Capítulo 13 - Terapia

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      A gota d'água na pia do banheiro do consultório me tirava atenção de meus pensamentos intrusos. Como Cecília tinha tanto saco para me aturar assim? Respirei fundo enquanto Cecília me observava por cima de seu óculos de uma forma como se nem se importasse com o que realmente estava acontecendo ali.

    - Então? - Ela dizia com os olhos em conjunto aos meus, já havia se passado exatas meia hora e eu simplesmente não havia dito uma palavra se quer. Era como se eu simplesmente não conseguisse entender o que eu realmente precisasse ou não aceitasse o fato de precisar tanto assim de cuidados.

-Você quer saber o que aconteceu né? - As palavras saíram secas junto com um suspiro longo, é óbvio que ela iria querer saber o que estava acontecendo, mesmo que eu não conseguisse em todos esses anos dizer uma palavra sequer. -Bom, foi meu sonho, como sempre, eu estava em uma floresta, eu tenho certeza que era eu. Meu corpo inteiro estava doendo e eu corria desesperada tentando chegar em algum lugar, mesmo tendo certeza absoluta que eu não iria conseguir chegar, eu sentia, eu sabia, que tinha alguém comigo que me motivava e me trazia uma paz, algo bom, mas o misto de sentimentos e sensações me fazia querer vomitar.

- Entendo .- Mais uma vez, anotando tudo em seu caderninho do mistério.- Mas Ágatha, você não acha que está na hora de mudar o foco das nossas sessões?-Cecília me olhava e sorria de canto. - Seu sonho te causou grande trauma sim, isso é claro, mas talvez, se você conseguir definitivamente se abrir e falar sobre outras experiências por exemplo eu posso entender talvez de onde vem o causador de suas dores que todos ao seu redor diz ser psicológico.

Parei para pensar e Cecília por um lado tinha total razão, faço terapia desde meus sete anos de idade, atualmente tenho vinte e três e em todos esses anos eu nunca consegui falar sobre outro assunto sem ser meu sonho, Laís por exemplo, amava me dizer o quanto gostava de ir a terapia porque segundo ela só assim conseguiu se entender e se aceitar do jeito que é, não que ela precise, Laís é linda, é uma pessoa muito boa também, não consigo entender o que ela teve que aceitar, mas fico feliz, por outro lado, Morgana diz que quando fazia terapia ela lidou melhor com seus traumas e aprendeu a domar eles, de uma forma que eles não domavam ela, o que eu achava extremamente interessante pois Morgana já havia passado por situações muito complicadas e mesmo assim é uma pessoa que esbanja luz. Já eu, eu sempre fui assim, a amiga problemática.

-Mas, por onde eu começo?- Eu já estava tão nervosa que conseguia sentir minhas mãos soarem.

- Me fala sobre sua família. –Mais uma vez Cecília já não estava mais olhando para mim.

-Mas o que necessariamente?- Eu não sabia o que dizer, pra ser sincera eu nunca falei da minha família com absolutamente ninguém, nunca, respirei fundo tentando me lembrar de todas situações na qual tive minha família ali, presente, e infelizmente, minha memória só me trazia lembranças do quão distante eu estava de realmente ter uma ''familia'', meus pais viviam enfiados no trabalho desde que eu me entendo por gente, afeto eu tinha de minha falecida avó e de Maria, papai bem que tentava ser o máximo presente que conseguia, mesmo sendo poucas as vezes, já mamãe, nem se dava ao luxo de se esforçar, seu emprego sempre estaria ali em primeiro lugar.

- Como é sua relação com a sua família? Qual suas lembranças marcantes com eles? Podem ser boas, ou ruins, quero saber como vocês são juntos.

-Bom. -Respirei fundo mais uma vez mordendo as peles secas dos meus lábios, não sabia o motivo mas sempre que estava nervosa, era dali que eu tirava todo meu estresse. -Meu pai foi na minha festa de quinze anos, foi bom, ele chegou um pouco atrasado mas dançou a valsa comigo, minha mãe também estava lá, desde o começo eu acho... Mas o meu vestido era uma peça única que ela havia criado e bom, várias pessoas ali se interessaram pelo modelo foi onde ela criou a coleção ''Meus quinze anos'', com isso meu vestido deixou de ser único e eu deixei de ser a atração da festa. Não que eu me importasse sabe?

Em busca da minha metadeOnde histórias criam vida. Descubra agora