Como se as características que construíram um dos homens mais perfeitos de toda a história da humanidade não fossem suficientes, Pran tinha uma reputação estranhamente boa se levarmos em conta suas habilidades sociais, que na época eram quase escassas. Onde quer que fôssemos, por onde ele passava, havia euforia, sussurros e risadas nada discretas.
Não sei ao certo se era pelo ar misterioso, pela timidez que o obrigava a ser extremamente gentil com tudo e todos ou se, assim como eu, o encantamento era causado pelas covinhas. Haviam vários motivos, na verdade, e talvez eu soubesse exatamente quais eram cada um deles, e por isso era seu maior fã.
Mas era curiosa a forma como ele rejeitava cada um, fosse homem, mulher, ambos ou nenhum, independente da beleza, inteligência, riqueza, ou qualquer outra característica que geralmente atrai alguém. Quando os rejeitava, Pran lhes dava o sorriso mais adorável do mundo, e é óbvio que isso só os incentivava a continuar insistindo. Mas Pran nunca deu bola. Sempre teve o dom de ignorá-los, e por algum motivo, isso me alegrava. A cada fora, um novo motivo para sorrir, e quando ele me perguntava qual a graça, dizia que não sabia.
A quem eu quero enganar? É claro que eu sabia. Sempre soube.
Desde o momento em que o vi, desde a primeira conversa, desde a primeira vez que almoçamos juntos. Sabia que qualquer um se apaixonaria por ele, incluindo eu. E não demorou para que acontecesse. Quanto mais tempo passávamos juntos, mais eu tinha certeza de que o faria ser meu.
Quando finalmente tomei coragem, era início do ano, festa de boas vindas. Nos apresentaríamos junto a outras bandas, cantando uma das músicas que ele havia escrito. Logo teria que dividir sua atenção com seus fãs, então precisava ser ágil e aproveitar ao máximo.
Ele estava lindo. Vestia um moletom beige, no qual se encolhia todas as vezes que um vento frio batia. Queria poder envolvê-lo em meus braços e apertá-lo forte até nossos corpos começarem a soar, mas estava muito nervoso para isso.
Com a desculpa esfarrapada de que estava nervoso para subir ao palco, o arrastei para longe da multidão, até a grande árvore onde costumávamos nos sentar durante os intervalos. Pran, deitado em meu colo, se esforçava para ver as estrelas entre os galhos amontoados acima de nós, enquanto eu me ocupava fazendo pequenas tranças em seus fios.
ㅡ Você não está nervoso?
ㅡ Não... não estamos competindo dessa vez. Por que você está?
ㅡ Não sei...
O silêncio nunca era motivo de constrangimento entre nós, mas naquela noite, eu senti que, se mais um segundo se passasse, eu não teria mais coragem.
ㅡ Você não acha engraçado?
ㅡ O quê?
ㅡ Cantamos músicas de amor e... nunca nos apaixonamos.
Ele riu fraco, levando o olhar até mim.
ㅡ Quem disse? Eu tive um amor no primário.
ㅡ Ela quebrou seu coraçãozinho, por isso não se apaixonou de novo?
ㅡ Como sabe?
Ele resmungou, cruzando os braços, voltando o olhar ao aglomerado pouco a frente de nós, enquanto eu não conseguia tirar os olhos de seu rosto. Ainda me lembro de pensar com essas exatas palavras, que se ele não fosse tão perfeito, eu não teria tanto medo de ser rejeitado.
ㅡ Não acha chato?... todo mundo tem alguém, menos a gente.
ㅡ Nós só temos dezessete anos. E isso... nem é tão importante assim.
ㅡ Você não se sente mal?
ㅡ Um pouco. - ele deu de ombros. ㅡ Mas nós temos um ao outro.
ㅡ Sabe o que eu acho?
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Beliche de Cima
FanficDepois de um término doloroso, eles são obrigados a se tornarem colegas de quarto novamente. Acontece que Pat ainda quer provar que estão destinados a se amarem, mas Pran precisa se certificar de não voltar atrás em suas palavras.