A elite é extremamente desocupada, isso faz com que haja alguma demora no amadurecimento e um avanço acelerado nas relações. Não que este último seja algo ruim, apesar da imaturidade prejudicar bastante, quanto mais rápido se casam, mais rápido as moças podem gerar filhos, mais rápido os rapazes largam a vida devassa e mais rápido irão se estabelecer novas famílias para manter o legado dos que, quase na mesma velocidade, morrem. Hoje em dia, seriam consideradas mortes absurdas, como resfriados e infecções pateticamente adquiridas. De qualquer forma, não nos cabe julgar a sociedade vitoriana, visto que hoje em dia, também vivemos na pressa para avançar na vida. Apenas temos motivos diferentes, talvez até piores.
Apesar de se entrosarem facilmente, os anfitriões costumam preparar as melhores dinâmicas para que seus convidados tenham algo para elogiar. Os anfitriões reais não fariam diferente, eles prepararam um baile de máscaras e havia cerveja, vinho, licor, champagne, o que fosse o desejo dos convidados para se embriagar na noite. A banda tocava polca quando as meninas adentraram juntas no salão. Girassol pavoneia numa saia azul turquesa, com um magnífico leque verde e dourado de penas de pavão autênticas. Lavanda tem escamas pintadas a mão no corpete e barbatanas de uma renda iridescente, seu traje de besta marinha estava tão atraentes quanto os mistérios mais profundos do oceano. Jasmin se vestiu com toda sua periculosidade, uma perfeita tigresa com um vestido de listras acobreadas, uma fera felina mortal, com olhos tentadores muito bem realçados por baixo da máscara. Hortênsia estava com uma capa e capuz de hortênsias coloridas, por sobre um simplório vestido branco. Algumas pessoas poderiam até pensar que é uma chemise, já que não passa de uma camada de seda. De qualquer forma, realça muito bem sua pele e a máscara de pérolas combina com seus brincos. O arco-íris de fantasias galantes era muito bonito, visto do alto do mezanino, apesar de ser um pouco desconfortável estar lá embaixo, misturadas aos convidados. Havia gente de todo tipo, o lobo e a ovelha dançavam juntos, uma pantera e uma zebra deslizam pelo salão, a cobra serpenteia ao redor de uma aranha e de alguma forma harmoniosamente divertida, uma abelha e uma borboleta faziam voos curtos da mesa de doces ao balcão de bebidas.
- Definitivamente, eu não esperava por isto.
Vanda murmurou, enquanto olhava ao seu redor, curiosa. As quatro foram uma das últimas convidadas à chegar e ainda precisavam passar pela família imperial, muito confortáveis em seu palanque, de onde poderiam assistir todos os convidados se divertirem, elogiarem e se dessem sorte, ouviriam uma reclamação ou outra e saberia quem punir. O Imperador estava vestido como um galo, com muitas plumas negras, manto floral e uma crista bem vermelha em formato de coroa. Um animal deveras português para o chefe de um país recém libertado das amarras de seus colonizadores. Poderia ser devido às raízes portuguesas das quais não abriam mão ou, meramente pelo fato de que o país é muito jovem para ter um animal como símbolo. Ao lado do imperador, com um braço em torno do seu pescoço para ser mais específica, um leão dourado (e não havia dúvida que aquela juba fosse costurada com fios de ouro de verdade). No canto do palanque, na beirada dos degraus, estavam um arlequim. Um estúpido arlequim, com uma casaca de losangos coloridos e um chapéu de guizos, conversando com um sol, cheio de raios curvos na capa e uma tiara de raios mais espinhosos na cabeça. Todas as máscaras da família britânica eram douradas, exceto pela do arlequim, que era encrustada com joias. Se não fosse a diferença de altura, seria difícil distinguir quem é quem.
- Voglio ver-me liberta dei protocolli de una vez!
Hortênsia murmurou, desviando o olhar para bailarinos circenses desfilando de macacões justos e maquiagens chamativas demais para terem qualquer traço físico revelado. Uma mentira descarada, queria chegar perto do sol, seria muito bom apresentá-lo para as meninas e retomar o clima agradável do almoço.
- Salutiamo l'Imperatore e depois possiamo pegar algo para bebere!
As três acataram a decisão e saíram de braços dados para cumprimentarem seus anfitriões. Enquanto caminhavam ao som de risadas e polka, a morena corria os olhos, escaneando cada membro mais próximo da corte, em busca do seu favorito: o Duque. Ao ver que a pequena ave mordedora não estava presente, ela praguejou num sussurro. Tarde demais, já estava perto o suficiente para que o sol pudesse responder:

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Hortênsia
Historical FictionMuitos vivem grandes histórias, mas apenas escritores podem eternizar-se nas páginas. - Manoela Aprígio. Esta história é uma pequena grande parte da minha vida. Codificada, modificada, reformada, mas ainda assim, minha. Muita coisa será da compreens...