Capítulo 40

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Rebeca

Desde ontem, após a saída de Lucca, que eu não me mexo.

Choro. Choro porque mais uma vez fui enganada. Choro porque me deixei envolver por um homem que eu pintei de príncipe quando não passava de um canalha, de um mentiroso.

Você sabia, Rebeca. Você pediu pra viver esse conto de fadas.

Choro muito mais por isso.

Por que eu preciso ser tão burra? Já passou de inocência. Errar a primeira vez é humano, mas duas vezes na mesma coisa é burrice.  E o pior é que estou inerte sem saber o que fazer da minha vida  Sequer sei o que fazer com essa grana que Lucca deixou pra mim que por sinal, é mais do que eu consigo em um ano inteiro de trabalho.

O que eu faço da minha vida, meu Deus?

Se eu disser que não passou pela minha cabeça o suicídio, estaria mentindo. Por várias vezes eu pensei, nessas últimas horas, em acabar de vez com essa dor, esse medo, essa vida de fuga. Infelizmente, nunca fui corajosa a esse nível.

Amo viver, mesmo quando tudo parece sem saída.

Repasso cada conversa, cada momento, cada segundo ao lado dele. Ele sempre me perguntando sobre minha vida quando já sabia tudo.

Quase tudo, Rebeca. "Tudo que não tem registro" é o que ele queria saber, já que não conseguiu, mandou o irmão. Irmão?

Dói.

O peito aperta de tal forma que chega a me sufocar. Tento puxar o ar, mas ele entra entre soluços e o choro sai compulsivo.

Alguém bate a porta e eu queria ignorar. Sei que não é Matteo porque ele tem a chave da minha casa, e só então me dou conta que já amanheceu há tempo.

Meu corpo chega a reclamar ao me levantar devido ao tempo que passei na mesma posição.

― Mudou de por... Rebeca! ― Cat entra em estado de choque ao me ver, e antes de uma resposta, ela me abraça.

E Deus, como eu precisava daquele abraço.

Caio em choro compulsivo ao ser acalentada pela minha amiga.

"Seu amigo Mattia foi muito prestativo em nos contar e diferente da Lucia, ele te defendeu com unhas e dentes. Ele foi o primeiro que nos fez questionar sobre você." Eu tenho um amigo de verdade.

― O que aconteceu, minha amiga? ― Ela me afasta para me olhar. ― Você está horrível. Nunca te vi assim, tão derrotada.

Pego um copo com água tentando me acalmar. Tentando apaziguar meu coração.

― Eu preciso te contar algo, Cat. ― Enxugo minhas lágrimas enquanto ela se senta, atenta às minhas palavras. ― Eu menti pra você.

Minha amiga faz um bico de decepção, mas não fala nada.

― Se depois que eu te contar tudo, você quiser sair por aquela porta e nunca mais falar comigo, juro que vou entender. ― E com vergonha de olhar em seus olhos, viro de costas, sentando-me no chão, perdida em pensamentos. ― Eu nunca contei como eu vim parar aqui...

E começo minha história desde antes de vir para a Itália. Por diversas vezes ela se levantou e caminhou em círculo,  ou pediu uma pausa porque precisava respirar. Cat estava arrasada pela quantidade de mentiras, era nítido em seu olhar, contudo ela em nenhum momento me criticou, brigou, reclamou.

Contei a ela sobre Matteo, o meu namoro como  um suposto segurança, e mesmo com as minhas certezas sobre ele, eu preferi não entrar em detalhes até eu conversar pessoalmente com ele, se bem que nem eu sabia se eu queria isso.

Simplesmente, minha (Traídos - Livro 1) RetirandoOnde histórias criam vida. Descubra agora