Capítulo XII - Vivendo um inferno

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– Estou batendo na parede para não socar a sua cara! – Harry diz e sai do quarto.

Essa foi só mais uma das inúmeras vezes que ele me disse isso. Deixo meu corpo deslizar pela parede até ao chão. Abraço as minhas pernas e deixo minhas lágrimas caírem livremente enquanto chorava baixinho. A convivência com Harry se tornava cada vez mais sufocante e aflitiva. Se eu contasse para alguém o inferno que tenho vivido, alguém acreditaria?

Harry não batia em mim por isso eu não tinha marcas físicas para usar como testemunha. Ele não berrava comigo, mas suas palavras ameaçadoras eram como facas perfurando meu corpo. Ninguém nunca diria que ele era abusivo e tóxico pois perante outras pessoas, ele era o mesmo homem na qual me apaixonei e que todos admiravam.

Mas comigo, Harry se tornou uma pessoa totalmente diferente da que eu conheci e amava. Passou de príncipe para ogre. Ele me prometeu inúmeras vezes que iria mudar, e ele mudava. Às vezes, era o meu Harry, mas por um curto período de tempo, e depois voltávamos aos velhos hábitos.

Não sei mais o que é acordar sorrindo e sentindo paz. Estou me tornando depressiva. Sou obrigada a fingir que estou bem e feliz quando há outras pessoas por perto quando na verdade estou morrendo de tanta infelicidade e medo. Tudo que eu faço agora necessita da aprovação dele. Eu não consigo fazer nada sem me questionar se ele ficaria bravo ou não. E se ele ficasse chateado, nós discutiríamos e depois ele me puniria com sexo forçado.

– Amigaaaa, que saudades loucas eu tinha de você, meu amor! – Tania me abraça calorosamente, e eu me aconchego naquele abraço pois estava precisando muito dela mesmo sem coragem de lhe dizer o que estava se passando comigo.

– Porquê não me avisaste que já estavas de volta? – Tania havia viajado para Holanda.

– Quis fazer-te uma surpresa. – Ela beija minha testa e se solta do abraço. – Trouxe-te presentes! – Ela me entrega três sacolas de papel.

– Já sei que é coisa boa! – Digo já abrindo um dos sacos.

– Eu sou a sua coisa boa, querida! – Nós duas rimos. Tania sempre me trazendo alegria. Eu amava o jeito louco e descarado de ser da minha amiga.

O telefone dela toca e Tanya atende já se dirigindo até a sacada. Pela forma que ela atendeu, já sabia que era um dos seus contatinhos. Sorrio abanando a cabeça e volto a minha atenção aos meus presentes. Mal Tania fechou a porta de vidro que separava a sala da sacada, a porta da sala é aberta e vejo Harry entrando. Ele fecha a cara quando me vê com aquelas sacolas, e eu já começo a tremer.

– O que vem a ser isso? – Ele pergunta já se aproximando de mim. – Você foi as compras sem minha autorização?

– Não, Harry! – Digo apressada e apreensiva. – Juro que não!

– Não, Lu? – Ele segura meus dois braços e me levanta sem delicadeza. – E de onde surgiram essas sacolas? Você não tem vergonha de mentir descaradamente na minha cara!?

– Não estou mentindo. – Digo choramingando. Seu aperto forte em meus braços me causava dor. – São presentes da Tania!

– Da Tania? Sua amiga não está viajando?

– Ela já regressou. Foi ela quem trouxe essas sacolas para mim.

– Você sabe qual será sua punição se estiveres a me mentir.

– Juro que não estou. – Lhe garanto. – Por favor, me solta. – Peço quase gemendo de dor. – Você está me machucando. Por favor, Harry.

Harry me solta sem delicadeza e eu caio sentada no sofá. Observo ele se inclinando para pegar do chão o vestido que outrora eu contemplava. Ele olha para o vestido, analisando-o.

– É curto de mais! – Ouço o ranger do tecido. – Deite isso fora! – Ele joga em minha cara a peça rasgada. – Você não precisará disso.

Olho para a porta da sacada preocupada se Tania havia visto aquela cena toda. Vejo ela incrédula nos encarando da sacada, e a minha vergonha veio à tona. Não queria que ela visse a minha humilhação.

– Tania? – Harry diz surpreso assim que ela abre a porta da sacada.

– O que você pensa que está fazendo? – Tania diz zangada enquanto se aproximava de onde estava eu e Harry. – Quem é você para tratar a minha amiga assim? – Tania se colocou no nosso meio e apontou o dedo na cara de Harry. – Como você ousa tratá-la mal?

O amor que me prendeuOnde histórias criam vida. Descubra agora