Do dia da aposta em diante, inconscientemente começamos a planejar uma vida inteira juntos, e graças à vontade de amar, realizamos boa parte das nossas metas na época. Entre elas, estava ingressar na mesma faculdade. O universo, de brinde, fez com que nos tornássemos colegas de quarto. E eu o agradeci por isso todos os dias desde então, porque só imaginar Pran vivendo de forma tão íntima com um homem que não seja eu me dá arrepios. Me sentia o homem mais sortudo do mundo, e definitivamente era o mais feliz. Ainda me lembro de como era chegar em casa e ver seus olhinhos brilhando, seu sorriso largo ansiando para me contar tudo o que havia aprendido, por mais pequeno que fosse. De como era aconchegante me sentar na escrivaninha e sentir seus braços me esquentarem, seus lábios me acalmarem. De como não tinha preocupações e de como tinha a certeza absoluta de que queria aquilo para a vida toda. Estava decidido.
Em junho, finalmente tomei coragem.
Cansado de fingir ao mundo e a ele que não estava apaixonado, escolhi abrir mão do meu espírito competitivo e perder a maldita aposta. Comprei flores e tudo o que ele mais gostava. Graças ao bloco de notas onde anotava fatos aleatórios que diariamente percebia sobre ele, comprei um buquê de suas flores favoritas, tulipas.
Me lembro de que naquele dia, inventei uma desculpa esfarrapada e faltei à última aula. Até então era raro que eu faltasse. Era apaixonado pelo meu curso e pelo garoto do prédio ao lado, não me faltavam motivos para ir. Dividi o espaço da pequena mesa de vidro da sala entre pequenas velas aromáticas em formato de coração, um de seus desejos remotos. Me lembro de como seus olhos brilharam quando as viram na vitrine de uma loja a caminho de uma das inúmeras comemorações do nosso time, que cá entre nós, era o melhor no colégio e era o da faculdade também. Até nós dois sairmos. Eu, por saudade dele.
"Pat, seu mundo gira em torno desse homem?!"
...Sim?
De qualquer forma.
Queria que tudo aquilo fosse memorável para ele. Éramos inexperientes, e isso era bem nítido no esforço exagerado que eu tinha colocado em um pedido de namoro. Não, até hoje não sei ser romântico. Não sabia o que estava fazendo e não sabia se tudo aquilo era realmente apropriado para a situação em que nos encontrávamos, mas... era ele quem era fissurado por filmes românticos, eu sempre passei meu tempo jogando, Pran com certeza saberia o que fazer em momentos como este, mas é claro que ele jamais perderia uma aposta comigo então só restava que eu, meu coraçãozinho feliz e meu cérebro pequeno reunissem todo o meu conhecimento, que partia dos seguintes princípios:
Pedir em público? Jamais. Além de levar um pé na bunda, ele provavelmente jogaria todos os meus pertences pela janela pela vergonha que eu o faria passar. Pedir de forma espontânea, como se não fosse nada? Nunca. Minha dicção é péssima, eu iria me embolar, ele ia começar a rir, e eu iria chorar. Lá era seguro. Eu tinha meu texto decorado, e se na pior das hipóteses desse errado, poderíamos rir daquilo depois de um tempo. Nada podia dar errado. Era só isso que eu esperava. Mas é da vida de Pat Napat que estamos falando.
Por cerca de trinta minutos, do lado de fora da faculdade, esperava que ele atravessasse o portão como todos os seus colegas faziam. O tempo passava, o lugar esvaziava, ligava e mandava mensagens, mas nada. Minha salvação naquele dia, para variar, foi Chimon.
ㅡ Você viu o Pran? Vim buscar ele, mas-
ㅡ Ele saiu já tem uma meia hora... disse que ia mais cedo porque tinha algo para fazer. Não lembro bem o qu-
Bastava. Corri de volta para o carro e
acho que nunca dirigi tão rápido em toda minha vida. Procurava com meus olhos de míope um baixinho com uma mochila de ombro, debaixo de toda árvore e em toda esquina, mas foi inútil. Ocupei no mínimo três vagas pelo jeito que estacionei o carro, e apertei o botão daquele elevador velho umas setenta e sete vezes em puro desespero. Corri pelo corredor vazio, sem tempo para sequer rezar e pedir que ele não estivesse lá, mas como você já deve ter percebido, a minha vida é uma caixinha de surpresas geralmente catastróficas, e essa não foi diferente.Quando abri a porta, me deparei com Pran imóvel, lendo a carta escrita em papel pardo, que acompanhava o buquê de tulipas brancas e lilás. Quando terminou, seus olhos vieram em minha direção. Nos encaramos até inconsciente e simultaneamente cairmos na risada.
Apesar de decepcionado, não podia negar que a situação era totalmente hilária. Queria um lugar para enfiar minha cabeça? Sim. Tinha uma forma melhor daquilo ter acontecido? Não. Então eu ria, gargalhava, me jogava na porta e bagunçava meus fios enquanto ele intercalava os olhos marejados de tanta risada entre meu rosto corado e o cômodo decorado sem entender absolutamente nada. Quando, finalmente, conseguimos nos controlar e então respirar, nos encaramos como se procurássemos respostas. Ele, de braços cruzados e um sorriso incrédulo, eu coçando a nuca, com o rabo entre as pernas.
Pran balançou a cabeça como se indagasse, e eu neguei, deixando claro que tinha perdido a coragem. Vi ele se aproximar devagar, trazendo consigo a carta. Parou em minha frente, me encarando com os olhinhos brilhantes que só ele tem, e perguntou baixinho, num tom convencido:
ㅡ Então quer dizer que você quer namorar comigo?...
Desviei o olhar por um instante, buscando trazer de volta a confiança com a qual saí dali, e obviamente falhei.
ㅡ É!... é isso mesmo...!
ㅡ Ah... então, vai me pedir, ou não?
Ele deu mais um passo adiante, quase acabando com o espaço entre nossos corpos. Podia jurar que meu coração não se lembrava da ordem das batidas.
ㅡ Você já viu tudo... qual é a graça agora?
ㅡ Toda. - ele respondeu prontamente, envolvendo meu pescoço com ambos seus braços. ㅡ Vai, eu quero ouvir!~
ㅡ Pran! É vergonhoso... - resmunguei, tombando a cabeça para trás. ㅡ Eu... espera, eu decorei o que eu tinha que dizer. - O vi segurar a risada ao pressionar os lábios um contra o outro e segurei minha vontade de rir também. Pigarreei, e comecei:
ㅡ Você deve saber que... desde aquele dia- não, na verdade, muito antes daquele dia em que fiz aquela proposta idiota, eu... eu tinha... sentimentos por você. Ninguém propõe uma coisas daquela, a não ser que... né?! Que maluquice. Então, você... naquele dia, você me disse que- não, Pran, não dá!
ㅡ Você está indo bem! Vamos, eu quero ouvir o que você tem para dizer~
ㅡ Mas é-
ㅡ Continua... - sua voz calma soou como o incentivo mais encorajador que já tinha ouvido em minha vida. Seu sorriso fechado me fazia querer acreditar que ele não mentia.
ㅡ Tá... você me disse que quem se apaixonasse primeiro perderia, mas... eu acho que você não sabia, quando disse aquilo, que eu já tinha perdido à muito tempo... e quando- não, não vou falar isso.
ㅡ Pat!!!
ㅡ Tá! Olha, é, eu perdi. Perdi feio, perdi para caralho, e você já deve ter descoberto isso à muito tempo, mas... já que você não vai aceitar que perdeu primeiro... vamos acabar com essa aposta logo, porquê eu não consigo mais, fingir que não gosto de você, então...você quer namorar comigo?
ㅡ Ainda bem que você perdeu... não aguentava mais fingir que não sou seu.
E ele me deu o abraço mais demorado e reconfortante de toda a minha vida. Ali, senti todo o peso que carreguei comigo durante todo esse tempo finalmente ir embora, me deixando ser livre para amá-lo na intensidade que eu sempre quis. Sem medo, sem receio, sem limites. E assim foram os nossos dias. O nosso amor.
Isso durou, mais ou menos... cento e sessenta e quatro dias. Começamos e acabamos em uma sexta feira. Era por volta das dez da noite quando ele atravessou a porta em prantos, correndo em direção aos seus pertences e juntando-os em uma mala.
Ainda me lembro perfeitamente.
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EU NAO AGUENTO MAIS ESCREVER EM PRIMEIRA PESSOA QUERO GRITAR
esse é o penúltimo, não desistam
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Beliche de Cima
FanficDepois de um término doloroso, eles são obrigados a se tornarem colegas de quarto novamente. Acontece que Pat ainda quer provar que estão destinados a se amarem, mas Pran precisa se certificar de não voltar atrás em suas palavras.