ㅡ Por quê?
ㅡ Porque... porque eu não mudei. Eu prometi que tudo seria diferente, que eu não cometeria os mesmos erros, que eu nunca faria isso de novo e eu estou fazendo... eu sabia que seria assim, e talvez por isso eu quisesse tanto tanto voltar, mas... mas tudo é tão diferente agora... só eu continuei o mesmo, Pat. Eu pensei que o mundo me esperaria, que... que o tempo fosse parar?! Eu não sei! Eu nem sei o que eu quero, nem sei o que pensar, o que fazer, como eu devo agir! Ao mesmo tempo que gosto, eu odeio esse lugar... eu odeio tudo, eu me odeio tanto! Eu odeio o jeito que me sinto, odeio o meu jeito de pensar, odeio ter que mentir o tempo todo, fingir ser algo que eu não sou e fingir não gostar das coisas que eu gosto, fingir não me importar com o que me machuca, fingir estar tudo bem o tempo todo quando eu 'tô no meu limite e não tem mais nada que eu possa fazer! Tudo isso porque eu fui ingênuo... eu achei que... eu achei que eles me amassem o suficiente, Pat... eles nunca amaram e mesmo assim eu tenho que continuar sendo o bobinho obediente que eles querem que eu seja se não quiser passar por tudo aquilo de novo e não é justo! Não é justo! Doeu tanto, Pat, tanto... eu odeio aquele lugar, eu odiei a minha vida lá, eu odiei tudo, e odiei tanto! Eles sabem que não vou mudar, sabem que vou decepcionar todos eles mais uma vez e sabem que eu ainda sou o mesmo, mas eles fingem que não e fingem que acreditam em mim, fingem que eu vou ser o que eles tanto esperam e isso me faz sentir uma pressão do caralho porque eles mentem e me encorajam, e eu sinto a obrigação de fazer o que eles querem, mas eu não gosto disso! Eu não gosto de ter que fingir, eu odeio mentir, você sabe! Eu odeio tudo isso... eu queria que fosse diferente... eu queria ser normal, Pat...
Era um daqueles momentos em que é impossível saber o que falar. Pat olhava para cima tentando conter o choro, mas era inútil. Mesmo que não sentisse nem metade da dor que o menino em seus braços, imaginava e finalmente conseguia entender tudo. Tinha todas as respostas das coisas que nunca soube, mas aquilo não parecia preencher o vazio em seu peito. Pelo contrário, fazia dele ainda maior. Apesar de todas as consequências, Pran ainda havia escolhido estar ali. Apesar da probabilidade de passar por todo aquele pesadelo de novo, tinha escolhido voltar e reviver tudo, mesmo que em circunstâncias diferentes. Em sua mente, podia ver claramente as lacunas serem preenchidas e todas as peças se encaixarem. Não estava ali por estar, não foi fácil voltar, e não tinha sido uma decisão pacífica, muito menos unânime. Aquilo o confundia ainda mais, já que ao mesmo tempo que tinha uma pontada de esperança, se sentia o maior culpado de tudo aquilo.
Mas não podia dar ouvidos a seus pensamentos, não em um momento como aquele. Deveria olhar nos olhos perdidos abaixo de si e lhes trazer a realidade que até então, só Pat de fato conhecia. E assim o fez, segurando com delicadeza o rosto do mais novo ao se sentar ao seu lado.
ㅡ Posso ser cem por cento sincero com você? Promete tentar não se esquecer disso?
Pran assentiu, mesmo que não ousasse olhar em seus olhos.
ㅡ Pode ser que o mundo lá fora tenha mudado... mas esse lugar não. As nossas fotos, nossas roupas, seus presentes... estão todos aqui, no mesmo lugar que estavam quando você saiu. Não porque não tive coragem de jogar fora ou guardá-los. Simplesmente porque eu sabia que aquilo não acabaria daquele jeito. Tiveram dias em que eu pensei em desistir de te esperar. Tiveram dias em que gritaram comigo e jogaram na minha cara coisas que eu pensei que nunca fosse ouvir... e tiveram dias que eu quis ir correndo até você, mesmo que eu não tivesse a menor ideia de onde você estava. Tiveram dias em que eu chorei abraçando o seu travesseiro e tiveram dias que eu não queria ouvir seu nome. Mas de um jeito ou de outro, nos dias bons ou ruins, a única coisa que eu pensava quando abria essa porta era em te ver em algum canto desse quarto, sorrindo para mim enquanto vinha me abraçar. No dia em que você realmente apareceu... eu não acreditei. Pensei que estivesse sonhando, delirando, qualquer coisa, menos que você tinha voltado... Mas desde que você foi embora, eu nunca fui tão feliz como naquele dia. Se lembra de quando eu te pedi em namoro? Eu ainda não consigo me sentar na mesa onde nós comemos aquele dia. Sabe por que não uso a aliança? Porque eu ainda choro toda vez que a vejo. Porque eu me perguntava se você ainda tinha a sua, e quando eu me convencia de que não, eu chorava ainda mais. Então tiraram ela de mim e esconderam em algum canto que até hoje não encontrei, mas... mas eu ainda a tenho. E eu ainda...
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Beliche de Cima
FanfictionDepois de um término doloroso, eles são obrigados a se tornarem colegas de quarto novamente. Acontece que Pat ainda quer provar que estão destinados a se amarem, mas Pran precisa se certificar de não voltar atrás em suas palavras.