O2 - Surpresa(s)

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Espreguiçou, rolou para um lado, abriu os braços, rodou para o outro, chutou o cobertor, resmungou e espreguiçou outra vez. Essa era a parte mais consistente e importante de toda sua rotina matinal. Os motivos para não sair da cama formavam uma lista imensa e Pat a repetia em sua mente como se relembrasse a si mesmo que não valia a pena. Para começar, era segunda feira. Todas as aulas seriam chatas e inúteis, e para variar, o almoço nunca é gostoso nas segundas, mas consegue ser pior ainda quando todos seus amigos estão de ressaca. Não precisava de mais do que isso. Na verdade, nunca precisou de motivos concretos, simplesmente faltava quando tinha vontade. Vontade essa que vinha de 3 a 4 vezes na semana. Mas enquanto passasse nas provas semestrais, não se importaria nem um pouco com isso.

Franziu as sobrancelhas ao se lembrar do sonho da noite passada. Odiava como ainda sentia falta do ex namorado. Já era hora de ter superado, mas sua mente insistia em trazê-lo de volta. Era quase parte do cotidiano, sonhar com ele toda semana. Tirou o celular do bolso e enviou, mais uma vez, a mensagem que o grupo de amigos já havia se acostumado a receber:

Sonhei com ele.
Dessa vez foi tão real :(
Senti o cheiro dele, era igualzinho.

Complementou.

Com isso, estava decidido. Não levantaria da cama para absolutamente nada, apenas sofreria mais um pouco a perda repentina de seu grande primeiro amor. Ao menos, assim teria feito se não fosse por ruídos irritantes e constantes vindo da cozinha.

Sabia que não poderia ser o vento, já que sempre mantia as janelas fechadas por odiar o frio do quarto quando retornava na madrugada. Também cogitou a possibilidade de serem baratas, mas para o barulho que ouvia, seria necessário uma família delas. Então ficou dividido entre um intruso e ratos - não seria a primeira vez que aconteceria - então pulou da cama rapidamente, levando consigo uma vassoura perdida pelo caminho. Caminhou em passos lentos até o pequeno cômodo, colando o corpo na parede à medida que se aproximava da porta, mantendo o cabo de madeira sobre os ombros. Fechou os olhos e respirou fundo.

Um, dois, três!

Atravessou a porta da cozinha como um canhão, mas congelou antes de causar qualquer estrago. Não era um rato, nem um ladrão, não... era muito mais improvável e assustador, na verdade. Mais surpreendente do que uma família de Ratatouilles ou um bandido. Era alguém que de maneira alguma deveria estar ali. Sua única reação física visível foi engolir seco enquanto por dentro, seu corpo entrava em pane. Caos, perda total. Seu coração parou por um milésimo antes de bater forte, alto e rápido como provavelmente nunca tinha batido antes. Pat achava que se não encontrasse uma maneira de acalmá-lo, infartaria ali mesmo. Mas pior do que aquilo era a confusão em sua mente. Se questionava desde a própria existência até os pequenos flashes de memória do que acreditava ter sido apenas um sonho na noite passada. Tinha tantas perguntas que não conseguia formular nenhuma por completo. Suas mãos suavam e tremiam, e apesar de ser completamente perceptível pela forma que a vassoura balançava acima de sua cabeça, insistiu em mantê-la ali enquanto buscava no fundo de seu subconsciente uma explicação plausível para tudo aquilo.


ㅡ É você! Haha! Que susto!

Quebrou o silêncio mais longo e constrangedor de toda sua vida, forçando um sorriso enquanto observava seus arredores, buscando evitar o olhar fuzilante que recebia desde o momento em que chegou ali.

ㅡ Achei que pudessem ser ratos porque ultimamente ouvi alguns boatos de que há uma família vivendo por aqui então pensei "poxa, se o Pran acordar da primeira noite de volta e der de cara com isso o que ele vai pensar?!" certamente você ficaria decepcionado afinal não é todo dia que ratos visitam nossa casa, então peguei a vassoura e vim correndo mas claramente você não estava dormindo e não tinham ratos então não pense que eu não sabia que você estava aqui afinal eu te vi ontem e definitivamente aquilo não era um delírio de bêbado então não pense que eu pensei que fosse. Porque certamente não é.

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