Capítulo 22

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Rebeca

― Posso roubar um? ― Cat me pergunta ao levar uma das caixas de brigadeiro gourmet para o carro comigo. Consegui uma encomenda de seiscentos docinhos depois que uma brasileira que mora aqui me viu na rua vendendo e ela, que vai fazer aniversário hoje, disse que não podia ficar sem comer o melhor docinho de festas brasileiro.

Eu vibrei somente com a possibilidade de fazê-los mais conhecidos, mas ao mesmo tempo que eu desejo crescer, eu temo.

E ainda tenho Cat, essa criatura que parece uma formiga e que não para de me perturbar o juízo pedindo mais.

― Não, Cat! Eu já te dei um prato com três de cada. Nessas caixas, os doces estão contados. ― Ela revira os olhos.

― Sei que tem alguns a mais. ― Claro que tem o famoso "chorinho", afinal, sou carioca da gema. ― Você é muito idiota.

Olho para ela fingindo surpresa ao ouvi-la me chamar de idiota!

― E você vai ficar gorda, enorme, barriguda. ― Ela, do jeito espalhafatoso dela, coloca a mão no peito, exagerando nos trejeitos.

― Vaca! ― Xinga-me coisa que ignoro. ― Você é ruim, sabia? Não pode desejar algo assim para uma artista.

― Então feche a boca. Vinte docinhos enquanto me esperava terminar as coisas, isso depois de um panini, é demais até para você.

Ela faz beicinho, abrindo a porta do carro.

― Ok, você me convenceu. Mas também você não pode cozinhar essas coisas tão gostosas. Isso é uma tentação para nós, pobres mortais. ― Ainda tenta me convencer.

― Você que é uma formiga, Cat. Eu, particularmente, não comi um sequer. ― Quem cozinha sabe que depois de um tempo, você não consegue nem provar.

Eu já não aguento mais ver doce na minha frente.

― Por isso que é assim magrela.

― Eu não sou magra. ― Viro de lado. ― Olha o tamanho da minha bunda!

Minha ascendência negra está bem visível no meu popozão mesmo que minha pele seja bem mais clara e meus olhos verdes.

― Uma bunda que eu queria ter, amiga. ― Cat, mesmo sendo travesti, por ter medo de agulha, nunca fez qualquer intervenção cirúrgica em seu corpo e por isso ela malha, dando ênfase aos glúteos para ver se cresce... e nada.

E ela me xingava toda vez que chegava em casa da academia.

Penso em entrar no carro quando ele tira todas as caixas das minhas mãos e se senta no banco do carona.

― Você dirige, Rebeca. Sabe que eu dirijo por necessidade, e honestamente, você dirige melhor que eu. ― Claro que eu não penso sequer duas vezes.

Pego a chave do carro e entro do lado do motorista depois que a ajudo a se acomodar no banco do carona com algumas caixas nas mãos e outras espalhadas pelo banco traseiro.

Acelero o carro sentindo o motor. Não posso considerar um carro excepcional, mas amo estar diante do volante.

Adoro dirigir.

E como a louca que sou, sem carteira, saio em disparada pelas ruas de Palermo, sentindo o prazer que é estar guiando um carro.

― Minha nossa senhora dos gays bonZINHOSSSSSS ― Cat termina gritando assim que eu pego a avenida principal. Não passo dos limites de velocidade, mas aqui, as pistas valem a pena e eu acelero ao máximo mesmo com fluxo moderado de carros. ― AMIGAAAAA.

Simplesmente, minha (Traídos - Livro 1) RetirandoOnde histórias criam vida. Descubra agora