Vou com Angeli para o banheiro, minha cabeça ainda está rodando, sinto a garrafa de vodca que tomei durante a madrugada saindo pelos meus poros e meu estômago parece que virou de cabeça para baixo.
— Você é louca de aparecer aqui desse jeito. — Angeli me diz, enquanto abro a torneira da pia para lavar o rosto.
— Ele ameaçou me demitir se eu não viesse. — Respondo, olhando o meu reflexo no espelho sob a pia.
— Ele o quê? Seu sapato está sujo de vômito — Ela diz e corre até a papeleira, pega algumas folhas de papel e me entrega.
Pego as folhas das mãos de Angeli, umedeço-as um pouco e com certa dificuldade me abaixo para limpar a mancha amarelada no bico do meu sapato.
— Isso aí. Ele fez questão de me lembrar que ainda é meu chefe e meu carro também está sujo de vômito. — Digo e em seguida rompo em riso.
Angeli rir e passa por detrás de mim para arrumar meus cabelos, fazendo um coque frouxo.
— Sinceramente, eu iria embora Dess, pensa nisso. — Angeli me diz, enquanto me olha pelo reflexo do espelho.
— Infelizmente, não posso correr o risco de ficar desempregada. — Digo e jogo os papéis que usei para limpar o sapato no lixo.
— Ele não te demitiria, disso eu tenho certeza.
Fecho a torneira da pia, e encaro Angeli pelo espelho.
— Eu não sei o que eu faço, bebi para esquecer e o que eu mais fiz foi lembrar. — Digo com a voz embargada.
— Oh amiga. Vem cá. — Angeli diz, se aproximando e me envolvendo num abraço.
Seguro Angeli firmemente por alguns minutos antes de nos separarmos.
— Vamos logo acabar com isso, preciso ir para casa tomar um banho e uma aspirina, a minha cabeça está me matando! — Digo para Angeli ao nos separarmos.
Desamarroto o vestido e saio do banheiro, Angeli vem logo atrás de mim, passamos pelo largo corredor sob o olhar curioso de alguns colegas de trabalho, até finalmente chegarmos à sala de reuniões, abrimos a porta e encontro Robert sentado na cabeceira da mesa e ao seu redor um bando de engravatados.
— Bonjour! Peço perdão pelo meu atraso, o trânsito está um horror! — Digo e me sento ao lado de Angeli. — Podemos dar início a reunião, Robert? — Pergunto, com um sorriso no rosto.
Ele me encara com as mãos cruzadas sob o queixo e os cotovelos apoiados sob o tampo da mesa de vidro.
— Claro, senhorita Leblanc. — Ele responde de maneira ríspida e os olhos fixos sob os meus.
— Antes de iniciarmos, gostaria de agradecer a todos os presentes aqui, em especial a você, senhorita Leblanc que provou ser uma excelente assistente financeira. E a você também Robert, sem o exímio trabalho de vocês ainda estaríamos no vermelho como há alguns meses. — Diz um dos acionistas.
— Aceito o agradecimento em forma de duas garrafas de Royal Salute! — Robert responde, fazendo com que todos em volta da mesa caíssem na risada, exceto eu e Angeli, que revira os olhos. Robert limpa a garganta e se apruma na cadeira me fitando.
— Vamos começar com os relatórios financeiros, de fevereiro até a segunda semana de dezembro, com a senhorita Leblanc, após isso podemos falar sobre os investimentos e projeções futuras com a senhorita Angelina Dawson. Fique à vontade para começar, Désirée. — Robert diz.
— Claro. — Respondo e em seguida abro a pasta com os relatórios sob a mesa.
A reunião seguiu seu curso natural por mais de uma hora, até que finalmente terminou.
— Os números estão ótimos! E as projeções melhores ainda. — Diz um dos acionistas ao passar por mim e deixar a sala, apenas sorrio e permaneço sentada sem a coragem necessária para ficar em pé.
— Désirée, preciso enviar essas pautas por e-mail, você vai embora agora? — Angeli me pergunta levantando-se da cadeira.
— Provavelmente, preciso dormir. — Respondo, fechando a pasta sob a mesa.
— Então nos vemos amanhã, se precisar de mim é só me ligar. — Angeli diz e caminha em passos apressados para fora da sala de reuniões.
Inspiro ao me apoiar a mesa para me levantar, recolho a pasta sob a mesa e me preparo para ir embora, mas Carter, o atual CFO da empresa me obriga a mudar os meus planos.
— Senhorita Leblanc, você tem feito um ótimo trabalho. — Carter diz, segurando minha mão e depositando um beijo sob o seu dorso.
— Somente fiz o meu trabalho, Carter. — Respondo, e tento me desvencilhar do homem, que segura firme a minha mão, me olhando como se quisesse dizer mais alguma coisa.
— Como tem sido sua estadia na Escócia?
— Tem sido ótima, senhor.
— Por favor, nada de senhor! Assim você me ofende. — Carter diz, com um sorriso amarelo nos lábios.
Faço menção de puxar minha mão novamente, mas ele a segura com mais força.
— Você é uma mulher extremamente atraente, Désirée, faz jus ao significado do seu nome desejada, podíamos marcar um jantar algum dia para continuar conversando sobre o seu excelente trabalho. Se você tiver interesse em ganhar espaço nesse mundo dominado por homens, eu posso te ajudar.
Arqueio a sobrancelhas incrédula, além de velho babão é machista.
— Não preciso dormir com ninguém para obter local de destaque, senhor. — Respondo, e tento novamente puxar a minha mão.
— Não seja tola, posso te ajudar a alcançar lugares que raramente você conseguiria alcançar sozinha, basta que eu seja beneficiado também. — Carter diz e começa a subir a mão pelo meu braço, me sinto enojada, mas também exposta demais para reagir.
— Ela tem idade para ser sua filha, Carter. — Robert diz, se aproximando e lançando seu braço envolta dos ombros de Carter, que imediatamente se afasta.
Olho para Robert aliviada.
— Licença. — Digo e deixo a sala.
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JOGO PERVERSO [DEGUSTAÇÃO]
RomanceDésirée Leblanc, tem 25 anos e ao se mudar de Nice (França) para Edimburgo (Escócia) em busca de uma vida melhor conhece Robert Scott, quinze anos mais velho e acaba se apaixonando por ele. O problema não é a diferença de idade entre eles e sim a...