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Nota da autora: Recomendo que leiam ao som de "Wicked Game". Essa bela obra-prima criada para que todos assim como a Désirée possam curtir aquela fossa em grande estilo.


Deixei Angeli em casa e após recusar gentilmente o convite dela para assistirmos filmes românticos clichês dirigi até o bar mais próximo, já faz mais de duas horas que estou aqui, sentada nesse banco frio e desconfortável de madeira, entre uma dos...

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Deixei Angeli em casa e após recusar gentilmente o convite dela para assistirmos filmes românticos clichês dirigi até o bar mais próximo, já faz mais de duas horas que estou aqui, sentada nesse banco frio e desconfortável de madeira, entre uma dose e outra vou perdendo cada vez mais a noção do que acontece em minha volta, a única coisa que eu sei é que com certeza estou ficando bêbada, a decoração rústica e o cheiro de cigarro deixa tudo ainda mais melancólico.

O relógio pendurado na parede de tijolos vermelhos está marcando 00:00, pego algumas moedas no bolso do casaco e caminho cambaleante até a Jukebox ao fundo do bar, nada melhor do que uma boa música triste para te deixar ainda mais triste, aperto os botões da máquina mais de dez vezes até finalmente encontrar a música que consegue traduzir tudo o que eu sinto, "Wicked Game, by Chris Isaak".

Tento evitar as lágrimas a todo o custo, o que chega a ser doloroso, mas quando finalmente chega o refrão, me deixo desmoronar como um castelo de areia a beira mar, chorar é a única maneira que encontrei para externalizar tudo o que estou sentindo, e definitivamente é um fato, o que os olhos não veem o coração simplesmente não sente, e ver o que eu vi, me deixou arrasada de várias maneiras, não tinha sentido de fato essa sensação arrasadora que uma paixão não correspondida tem, até o fatídico dia de hoje, ver o que vi foi um verdadeiro soco no estômago e a maior certeza de que estou prestes a arrasar meu coração.

Enquanto a música vai terminando, vou caminhando novamente entre trancos e barrancos para o balcão, peço mais uma dose, e uma garrafa de Absolut.

Deixo uma nota de cinquenta euros sob o balcão, agradeço e deixo o bar.

Com muita dificuldade abro a porta do meu velho Sandero e me jogo dentro dele, sinto tudo rodar ao fechar os olhos, ao abri-los novamente, ligo o som e recosto a cabeça sob o encosto do banco.

Abro a garrafa de Absolut e a levo na boca, o líquido desce quente pela minha garganta e chega queimando no meu estômago, como uma boa bêbada, cogito a possibilidade de mandar uma mensagem para Robert, mas preciso preservar o pouco de dignidade que ainda me resta, então me concentro apenas em secar a garrafa e chorar pela minha capacidade nada admirável de me apaixonar.

Sempre fui ingênua, desde menina, e isso não mudou quando me tornei mulher e fui ingênua mais uma vez ao acreditar que não desenvolveria sentimentos pelo Robert se fosse apenas sexo. Mas obviamente me enganei, menti e neguei até os quarenta e cinco do segundo tempo qualquer tipo de sentimento por ele e agora, cá estou eu, trancada no meu carro, no estacionamento de um bar com uma garrafa de vodca para afogar as mágoas.

A chuva começa a cair torrencialmente, me afundo ainda mais no banco do carro, ouvindo o barulho da chuva sob o teto e me questionando o do porquê tinha que ser ele, logo ele.

JOGO PERVERSO [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora