ele a segurou.

-Fica quieta e deixa eu limpar. Ninguém mandou você querer dar uma de Rambo.

Sorri vendo ele limpar meus machucados com delicadeza. Ele parecia extremamente concentrado, com a pontinha da língua pra fora.

-O que eu passo agora? - ele me olhou, depois de limpar tudo. 

-Esse branco com verde - apontei, e ele pegou, voltando aos machucados.

Eddie enfaixou meu joelho e mão, mesmo eu insistindo que não precisava. O corte da mão foi um pouco mais profundo, mas ainda sim era um exagero.

-Fica sentadinha aqui, okay? 

Apenas concordei com a cabeça. Ele guardou o kit no carro, e foi até a parte de trás do carro voltando com a caixa.

Eu havia ficado sozinha por alguns poucos minutos, e resolvi fazer alguma coisa para ocupar a cabeça. Estar ali na floresta, fazendo algo que eu costumava fazer com meu pai fez meu coração começar a se apertar no meu peito. Eu só queria ir embora dali e ficar o resto do dia deitada sozinha na minha cama.

Mas eu sei que Eddie se esforçou por isso. Sei que ele preparou tudo na melhor intenção, e eu não quero desapontá-lo. Noite passada, quando acordei pro jantar depois de dormir a tarde toda, minha mãe não brigou comigo pela bebida, ou pelo baseado que ela achou jogado ao lado da minha cama. Ela brigou quando ela tocou no nome do Eddie e eu disse que não queria saber dele.

Ela ficou furiosa. Disse o quanto eu sou ingrata, que eu devia valorizar um rapaz que se preocupa tanto e cuida de mim, bla bla bla... Quero dizer, eu sei de tudo isso! E é por isso mesmo que quando eu acordei, eu estava decidida a sair da vida dele. Eu me lembro tudo o que eu lhe disse quando estava bêbada e chateada. Ele pode ter dito que não, mas eu sei que eu o chateei. E eu vou fazer isso novamente, por que essa sou eu. Eu estou ferida, minha cabeça está uma bagunça, e constantemente eu penso em ir embora dessa vida. Só não tentei novamente por que eu sinto que minha mãe precisa de mim por aqui mais um tempo.

Mas aqui estou eu, sentada em um toco de árvore, no meio da floresta, observando Eddie terminar de descarregar as coisas do seu porta malas. Minha mãe havia me feito prometer que eu iria fazer terapia, e que não iria afastar Eddie.

-O que tá se passando aí nessa cabecinha?

Eddie se sentou no chão, ficando de frente pra mim. Ele colocou uma mão sobre meu joelho bom, fazendo carinho com o polegar.

-Nada. - dei um sorriso - Só coisas do colégio mesmo.

Ele abaixou a cabeça, e tomou uma longa respiração.

Fire - Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora