PRÓLOGO

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"We talk a lot about the vulnerability of the submissive. What we don't talk about as much is the vulnerability of the Dominant to the submissive" (Jay Wiseman)

"Nós falamos muito sobre a vulnerabilidade da pessoa submissa. O que nós não falamos tanto assim é sobre a vulnerabilidade da pessoa Dominante em relação à pessoa submissa." (Tradução adaptada, KDAISIES)

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Diante do absurdo, a única saída é se permitir. Decifrar a ordem que se vela e se desvela no caos, como sugeriu o poeta.

Thiago tinha duas certezas na vida. A primeira era que ele não sentia que tinha valor o suficiente para nada nem ninguém nesse mundo, e a segunda era que tudo que tinha valor para ele nesse mundo era uma mulher que jamais poderia ter.

E era por ela que estava ali.

O Drax não era tão barulhento quanto Thiago pensava que seria. Pelo contrário, a música suave e sensual que tocava causava uma sensação de imersão, induzindo a um transe tântrico. Hipnótico.

Havia algo curioso nos detalhes espalhados nas sombras do clube fetichista, algo que despertava uma pequena fagulha dentro de seu corpo lentamente, como um chamado. Seus olhos deslizaram das mesas com pessoas conversando despretensiosamente para um pequeno tumulto ao lado, onde uma mulher recebia um banho de gotas de cera vermelha.

O público discreto ao redor dela observava seus arquejos com atenção. A cada gota que caía em uma sequência obediente à batida, uma puxada de ar através dos dentes correspondente se fazia em seus lábios úmidos.

Thiago inclinou a cabeça na direção do ombro e fitou o homem que segurava a vela. Sua mão era firme e seu olhar parecia de uma concentração digna de um atirador. Thiago sorriu um pouco sentindo algo estranho, uma sensação que nunca havia experienciado antes.

Aquela satisfação nos olhos daquele homem. Aquele olhar de orgulho e felicidade plena...

Felipe tocou em seu ombro chamando sua atenção:

— Não precisa ficar se não quiser.

Thiago negou com a cabeça sem tirar os olhos da cena luminosa.

— O que é...? — Ele perguntou.

Wax play. — Felipe explicou com a voz rouca. Ele apontou para um outro ponto, onde um homem preso em uma mobília única, um grande "X" de madeira rubro, recebia açoites de um outro homem. — E aquele, impact play.

Thiago virou a cabeça com dificuldade e, ao pôr os olhos naquilo, a sensação que o corroía se intensificou como uma fogueira que recebe mais lenha. O som do flogger acertando a carne alheia o fez piscar por reflexo e abrir um pouco a boca. Essa cena era bem mais forte que a outra, e também tinha uma pequena plateia que observava tudo com atenção.

Thiago se aproximou devagar, sendo seguido por Felipe, e encarou o homem que segurava o açoite com a mesma atenção e interesse que tinha no que segurava a vela. Sim. Ali estava. Aquele mesmo olhar de satisfação, orgulho.

A cada impacto intenso das tiras, a cada grito contido do homem na mobília de tortura, o dominador pausava e espalmava a nádega torturada, aquecendo-a. Thiago sentiu um arrepio. Aquele cuidado, aquela proteção. Ele engoliu em seco ao ver o olhar de gratidão que o submisso direcionou ao seu algoz.

Dois sentimentos invadiram seu coração de forma caótica: empatia e inveja.

Felipe o observava com cautela e Thiago, ao perceber isso, corou pigarreando um pouco.

Legado INCONTROLÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora