Capítulo XXIX

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-E aí cara. - Haylee bateu no meu peito, entrando no trailer - Tudo na merda?

-Posso perguntar o que você tá fazendo aqui? - eu ainda estava parado segurando a porta aberta.

-Ah, eu vim ver como meu amigão tá. - ela sorriu e se jogou no sofá - Senta aqui cara. Hoje é sábado. Pega uma bebida aí pra gente.

Fechei a porta do trailer e fui na cozinha buscar o whisky. Peguei dois copos e voltei pra sala, colocando tudo em cima da mesa enquanto me sentava.

-Então. Será que algum dia alguém vai me contar o que rolou entre você e a Anne? 

Eu apenas a encarei, enquanto virava um copo com whisky e entrei o outro a ela.

-Qual é Eddie. Vai mandar essa comigo? - ela pegou o copo que eu lhe dei, e deixou em cima da mesa - Você é esquisito, mas eu gosto de você, cara. A gente se apoia, lembra? - ela deu um sorriso, e se sentou em cima da mesa, pegando o copo e virando.

-Ela mentiu pra mim. - Eu olhava pra mesa, deslizando o copo de uma mão pra outra - Ela e o Steve ficaram. Um dia eu perguntei, e ela disse que não.

-Okay... e como você descobriu isso?

-Dustin deixou escapar um dia. 

-Tá, e aí? Você terminou com ela por isso?

-Não fala como se não fosse nada. - Olhei pra ela, indignado.

-Eddie, eu não sabia que você era tão emotivo. - Ela riu, e puxou uma cadeira para sentar do meu lado. - Tudo bem, ela foi errada por mentir. Mas me responde uma coisa, com sinceridade. A relação de vocês era tão frágil assim, que uma coisinha pequena como essa anula todo o resto?

-Não é isso...

-Então é o que? Fala comigo, caramba.

-Eu não... lido bem com mentiras. Meu pai era um imbecil, e a minha mãe... 

-O que seu pai tem a ver coma Annelise, cara? - ela me encarava com um sorriso.

-Haylee... - balancei a cabeça e me levantei, andando pela sala. Eu não queria entrar naqueles assuntos. Nem meu tio nunca conversou comigo sobre isso. A gente só deixa passar.

-Eddie, pelo amor de Deus. - Ela se levantou, e veio na minha direção - Você já comprou um teste de gravidez pra mim, e segurou minha mão enquanto eu esperava o resultado. - Haylee parou na minha frente, me encarando - E eu preciso te lembrar quem ficou comigo na clínica? - ela sorriu - Você ficou comigo quando eu mais precisei, cara. E você não tinha nada a ver com a história. Você vai explodir se ficar guardando tudo nesse cabeção.

Ela se jogou no sofá e deu um tapinha do seu lado. Respirei fundo e sentei, apoiando os cotovelos no meu joelho.

-Meu pai era... violento. Com a minha mãe sabe? Eu não lembro muita coisa, porque eu era muito pequeno, mas desses dois dias eu me lembro cada segundo. - Olhei pra ela - Minha mãe arrumou a mala enquanto meu pai tava por aí fazendo merda. Eu disse que queria ir com ela, porque meu pai era péssimo. - Voltei a encarar o chão - Ela disse que precisava arrumar as coisas, e voltava pra me buscar. Ela prometeu que iria voltar. Bom, aquele dia eu apanhei do meu pai porque deixei ela ir, e ela nunca me buscou.

-Eddie, isso é...

-Calma, que eu ainda vou contar a melhor. - Me virei pra ela com um sorriso - O pai do ano decidiu que era demais pra ele ter que cuidar de um pivete. Sabe o que ele fez? Dirigiu até outra cidade, me levou pra um parque e mandou eu ir brincar. Ele iria me comprar um sorvete e voltava em alguns minutos. - Fechei as mãos em punhos, me lembrando claramente de como eu senti medo aquele dia. - Anoiteceu, e eu fiquei sentado em um balanço esperando por ele. 

-O que aconteceu depois?

-Meu tio apareceu lá e me trouxe pra morar com ele. Depois meu pai voltou, disse que se arrependeu. Ele acabou me levando pra morar com ele de novo. Disse que iria conseguir um emprego e ser um bom pai. Em menos de um mês ele foi pego em um assalto. Depois disso eu nunca mais vi ele.

-Eddie...

-Eu amo aquela garota, Haylee. Eu amo tanto que as vezes eu até me assusto. - Soltei uma risada - Eu não quero ficar sem ela, mas... é difícil. Eu simplesmente volto pra ela e tenho que confiar que ela vai ser sincera comigo a partir de agora?

-Sim, Eddie. É isso o que você faz. Ela não é seu pai, nem a sua mãe. - Ela se aproximou mais de mim, e colocou a mão na minha perna - Eu sei... é difícil pra você confiar nas pessoas. Mas você não pode simplesmente julgar todas as pessoas da mesma forma, entende? A Anne mentiu pra te manter por perto. Por medo de perder você. 

Abaixei a cabeça, me encostando no sofá.

-Eu falei sobre isso com o Steve, sabe? Sobre ele e a Anne, quando a gente começou a ficar. 

-Você sabia? - e a encarei.

-Anne me contou na época. Os dois me garantiram que não foi nada demais. Quer dizer, o Steve gostou dela..., mas ele disse que logo sacou quem ela queria de verdade. Dá essa chance pra ela Eddie, aquela garota é louca por você. 

Ela se levantou, e foi até a mesa enchendo dois copos com whisky. Se sentou no sofá de novo, e me entregou um copo. Virei de uma vez.

-Ou vai me dizer que você acha justo crucificar ela por uma bobeira dessa? - ela se inclinou pra frente, tentando me encarar. - Ela não é a vilã, Eddie. A Anne é só uma garota que foi machucada pela vida, igual a você. Talvez mais, ou menos. Isso não importa. O que importa aqui, é que ela tá perdida, você sabe disso. Ela nunca falou direito comigo sobre essas coisas, mas dá pra ver que ela se sente culpada por muitas coisas. Ela se julga, se pune, as vezes ela até se odeia. E agora você tá jogando mais uma culpa nas costas dela. Uma culpa que ela só tem por que não queria perder você.

Me levantei, andando pela sala pensando em tudo o que ela tava em dizendo. E tudo o que a Lis disse.

-Você não pode punir ela pelo erro dos seus pais. Isso não é justo.

-E se eu não conseguir fazer ela voltar?

-Por que não conseguiria? - ela cruzou os braços.

-Ela veio aqui ontem pra conversar... Disse que era a última vez e se eu deixasse ela ir embora, ela iria seguir a vida dela sem mim.

-E você deixou ela ir. Boa Eddie.

-Ah caralho! - chutei o sofá - Tava tudo indo tão bem.

-Vem cá, Eddie. Me responde uma coisa. Você contou pra ela que a gente já se pegou?

-O que? Não. Ela nunca perguntou.

-Puta que pariu, Eddie Munson, sério? Você é otário pra caralho. - Ela se levantou e abriu a porta do trailer. - Eu juro que nunca mais reclamo do Steve, cara.

Fiquei parado na porta, vendo ela entrar no carro. Ela parou com metade do corpo pra dentro, e então me olhou.

-Vai ficar parado aí, sequelado?

-Onde você vai?

-A gente vai resolver essa merda agora, cara.

Fire - Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora