Capítulo 36

199 57 29
                                    

Rebeca.

O lugar era lindo. A casa era um sonho, mesmo que eu a tivesse visto somente por fora. A tenda armada no jardim era algo de cinema. 

Mas como tudo em minha vida, outro pesadelo.

― Pode pegar suas coisas e sumir, piranha. ― Seu ódio era palpável. Ele chegava a espumar de raiva.  ― Achava mesmo que depois do que fez comigo, ia aparecer assim, do nada e fazer de conta que nada aconteceu?

― Martinelli...

― Cale a boca! ― Minha vontade era trucidá-lo, mandá-lo ao inferno, mas com dois seguranças perto dele, qual a chance de eu sair dessa com vida?

Na verdade, eu me sentia por um fio de ser eliminada ali, e naquela imensidão de terra, eu nunca seria encontrada.

― Alberto. ― Olho para meu chefe clamando ajuda e ele somente nega, baixando a cabeça.

― Acha mesmo que um cozinheiro vai te ajudar, cadela? Suma, garota! Suma daqui e nunca mais apareça no mesmo ambiente que eu. E fique feliz porque estou somente te mandando embora. Poderia te denunciar e te deportar para o inferno que é o seu lugar.

Eu sabia. Eu sabia que sempre que coisas boas me acontecem, uma avalanche de merda vem em seguida.

Depois do fim de semana maravilhoso com Matteo naquela chácara encantadora, e ter a presença dele praticamente todos os dias em minha casa, fazendo-me surpresas até mesmo quando eu estava dormindo, Alberto me chamou para trabalhar em um almoço de noivado.

E eu estava feliz.

A noiva era Graziella, a modelo da voz chata que eu antipatizei de cara. E por causa disso, Alberto sequer me colocou para arrumar a mesa onde a comida seria servida. Eu estava confinada a cozinha externa.

Infelizmente Martinelli, aquele miserável dono do puteiro elitizado, fora convidado para a festa e não sei como, me viu. E cá estou eu - na merda.

Tiro meu avental, jogo em cima da mesa da cozinha e saio batendo a porta. Minha raiva era grande, muito grande.

Chorar eu não choraria. Não daria esse gosto para esse imbecil gordo.

Caminhei sendo acompanhada ao longe pelos seguranças como se eu fosse uma ladra, uma pessoa perigosa. Eu só pensava em "E se eu desse uma de louca e destruísse tudo? "

Tá pedindo mesmo pra morrer, né Rebeca?

E assim que eu passei pelo portão de entrada da fazenda, eu gritei.

― INFERNO. Por mais quanto tempo vou pagar pelas minhas merdas? ― A garganta queimava, não pelo grito, mas pela dor que me sufocava.

Com sapatos nada confortáveis para caminhar, eu ignorei tudo a minha volta e saí sem saber o que fazer. A van que nos trouxe só viria nos buscar no final da festa, e ficar ali era impossível. Minha esperança era chegar até a rodovia e pegar uma carona.

Por que tudo para mim tem que ser tão difícil?

E por mais que eu não quisesse chorar, minhas lágrimas caíram de contra a minha vontade. Eu precisava daquele dinheiro. Eu queria ter algo digno pra fazer. Eu queria ser alguém normal.

Será que era tão difícil?

Foi como um milagre. Uma Lamborghini amarela, encosta ao meu lado e por mais que eu tente ignorar aquela beleza, não é todo dia que isso acontece.

Até que a capota do carro retrai e eu reconheço o motorista.

― Oi, linda. ― Vai ter azar assim mesmo no quinto dos infernos. ― Tudo bem?

Simplesmente, minha (Traídos - Livro 1) RetirandoOnde histórias criam vida. Descubra agora