CAPÍTULO 3

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Itália, Palermo

O grupo de órfãos combinava com o campo aberto diante deles: desolado, açoitado pelo frio e acinzentado.

Henrico Fontana era um homem grande, de pele e olhos escuros. Sua barba era salpicada por fios prateados que também se multiplicavam em seus cabelos densos. Mas apesar de intimidador, ele tinha um olhar dócil e uma voz amável:

— Bom, senhores, como vocês falharam na prova de combate corpo a corpo, essa é sua última oportunidade de provar o seu valor para a organização... — Ele disse enquanto uma sombra de pena e misericórdia cobria seu olhar.

Thiago se encolheu e olhou os outros ao seu lado, pelo menos seis outros órfãos que tinham fracassado como ele. Isso era terrível.

Um dos garotos levantou a mão, meio trêmula por causa do frio, e Henrico concedeu-lhe a fala.

— Senhor... O que acontece se não... Conseguirmos passar nessa prova de fogo? — O garoto perguntou com o sotaque acentuado italiano, esforçando-se para seguir a regra de se comunicar na língua de Cicék quando se dirigisse aos superiores.

Henrico suspirou pesadamente e enfiou as mãos nos bolsos.

— Bom, nesse caso... Eu tenho certeza que as madres do orfanato vão achar uma boa função pra vocês. — Ele puxou o lábio tensamente. — Se insistirem em fazer parte da Ordem, pode ser que consigam algum trabalho como Classe E...

Alguns garotos recuaram e o que havia perguntado ficou mais pálido do que já era. Isso seria a pior punição que podiam receber. Depois de passarem os catorze anos da vida deles, desde seus trágicos nascimentos até ali, sendo treinados para serem armas para a Ordem, acabarem sendo relegados a empregados no orfanato ou entregadores de informação nas ruas de Cicék ou Palermo era o cúmulo do desgosto.

Thiago respirou fundo, bem devagar, e prendeu seu olhar nos alvos alinhados no horizonte. Exercitando sua calma mesmo diante da situação de extremo pavor como aquela. Henrico estalou a língua tentando acalmá-los:

— Vejam bem, crianças, vocês são jovens. A Ordem não vai prendê-los à instituição. Se vocês quiserem tentar trabalhar por um tempo, só pra juntar um dinheiro, e depois seguir a vida, talvez estudar... — Ele disse com um pouco de esperança. — Não tem nada que a Ordem faça para impedi-los.

Aquilo parecia uma ofensa pior ainda. Alguns garotos abaixaram a cabeça e um deles chutou o chão xingando baixinho em italiano.

A Ordem era a família deles. Servir à ela era a única coisa que eles conheciam. Sair e tentar seguir uma vida como um civil era um disparate. Era admitir ser um fracasso e um ingrato.

Thiago não se moveu, os olhos sonolentos permaneciam fixos nos alvos e nos arredores deles.

Henrico suspirou pesadamente e olhou para cima, fechando os olhos devagar. Depois soprou o ar firmemente em uma bufada e foi até a bancada de caixotes, que ladeava uma sequência de retângulos escuros no chão, como pequenos tatames.

Diante de cada um deles, um rifle AW .308 de alta qualidade apoiado por bipé, esperava que cada um dos seus atiradores se posicionasse. Henrico fez um sinal para o horizonte de 250 metros além e suspirou.

— Para estar aqui, os senhores passaram nas provas de tiro básico, e se não conseguiram passar nas de combate corpo a corpo, podem provar seu valor em tiros de precisão. — Ele disse e apontou para os alvos circulares: — Aqueles alvos são seus respectivos objetivos. Vocês precisam acertar o centro de maior pontuação dessa distância, que é a mínima para vocês serem admitidos no treinamento de tiro de elite.

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