Era no mínimo estranho sair daquele prédio após meses, não que ele estivesse lá contra sua vontade.
O sol brilha mais quando se está fora de casa, seus olhos ardem pela claridade não acostumada como a de seu escritório escuro e medonho. Seria ridículo falar que o chefe da Bonten tem medo de ficar sozinho?
Ele caminha pela calçada olhando em volta, vendo todas aquelas pessoas, as mesmas pessoas que vê pela sua janela. Então, essa é a sensação de parecer formigas?
Ele virou o pescoço para trás apenas para ver Sanzu o seguindo como sua sombra, o homem fez questão de ir atrás de seu chefe, não é como se ele precisasse de proteção, mas se arrependeria se algo acontecesse e ele não estivesse lá.
Os olhos escuros de Mikey passearam em volta, vendo todas aquelas cores diferentes que vivem apenas fora de sua sala. Foi inevitável não lembrar de sua adolescência, de quando tudo era mais fácil, quando a maior preocupação era juntar dinheiro para encher o tanque da moto. Após tanto tempo, ele teme não saber se equilibrar sobre uma novamente.
Tudo parecia novo, como se ele tivesse sido arrancado da sociedade sem poder acompanhar a evolução. Até que um amontoado de gente rouba sua atenção, ele franze as sobrancelhas e observa de longe o pequeno alvoroço.
— O que é isso?
— Exposição de quadros, senhor. — Sanzu tira um isqueiro do bolço e acende o cigarro preso entre os lábios.
Tinha uma fila consideravelmente grande na frente de um estabelecimento com um letreiro chamativo azul. Akiyama Galeria.
Refletiu sobre ir em direção da multidão, mas temeu que seu rosto aparecesse na TV como procurado. Porém, aquilo tudo parece cativante e atrativo o suficiente para fazê-lo caminhar para o prédio. Sanzu se apressou e seguiu seu chefe que caminhou entre as pessoas cortando a enorme fila. Parou na frente de um guarda rechonchudo com uniforme azul e olhou por cima de seu ombro para dentro da galeria. Sanzu reconheceu o segurança quase que imediatamente.
O policial estremeceu quando avistou a dupla, e com razão. Reconheceu Sanzu de longe e seria impossível esquece-lo, e agora ele estava acompanhado. Um cara baixo com cabelos brancos e uma carranca assustadora.
— Hey, como está? Por que não deixa a gente entrar, hum? — Sanzu sorriu largo para o guarda que apenas deu passagem.
Os dois atravessaram a portaria e Mikey seguiu para o primeiro corredor que viu. Os quadros de diversas cores o receberam, cada um tem uma forma diferente, como se cada um deles fosse uma frase ou sentimentos que não podem ser expressos com palavras.
Ele passeia pelo corredor, admirando todas as artes penduradas nas paredes. Não sabia ter esse interesse pelas pinturas, se lembra que na sua adolescência isso nunca chamou sua atenção. Porém, ele não é mais o mesmo de doze anos atrás.
Continuo caminhando pelo corredor sem fazer questão de olhar para frente, os passos de Sanzu ecoam baixo atrás de si enquanto ele olhava todas aquelas artes, parando ocasionalmente para dar uma atenção mais especial aos que atraia mais seu interesse.
Ainda distraído com todas as cores que nem sabia que poderia existir dentro de uma só pintura, esbarrou em algo ou alguém, ambos os ombros se chocaram forte o suficiente que Mikey cambaleou e olhou para trás fuzilando Sanzu por não ter o alertado. Em seguida virou a cabeça para a pessoa que atrapalhou seu breve momento de paz. A pessoa que descobriu ser uma mulher o encarou com mau humor.
— Desculpa, não estava prestando atenção, sinto muito. — Ela falou, mas não parecia totalmente sincera.
Mikey apenas balançou negativamente a cabeça como um "tudo bem" porém sua expressão indicava o contrário. Deu alguns passos a fim de ver a próxima arte, mas parou quando olhou por cima do ombro da mulher. Atrás dela uma mistura de cores chamaram sua atenção, azul, rosa e amarelo em uma tela só. Como se fosse falhas, linhas brancas desenham uma pessoa de costas com cabelos compridos. A cor azul fica nas bordas e logo o amarelo entra e por fim, o rosa. Ele sabe que tem uma grande mensagem por trás da arte, mas não quer decifrar. Algumas coisas são melhores quando possuí um segredo.
Seus olhos fitaram a tela colorida e uma dor atingiu seu peito, aquela figura é familiar...
— Nesse dia, me lembro de ter sentido muitas emoções. No final da tarde, eu peguei uma tela branca, arrumei tinta azul e rosa porque eu só tinha amarelo. E então pintei, as bordas são azuis que indicam o começo do meu dia, e também porque só restava um pouco da tinta. — A moça riu, Mikey poderia ter a ignorado, mas se colocou a ouvir. Afinal, ela é a criadora da arte.
— Eu acordei com uma péssima notícia de que um amigo meu havia falecido, e claro, chorei por toda manhã. Descobri que não foi assassinato, mas sim, suicídio. Um colega que temos em comum me contou a história e disse que ele morreu como um herói. Isso de alguma forma fez me sentir melhor, até que fiquei feliz por ele não ter partido sozinho. E no final, descobri um pouco tarde que eu estava apaixonada, e bom... — Olhou para o quadro com um leve sorriso nostálgico. — Terminei pela manhã, eu tinha catorze anos na época e odiei muito o resultado, mas não tive coragem de joga-lo fora.
Mikey a encarou incrédulo era literalmente o melhor quadro de toda galeria, mesmo não tendo visitado ela por inteira.
Ambos encaram a arte e Sanzu se sentou no chão, não muito afastado. Após sair do transe, foi reparar na mulher parada ao seu lado. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo perfeito e ajustado atrás da cabeça, a franja cobre sua testa perfeitamente penteada. Ela é um pouco menor que ele, usa um terno preto com saltos. O tipo de gente que ele denomina Bonita.
— Bom, sou Mia Akiyama. É um prazer recebe-lo em minha galeria, senhor. — Ela quebrou o silêncio e estendeu a mão em sua direção.
Olhou apreensivo para sua mão erguida, mas apertou em seguida. Ela sorriu e olhou para trás na direção de Sanzu sentado no chão. Suas sobrancelhas ergueram como surpresa e Mikey suspeitou. Eles se conhecem? Deixou a pergunta de lado, não é como se ele se importasse. Olhou para o lado oposto a fim de ver mais do corredor com as artes que o fim não era visível.
— Você criou todas elas? — Sua voz saiu baixa e rouca, Mia tomou um leve susto antes de responder à pergunta.
— Sim, cada um dos quadros expostos aqui são feitos por mim. Ah! vem comigo. — Ela simplesmente saiu andando, mais fundo pelo corredor, sem entender, Mikey apenas seguiu a quase loira e Sanzu se levantou em seguida.
— Esse aqui foi o primeiro que criei, eu tinha 11 anos e um sonho. — Começou a falar quando Mikey estava próximo o suficiente. Na pintura tem um gato preto dormindo em cima de nuvens amarelas, o céu é vermelho e a lua azul, são como borrões, mas legíveis. — Eu amava muito meu gato e amarelo era minha cor favorita, o céu é vermelho porque eu acreditava que essa era a cor favorita do Pimpolho. A lua azul porquê todas às vezes que eu a olhava sempre estava triste.
A criatividade dessa mulher é tão absurda que Mikey considerou um pecado. Ela falou e falou sobre o quadro e o gato que descobriu estar morto a mais de 10 anos, foi vítima de envenenamento. Aquela faladeira não o estressou como a maioria das vezes, o assunto o interessava e ele queria saber mais desse universo fantástico que descobriu a 40 minutos atrás.
— Mikey. Me chame de Mikey.
Mia sorriu e saiu andando novamente por sua galeria, pronta para mostra-lo outra de suas obras.
— Me siga, Mikey.
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𝐈𝐋𝐎𝐌𝐈𝐋𝐎, 𝖬𝖺𝗇𝗃𝗂𝗋𝗈 𝖲𝖺𝗇𝗈
Romance𝖫𝖾𝗆𝖻𝗋𝖾-𝗌𝖾 𝖽𝖾 𝗇𝖺̃𝗈 𝖼𝗁𝖾𝗀𝖺𝗋 𝗉𝖾𝗋𝗍𝗈 𝖽𝖺𝗌 𝖾𝗌𝗍𝗋𝖾𝗅𝖺𝗌, 𝖾𝗅𝖺𝗌 𝗇𝗎𝗇𝖼𝖺 𝗏𝖺̃𝗈 𝗍𝖾 𝖽𝖺𝗋 𝗎𝗆 𝖺𝗆𝗈𝗋 𝖼𝗈𝗆𝗈 𝗈 𝗇𝗈𝗌𝗌𝗈. ✦ Após sua traumática adolescênci...