Capítulo 23

191 52 34
                                    

Matteo

― Chegou cedo, meu irmão? Pensei que dormiria na fazenda hoje ― Lucca brinca assim que me vê chegando em casa. ― Você foi vê-la, não foi? E para chegar em casa tão cedo, ela ainda não cedeu.

Jogo as chaves do carro em cima da mesinha sem muita disposição.

― De quem está falando? ― Não escondo nada do meu irmão, mas honestamente não estou a fim de conversar sobre Rebeca.

― Só não é da sua noiva, aliás, ela esteve aqui te procurando. Ela saiu com mama e disse que voltaria para te dar um beijinho ― e faz bico, coisa que eu prefiro ignorar, deixando-o falando sozinho. ― Agora é sério, mano! Quando vai parar com essa brincadeira? Você está se arriscando, arriscando a vida da garota... Ei! Cadê meus doces?

Além de irônico, ficou mal-acostumado.

Ignoro mais uma vez entrando no banheiro para tomar um banho.

A água gelada da ducha deveria me relaxar, entretanto não é o que me acontece. Eu somente me apoio com as mãos e a testa na parede tentando colocar as ideias em ordem.

Eu sei que sou um homem racional, que deixei de pensar com a cabeça de baixo depois do ocorrido, buscando sempre garotas fáceis para somente minha satisfação sexual, sem qualquer compromisso, conversa, diálogo. Era só sexo tanto que nunca me dei o trabalho de perguntar o nome.

A satisfação da mulher que eu transava era praticamente dada por outra. Por isso sempre duas.

E hoje?

Claro que eu ainda quero transar com aquela morena de qualquer jeito, ainda mais agora, mas quando eu a beijei... quando eu beijei uma mulher em praça pública? Quando abracei uma mulher a ponto de não querer soltá-la? Eu tive raiva, muita quando ela me xingou, mas a forma de pedir desculpas.

O sorriso doce.

O jeito moleca de comer algo horrível com tanto prazer, e que honestamente, estava muito ruim.

O brilho nos olhos ao me ver era verdadeiro, sincero.

Eu a queria, quero. Quero sentir sua pele, quero sentir seu gosto, quero ouvir seus gemidos.

Quero levá-la ao orgasmo só para ver seu rosto rubro, seu sorriso de satisfação.

Eu brinquei com ela! Quando eu fiz isso?

"Só que eu não sou ninguém, não sou sua inimiga nem nada que possa te prejudicar em alguma coisa. Eu só gostaria que você, quando estiver comigo, seja simplesmente você, sem essa carga pesada que é seu trabalho." Já não sei mais se é burrice ou mesmo inocência.

Ela teve um ex que a machucou a ponto de ela não querer sequer citar a existência dele. Ela é sozinha no mundo e, no entanto, ela é tão cheia de vida.

Ela é pobre, mesmo assim não perde o desejo de ajudar.

Acorda, Matteo!

Não posso perder o foco da minha vida. Tenho obrigações a cumprir, mas não posso pensar em deixa-la a ponto de querer protege-la. E quando eu fiz isso sem interesse econômico?

Protegemos os empresários, investidores, políticos, magistrados em troca de benefício. Qual benefício ela pode me oferecer?

Merda!

Pior é que ela é tão simples em suas palavras por pensar que eu sou um igual que sinto que se eu contar a verdade, ela deixará de ser ela.

E eu gosto até do jeito dela quando me irrita.

Simplesmente, minha (Traídos - Livro 1) RetirandoOnde histórias criam vida. Descubra agora