Capítulo 20

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Rebeca

Não posso negar o tamanho da minha felicidade. Matteo está aqui de novo, e além de me ajudar comprando meus produtos, ainda está me levando de carro.

Às vezes eu chego a acreditar que há alguém lá em cima que gosta de mim.

― E então, morena, me conte algo sobre você? ― Eu já disse o quanto adoro quando ele me chama de morena?

― O que exatamente quer saber?― Não que eu esteja disposta a contar detalhes da minha vida. ― Pergunte. Se eu puder responder, eu respondo.

Ele me olha rapidamente.

― Tem algo que não pode responder? ― Muitas, meu amigo.

― Algumas ― ele para o carro no sinal e olha para mim.

― Ok, então. ― Ele faz toda uma encenação, diminui os olhos como se estivesse querendo entrar em minha intimidade, faz um bico engraçado. ― Bom, já sei que veio para Itália em busca de melhores condições de vida, mas você não me disse o que fazia no Brasil. Vendia doces lá também?

Ele volta a dirigir e eu percebo que mesmo que a via seja mais rápida e não haja trânsito, estamos devagar.

― Não. Eu aprendi a fazer doces com minha avó que era doceira e boleira. Eu somente a ajudava a enrolar, mexer, coisas simples, tanto que se eu precisar fazer algo mais elaborado, eu me perco. Então, eu a ajudava geralmente nos fins de semana quando havia mais demanda.

― Entendi. ― Ele dá uma olhada na minha bandeja com meus docinhos todos enfeitados. ― E o que você fazia lá?

― Estudava somente. Ela também me dava alguns trocados quando eu a ajudava para comprar minhas coisas, mas nem sempre. Praticamente vovó sustentava a casa, e o dinheiro era muito curto.

―E seus pais?

― Minha mãe morava lá com a gente, mas nunca tinha dinheiro. O pouco que ela conseguia era pra pagar as próprias despesas. ― E só Deus sabe que tipo trabalho ela e o tio Jamil faziam.

― E seu pai? ― Meu pai!

― Nunca o conheci. ― Eu fui o que eles chamavam de aborto mal sucedido. ― Mamãe engravidou de mim quando tinha dezesseis anos de uma loucura descuidada. ― De um gringo lindo que mal sabia falar português.

Solto um suspiro mostrando claramente que ele está entrando em terreno desagradável.

― E até aonde você foi? No sentido dos estudos. ― Ele muda de assunto, um outro que eu lamento por minhas escolhas erradas.

― Só terminei o ensino médio. ― Infelizmente. ― Concluí os estudos que antecedem a universidade.

Ele olha rapidamente para mim.

― E por que não esperou um pouquinho mais para vir para cá? Poderia ter mais oportunidades se tivesse terminado a universidade. ― Eu tenho consciência disso, como também sabia que não passaria no Enem. ― Acho que até se tivesse começado seria melhor por conta dos intercâmbios. ― confirmo. ― Por quê?

Está aí uma das coisas que eu não quero falar, tanto que eu me mantenho em silêncio, olhando a rodovia.

E ele entende.

― E o que pretendia cursar? ― Tanto dinheiro que vovô investiu.

― Engenharia Mecânica. ― Ele ergue as sobrancelhas levemente surpreso.

― Sério?!

Abro um sorriso ao pensar em meu sonho de infância, adolescência, quando vovô abria o motor de um carro e me mostrava cada peça e sua funcionalidade.

Simplesmente, minha (Traídos - Livro 1) RetirandoOnde histórias criam vida. Descubra agora