14 - Clichê

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Napat só o colocou no chão quando estavam dentro do apartamento, que agora podiam voltar a chamar de casa. Pran o admirava com um sorriso largo e olhos brilhantes, ainda sem acreditar que podia o fazer sem que parecesse um crime. O mundo de Pat parecia girar em câmera lenta para que pudesse apreciar aquele momento como ele exigia. Ambos queriam chorar mais uma vez, mas sabiam que não era mais necessário. Que agora, viveriam em paz e em união, como deveria ter sido desde o princípio. Pat levou suas mãos grandes e macias ao rosto pequeno de Pran, que não pensou antes de erguer os pés e juntar seus lábios de forma calma e intensa, como se fosse uma urgência.

A sensação de calmaria e familiaridade superava a surpresa do ato e dava harmoniosidade ao beijo que foi recebido sem hesitação pelo mais velho, como se tivesse prevido a cena em seus sonhos, ou como se ainda sonhasse. Não que não parecesse real, pelo contrário. Era a única coisa que tinha certeza nessa vida, e a mais intensa que tinha sentido em seus vinte e um anos. Seus lábios se encaixavam de um jeito que não faziam com nenhum outro e sabiam disso. Não demorou para que Pat relembrasse a sensação de envolver ambos os braços ao redor da cintura de Pran, e o mais novo envolvesse da mesma forma o pescoço alheio, acabando com o espaço entre seus corpos. Assim, começaram a caminhar de forma desgovernada pelo quarto até que Pran deixasse seu corpo cair sobre o pequeno sofá. Mais uma vez, a sensação de deja vu bastou para que o corpo inteiro do mais novo se arrepiasse, fazendo ambos sorrirem. Foi nesse único instante onde seus lábios se separaram que Pat retomou a consciência, abrindo os olhos ao sussurrar:

ㅡ Você não muda nunca...

ㅡ Pat~

Resmungou, abrindo um sorriso.

ㅡ Hm?~

ㅡ Quantas vezes vou ter que ferir meu orgulho por você?

Falava num tom manhoso.

ㅡ Eu não quero te perder de novo, Pran...

ㅡ Não fala isso... não pensa nisso.

O mais jovem sussurrou enquanto invertia as posições, fazendo com que Pat se sentasse sobre o acolchoado, para que pudesse se sentar em seu colo. Com os olhos entreabertos e respiração ofegante, fez um pedido:

ㅡ Não pensa em mais nada.

Soprou num tom suave ao pé de seu ouvido, onde iniciou uma longa trilha de beijos que quanto mais aconteciam, mais intensos se tornavam. Foi assim que sem que percebesse, Pat ficou totalmente entregue. Nu de corpo e alma, seus sentimentos eram finalmente expressos em forma de gemidos sôfregos e arrastados, sinceros e demorados, constantes e desesperados. Enquanto sentia os lábios quentes e molhados o envolvia, se agarrava aos fios negros com uma precisão dolorida, por mais que tentasse evitar. Não era só com o prazer que lidava, era com as borboletas em seu estômago e com o coração acelerado por estar de volta ali com o homem que amava, e nada além disso importava. Atendia perfeitamente o pedido de Pran ao manter sua mente vazia, porque nem se quisesse conseguiria pensar em qualquer coisa, mas existia algo mais urgente naquele momento. Deitou Parakul sobre o sofá, surpreendendo o mais novo pela agilidade, fazendo com que novamente sorrissem. Não demorou para que Pran sentisse seu corpo esquentar como se abaixo de si fosse água fervendo.

As mãos largas e pesadas de Pat redescobrindo cada canto de si não ajudava a amenizar a situação. Quando seus lábios não se tocavam, precisava encontrar maneiras de abafar os gemidos e encontrava soluções no corpo de Pat. Não conseguia se manter parado por um segundo sequer, queria e precisava daquele homem, precisava de seus toques e precisava tocá-lo. Napat não era só o dono das melhores sensações que já sentiu. Era a pessoa que amava. O homem mais lindo que já tinha visto, e essa certeza só se reforçava a cada vez que olhava para baixo e via em suas costas definidas seu corpo arrepiado, mesmo que já não recebesse estímulo algum. Acontece que para Pat, nada lhe proporcionava prazer maior do que os sons manhosos e constantes que Pran emitia, e tem sido assim desde sempre. Seu único e maior foco era lhe dar prazer. Ambos sabiam muito bem disso, mas sabiam principalmente que não queriam que aquilo acabasse tão cedo. Pran segurou seu rosto antes que ele chegasse até sua intimidade pela trilha de beijos que traçava e olhou em seus olhos por breves segundos, mas fez com que parecessem longos minutos. Através de seus reflexos, enxergavam suas almas e seus mais sinceros sentimentos, pensamentos. Pat sabia o que Pran queria e vice versa. Não poderiam ter mais certeza, não poderiam ter mais amor envolto em tanto desejo. Ofegantes e necessitados, assim se beijaram da forma mais intensa que qualquer um pode imaginar, de um jeito que nem eles mesmos acreditavam ser possível. Tamanho esforço faziam para que aquilo não tivesse fim.

Assim passaram metade daquela noite. Na outra metade abraçaram seus corpos nus e desarmados, completamente inofensivos e idefesos, e contemplaram sobre a intensidade de seus sentimentos, finalmente com sinceridade. Com a cabeça sobre o peito do mais velho, Pran desenhava com a ponta do dedo enquanto sentia o carinho alheio em seus fios, da mesma forma que fazia um ano atrás. Não pensavam em mais nada além de como haviam esperado por aquele momento, e agora que ele finalmente havia chegado, era ainda mais surreal. Pran levantou o olhar brevemente, apenas para ter certeza.

ㅡ O que foi?

Napat perguntou baixo, num tom doce.

ㅡ Você não vai sumir quando eu acordar, vai?

ㅡ Nem se você quisesse...

Riram juntos.

ㅡ Meu lugar é aqui... ou onde você estiver. Não ligo... só sei que é do seu lado.

Pran sorriu, se perguntando o que havia feito para merecer algo tão bom.

ㅡ Obrigado.

ㅡ Você não tem que agradecer.

ㅡ Nenhuma outra pessoa no mundo faria o que você fez por mim. Nenhuma me amaria assim... você foi muito mais forte do que eu pensei que era.

ㅡ Mesmo tendo chorado todos os dias e ter começado a beber feito um maluco?

ㅡ Mesmo assim. Eu também me perdi... Sabe... quando eu via casais da nossa idade pensando que seriam para sempre, eu achava burrice... hoje eu percebo que não importa se daqui a dez anos vamos estar juntos ou não... eu só quero viver meu agora com você.

ㅡ Pran... eu preciso te pedir em namoro de novo?

ㅡ Não... só encontre sua aliança para eu poder usar a minha.

ㅡ Você sabe onde ela está?!

ㅡ Claro que sei... eu sabia que a usaria de novo.

ㅡ Você planejou tudo isso, não foi?

ㅡ Você me conhece...

E finalmente, depois de tanta espera, Pat foi capaz de fazer o que mais sentiu falta. Dormiu sentindo seu cheiro, com os fios castanhos emaranhados em seus dedos. Pran, finalmente dormiu em paz, escondendo o rosto em seu peito, envolvendo seu tronco como se não fosse soltá-lo nunca mais.

E foi perfeito. Como nos velhos tempos. Como se os últimos trezentos e sessenta e cinco dias não tivessem passado de um longo pesadelo. Então amanheceu, e por ironia do destino, Pat foi o primeiro a despertar. Não precisou abrir os olhos para se admirar com a cena e sorrir; bastou sentir o calor do corpo alheio junto ao seu. Então o abraçou com ainda mais firmeza, para ter certeza de que não iria escapar. Deixou um selar sobre os fios alheios e suspirou, agradecendo mentalmente a todos os seres e deuses que o tinham trazido de volta ao lar. De volta ao seu abraço.

O tempo passou, mas nada mudou.

Beliche de CimaOnde histórias criam vida. Descubra agora