Relâmpago

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Ray

Ray estava ofegante. Não aguentava mais correr. Estava com a cara toda arranhadapor causa dos galhos das árvores que chicoteavam seu rosto e suas pernas doíamdemais. Seu pai vinha logo atrás, também ofegante, segurando a bolsa que semprelevava junto.

- Não pare de correr, Ray, eu vou tentar segurar ele.

Ray continuou correndo, mas não ouviu mais os passos do seu pai. Parou e olhou para trás. Seu pai estava parado, com sua capa flutuando e um livro com um brilho escuro nas mãos dele. Naquele momento, o céu, que até então estava claro, ficou mais escuro do que a noite, e no céu surgiu um pontinho brilhoso, se parecendo com uma estrela cadente. Veio se aproximando a ponto de ficar do tamanho de um círculo de fogo gigantesco, queimando seus olhos. No mesmo instante um clarão tomou conta do quarto. Sua mãe tinha entrado e aberto as cortinas.

- Eu achei que, com o grande dia chegando, ao menos você tentaria acordar mais cedo, dorminhoco.

- Não enche mãe!

- Teve aquele sonho outra vez? - disse ela, fitando-o apreensiva

- Sim... - murmurou Ray, que odiava o fato de terem se passado 7 anos que seu pai tinha sumido naquele incidente, e que nunca foi achado nenhum vestígio dele.

Sua mãe ficou em silêncio. Ela não gostava de conversar sobre o assunto. Ray se levantou e deu um longo bocejo. Aquela lembrança ainda lhe perturbava, mas precisava se concentrar. Esfregou os olhos afastando aquele dia terrível da cabeça. "Não é possível que nunca vou esquecer esse dia'' pensou, dando outro longo bocejo .Ray era um garoto negro como todos no humilde vilarejo onde morava, perto da divisa com o Grande Deserto. Era o vilarejo mais afastado do castelo real, além de ser o mais humilde. Com uma cultura diferente do resto do reino, era um vilarejo que sobrevivia da forja, já que, por ser tão próximo ao deserto, todo o seu solo era ruim para plantio, sendo praticamente pura areia. Assim que tomou café, Ray foi subir em uma grande rocha ao lado oposto da vila, como de costume. Era uma rocha bem íngreme, que ele gostava de passar horas deitado. No topo, tinha a visão de todo o vilarejo. Não passava de 20 casebres pequenos. Os ecos das batidas das forjas eram bem audíveis. Como Ray era muito fraco, não conseguia se adaptar a forja. Passava grande parte do dia ajudando os idosos da vila em seus afazeres, pois, mesmo com seus recém-formados 18 anos, ainda não tinha chegado a data da apresentação real. Todo ano, no final do inverno, garotos e garotas de 18 anos deveriam se apresentar a uma avaliação no castelo real. Se atendessem as expectativas, eram destinados a alguma função específica. Se não, voltavam para suas casas.

- Tomara que achem algo para mim fazer - murmurou, pensativo - odeio essa areia. Se levantou, e viu o velho Rohn ao lado de fora de seu casebre soltando grandes arcos de fumaça com seu grande cachimbo. Todo mundo achava o velho meio gagá por causa das histórias que contava, mas todas as crianças gostavam muito dele. Desceu em um salto, e foi em direção a ele.

- Bom dia senhor Rohn - gritou Ray com a mão levantada.

- Olha se não é o pequeno Ray - exclamou Rohn, com a voz tão rouca que parecia que sua garganta estava rasgando. Rohn era um velho alto com uma longa barba branca. Negro, de olhos castanho escuro profundos, demonstrando grande sabedoria, era impossível dizer se tinha 80,100, 500 ou mil anos.

- E então garoto, pronto para o grande dia? - perguntou Rohn.

- Acho que sim - respondeu Ray - Não vejo a hora de sumir desse poço de areia.

- Você vai sentir saudades - riu Rohn, uma risada tão rouca que poderia ser confundida com uma tosse.

- Eu duvido muito sr. Rohn, ninguém gosta desse lugar de verdade, só vive aqui pois não tem outra opção - exclamou.

O Mago NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora