Capítulo 5: Memórias do passado. parte 2

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Quando voltei para a agência,meu chefe veio conversar comigo.

— Medieson, eu sei que você ... deve estar muito abalada com essa situação, mas eu queria que... amanhã no dia do enterro e condecoração da Srta. Carlye Ambar, você falasse algumas palavras de como ela defendeu aquela comunidade daqueles criminosos.

— Senhor quero que me perdoe, mas não poderei fazer isso.

— Mas por que não?

— Por que, se eu dissesse que ela morreu com honra, eu estaria mentindo. Ela foi quem começou toda essa confusão.

— Você quem sabe, mas espero que saiba o  que haverá consequência. – disse ele saindo da minha sala,e me deixando sozinha com meus pensamentos.

[...]

E aqui estou eu, sendo obrigada a ouvir um discurso falando sobre a honra de uma policial que nunca honrou seu distintivo, que nunca defendeu quem deveria. Mas mesmo assim o departamento inteiro não se importou com o que ela fez, não deu a mínima para a família do garoto, e decidiram dizer que ele foi vítima de bala perdida. E que ela acabou morrendo com um tiroteio. Eu não consigo me conformar,como podem fazer isso com aquela mãe, o filho dela foi morto como um criminoso e ninguém deu nem se quer uma palavra de conforto para ela...

Saio dos meus pensamentos quando escuto vozes. Corro para o lado de fora e encontro uma pequena multidão,na base de umas cem pessoas, com cartazes nas mãos, e uma garota com um alto-falante. Eles estão marchando na nossa direção. Quando o grupo chega mais perto percebo o que tem escrito nos cartazes " Não foi uma bala perdida " ," Não ouve tiroteio " ," Alec morreu injustamente ", " Todo negro é criminoso?". Era o que tinha nos cartazes, quando chegaram mais perto, todos da multidão se calaram.

A garota com o alto-falantes sobe em cima do carro, quando a vejo mais de perto, a reconheço, ela é a namorada do Alec. Ela bota o alto-falantes na frente da boca e começa a falar.

— Eu quero a atenção de todos – diz ela e vejo, as pessoas que estavam assistindo o discurso saindo para ver o que estava acontecendo.

— O Alec era meu namorado e melhor amigo, ele sempre esteve lá quando eu precisava, mas hoje não posso mais sentir seu abraço, seu carinho, e nem suas palavras de conforto. O Alec sempre teve medo de polícias, porque o pai dele foi morto por um policial  injustamente, simplesmente por estar andando perto da cena do crime e por último e não menos importante por ser negro. O Alec me disse que ele tinha medo, de acabar morrendo como o pai, porque se um policial o encontrasse perto de qualquer cena de crime, diriam que ele era culpado,sem pensar duas vezes. Eu nunca acreditei nele, porque eu confiava nos polícias, acreditava que eles estavam lá para nos proteger...– ela faz uma pausa respirando  fundo E volta a falar com lágrimas nos olhos e voz embargada – mas eu estava enganada, ele sempre esteve certo. –Sorrindo sarcasticamente  em meio a dor ela continuou  —Por que na primeira oportunidade uma policial, branca, loira de olhos verdes o matou sem dó ou piedade, o meu Alec   um rapaz negro de apenas 20 anos cursando Direito... nem ao menos o nome dele ela sabia, mas o matou, só por ele pegar duas rosas – ela mostrou as rosas pra  todos poderem ver  . — Mas mesmo ela tendo tirado uma vida,a alegria e a paz de uma comunidade, ela está recebendo uma condecoração, e estão fazendo um discurso de honra em sua homenagem, mesmo ela não tendo honra alguma.  Mas alguém  está interessado  em saber o que aconteceu  com  um rapaz negro  e pobre?   Nós estamos,  ontem  foi o Alec amanhã pode ser um de nós  e Vocês  não vão nos calar até que haja justiça. 
Olhando para todos que estavam vestindo  uma camisa com a foto de  Alec ela começou  a gritar.

— O que nós queremos?. Perguntou  ela 

— JUSTIÇA — eles respondem  batendo no peito .

—O que nos queremos  ? —Ela repetiu enquanto  decia do carro e eles responderam  novamente  com mais força  agora invadindo  o Memorial MAHATAN,  o cemitério  local,  com faixas escritas  "POR FAVOR ME PROTEJA " , "PARE NAO ATIRE"
" VOCÊ  ATIROU NA MINHA VIDA".

Um ser invisível Onde histórias criam vida. Descubra agora