CAPÍTULO 9

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Thiago sabia que aquele momento seria constrangedor, mas não imaginava que seria tanto assim.

Diante de si estava sua noiva, o pai dela, o irmão mais velho dela, a mãe dela (mais encolhida do que realmente presente) e... Carla. Sendo que esta não parecia nada envergonhada por estar descabelada e descalça, molhando a poltrona elegante da sala dos Vertheimer.

A morena deu um sorrisinho cínico para Fabrício, que insistia em encará-la com os olhos apertados, e estalou a língua impacientemente quebrando o silêncio constrangedor.

— É como dissemos, não tem mais nada. Eu fui atender uma ligação e me perdi no jardim. O Thiago percebeu minha ausência e me resgatou. Estivemos esperando a chuva passar no seu coreto... — Ela desviou os olhos verdes de raposa para Yara que a encarava inexpressiva — Vocês têm um belo jardim, inclusive, mas muito perigoso de se perder.

Fabrício abriu a boca, prestes a argumentar, mas Yara levantou uma mão, pálida e magra como ela. As unhas esmaltadas em um tom neutro realçavam a forma oval e inofensiva. A loira sorriu docemente para o irmão e ele se conteve.

— É compreensível. Eu soube que vocês são amigos de infância, não é, senhorita Moretti? — Yara perguntou voltando-se para Carla com os olhos azuis brilhantes.

Carla deu de ombros.

— Sim.

Yara assentiu e sorriu docemente, apertando os olhos. Ela se voltou para Thiago, que permanecia em pé, em uma postura quase militar.

— Muito obrigado por ter feito isso pela sua amiga. Só Deus sabe o que poderia acontecer com ela na chuva. Ela poderia ter se acidentado ou algo pior. — Yara piscou levemente e colocou uma mecha densa do cabelo loiro atrás da orelha, fugindo com o olhar. — É realmente encantador seu cavalheirismo.

— Seria mais encantador ainda se ele o direcionasse para sua noiva. — Fabrício resmungou.

Pietro negou com a cabeça.

— De jeito nenhum. — O mais velho disse e se levantou com dificuldade. Caminhou até Thiago e sorriu para ele dando um tapa forte em suas omoplatas. — Thiago é um órfão criado pela Ordem, ele tinha tudo para não ser um cavalheiro decente com as mulheres. Ele ser protetivo com sua amiga de infância é como um filho que quer proteger sua mãe, um sinal positivo de que será um bom marido para a Yara.

Carla arqueou uma sobrancelha. "Esse velho maldito está dizendo que o Thiago me considera mãe dele?" ela deu uma risada implosiva e disfarçou-a com uma tossida.

— Céus. Você deve estar adoecendo por conta do frio! — Yara exclamou cobrindo a boca com as duas mãos. Ela fez um sinal para sua mãe, encolhida próxima à porta. — Mamãe, por favor, peça que um criado traga os casacos deles para que possam ir. Está tarde.

Carla deu um sorriso amarelo que durou meio segundo e revirou os olhos em seguida, disfarçando ao virar o rosto. A mulher saiu. Não era surpreendente que fosse tão apagada, em um canto. A mãe de Yara era uma agregada e obviamente tinha sido selecionada segundo algum critério que os Vertheimer tinham para prosseguir na linhagem familiar.

Exatamente como aconteceu com sua avó, Raquel.

A Moretti engoliu em seco e piscou com dificuldade, balançando a cabeça para afastar o pensamento invasivo. Ela acompanhou Yara com os olhos, que tinha se levantado e se aproximado de Thiago, tocando-o com a mão singela.

— Você também deve estar com frio... — Yara murmurou olhando-o de baixo, por ser bem menor que ele. Thiago a encarou sonolento e negou com a cabeça.

— O treinamento para atirador me preparou bem para o frio. Não se preocupe, eu estou bem.

— Já sei. Deixe-me pegar uma dose de conhaque para aquecer. — Pietro disse e caminhou até à mesinha ao lado do sofá para servir uma dose da bebida ao futuro genro.

Legado INCONTROLÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora