Capítulo 7 - Cinzas

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Apesar de não ter costume de dormir cedo, um sono arrebatador a faz dormir profundamente. Sonhou novamente com seu crush famoso e isso a fez se sentir recompensada, e ao mesmo tempo frustrada. Estava mais real do que na última vez e na melhor parte o toque do celular a despertou.
- Oi amigaaaaa! - A voz do outro lado da linha.
- Oi Yasmim.
- Que voz é essa mulher?
- Estava dormindo, sonhei com... Você adivinha?
- Estou com ciúmes já desses seus sonhos viu? Queria sonhar assim com o Jimin!
Mas me conta aí, como foi?
- Tão real, sentia tudo, parecia estar acordada!
- Mas são sempre assim amiga.
- Desta vez foi diferente, ele ia me beijar, mas você me ligou e me acordou sua fura olho! - Elas riem.
- Mulher, me desculpa viu, é que preciso da sua ajuda, quer dizer, de você pessoalmente.
- O quê houve?
- Você pode vir aqui em casa rapidinho? Meu computador deu um bug aqui, socorro! Meu trabalho da faculdade já está finalizado, mas não sei o que aconteceu que sumiu!
- Você o apagou doida?
- Não mulher, finalizei e salvei. Mas depois sumiu essa peste!
- Estranho... Daqui uns 20 minutos estarei aí.
- Obrigadaaaaa, te amo amiga! Aí aproveita e me conta detalhes desse sonho hein.
- Pode deixar.

Ao desligar o telefone, corre para um banho rápido e logo se arruma. A casa da amiga é na mesma rua que a sua, e desconfia do convite já que é seu aniversário. Ao trancar o portão, o telefone toca novamente.
- Já está vindo? Está por onde?
- Estou trancando o portão.
- Vem logo, não fica batendo papo na rua não.
- Papo com quem?
- Você parece candidata política, fala com todo mundo! Vem logo!
Antes de conseguir responder, Yasmim desliga. Ana vê uma notificação, mensagem de outra amiga, Regi. Perguntando onde ela estava. Agora tem certeza que suas amigas estão aprontando alguma coisa. Acelera os passos para chegar o quanto antes e ao ficar verificando mensagens acaba se esbarrando em alguém.
- Oi, chegou chegando. - Risos
- Kat! Boa noite lindona! - As duas se abraçam.
- Yasmim te chamou também?
- Vim pegar de volta o meu carregador, esqueci aqui mais cedo.
- Vamos entrar então. - As duas entram no quintal frontal da amiga.
- Já fiquei sabendo do sonho de hoje...
- Yasmim né? Ela é fogo!
- Gostamos de ouvir você contar, parece que está lendo uma livro pra gente! Vamos concordar, você não sonha, escreve roteiros!
As duas entram e o que Ana desconfiava se confirma. Suas amigas prepararam uma festinha surpresa de aniversário para ela. Ana se emociona, apesar de ter desconfiado desde o começo. Yasmim e Kat reuniram só amigas bem próximas. Havia bolo, feito pela Kat; pizzas, salgados, doces e bebidas.

Suas amigas, Yasmim, Kat, Regi, Kris e a outra Cris, fizeram uma roda e começaram a perguntar sobre o sonho que teve. Ana conta cada detalhe e elas escutam atentamente.
- Poxa, me desculpa ter te acordado. Mas você tinha dito que ia vir aqui hoje, e o tempo foi passando e nada.
- Cansaço, apaguei na cama logo depois que cheguei em casa.
- Ao menos descansou um pouco e ainda deu uns pegas no JK! - Diz Regi.
- Amiga, te amo. Mas te odeio! Sonhando assim... Bate inveja. - Diz Cris em tom de brincadeira.
- Deu mesmo para sentir quando ele tentou te beijar? - Pergunta Kris.
- Infelizmente não... Senti o abraço, bem forte por sinal. Mas aos poucos fui deixando de sentir.
- Quem sabe quando dormir de novo né? Você tem sonhado direto com ele, até parece que suas almas se encontram!
- Ai Kat... Falando assim até me dá arrepios. Dá medo!
- Medo de quê Kris? - Pergunta Kat e continua - Ana, mais tarde, se sonhar de novo, vê se aproveita!
- Tá na seca mesmo, nos sonhos ao menos desencalha! - Diz Regi arrancando gargalhadas das outras.

A noite de aniversário com as amigas estava agradável e divertida. Porém, horas depois Ana sentiu algo estranho e logo seu rosto transparece o seu mal estar.
- Amiga, o quê houve?
- Kat, derrepente senti uma coisa esquisita... Como pressentimento ruim.
- Vixe! - Exclama Yasmim - Sai negatividade! Não quero te ver assim não... Muito menos Hoje!
- Flor, alguma coisa está te preocupando?
- Não Regi, comecei a sentir do nada!
- Você está ficando pálida... Deita um pouco e respira fundo. - Cris a acomoda no sofá.
Kat e Kris se entreolham e ficam em silêncio. Enquanto Cris e Regi ficam ao lado de Ana, Yasmim vai na cozinha pegar um copo de água. Kat se afasta um pouco para fazer um telefonema.
- Aqui amiga, beba devagar.
- Obrigada, já está aliviando... Menina, um ataque de ansiedade justamente agora? E nem sei o motivo!
- Deve ser cansaço, nem nas férias você pára! Está melhor mesmo? - Insiste Cris.
- Estou sim.
Kat retorna para o lado de Kris e parece dizer algo sussurrando e Ana percebe.
- Meninas? - Pergunta
- Vamos te levar pra casa, tudo bem?
- Vocês tem certeza que não é melhor ela ficar aqui não? - Pergunta Yasmim.
- Se preocupa não, preciso ir mesmo. Obrigada pela surpresa! - Diz ao se levantar.
- Poxa, pensei que íamos fazer uma festa do pijama para relembrar o tempo que não tivemos na nossa infância. - Lamentou Yasmim - Mas pensando bem, é melhor você ir descansar.
As amigas se despedem, Cris e Regi resolvem dormir na casa de Yasmim, já que vieram de longe para a noite das garotas.

Enquanto caminhava com suas amigas, Ana se mantém calada. Observa a lua, que majestosamente iluminava a rua. Em seu peito uma angústia crescia, mas decidiu se calar para não assustá-las. As duas pareciam saber disso e sem dizer uma só palavra a acompanhavam até a sua casa.
Apesar de estar mal, não consegue deixar de reparar em como a noite está bonita. A lua cheia e iluminada, o céu repleto de estrelas.
" Amanhã fará sol." Pensou, já que o céu está bem limpo.
A brisa noturna toca seu rosto e sente sensação de alívio e aconchego. Se depara com pensamentos sobre sua vida, suas batalhas internas, suas experiências de vida até então. Seus arrependimentos, conquistas e perdas. Lembranças dos momentos que se viu impotente, dilacerada pelas frustrações e sonhos perdidos. Amava seus familiares e os amigos que tinha. Mas isso não diminuía o fato de se sentir sozinha, sem rumo, apenas vivendo, na realidade sobrevivendo.
"Nado, nado e morro na praia!" Era o que sempre dizia.

Seu coração, sua alma e sua mente, até mesmo o seu corpo físico, estavam exaustos de tentar. Há tempos que constatou que mais perdeu do que ganhou. Errou tentando acertar, mas isso não a faz se sentir melhor consigo mesma. Odeia pensar nisso, mas cada dia acredita que não está cumprindo seu propósito de vida. Já se imaginou morrendo várias vezes, mas não tem pensamentos suicidas. Sempre pensa na morte, mas ama demais a vida. Se pudesse escolher, jamais morreria. Porque no fundo tem medo de ser esquecida, substituída, e descartada. Pois em vida foi tudo isso e mais um pouco pelas pessoas que ela mais amou e se dedicou. A sua mudança drástica para outro estado, longe de seus familiares e amigos que a viram crescer foi resultado da sua última decepção.

Se sentia mal ao se ver desta forma, não quer parecer ingrata. Não conquistou tudo que deseja, mas o que parece pouco, é o mais valioso que ela poderia ter. Os poucos que de verdade se importam e que ela pode contar para qualquer coisa, estavam ao seu lado.
- Quer que eu abra o portão? - Pergunta Kris ao vê-la enrolada para pegar as chaves.
- Vou abrir... - Suas mãos estavam trêmulas e suando frio. - Amiga, não sei o que tenho. - Kris pega as chaves e abre o portão.
Kat a segura pelo braço e ao entrar, dois rapazes chegam correndo e entram em seguida. Vendo seus amigos, Ana fica surpresa e temerosa.
- Chegaram rápido, o Otávio costuma demorar séculos para chegar em algum lugar. - Implica Kris.
- Assim que Kat falou comigo, fui na casa dele e o arrastei para cá. - Diz Marcos.
- Aconteceu algo grave pessoal? Nunca senti um pressentimento ruim tão forte desse jeito. Percebi vocês duas cochichando na casa da Yasmim, até o Marcos está aqui! - Diz Ana por ele ser enfermeiro.
- É o natural me chamar né? Já que não se sente bem. - Marcos a abraça e ajuda a entrar em casa.
- Me fala neguinha, O que está acontecendo?
- Otávio... É como um pressentimento ruim. Mas bem forte mesmo. Vocês não estão me escondendo nada não? - Pergunta novamente.
- Claro que não! - Respondem em coro.
- Vou fingir que acredito. - Ana se levanta.
- Ei, calma aí bonita! Vai pra onde assim? - Marcos tenta convencê-la de voltar a se sentar.
- Se ficarem assim, vou achar que alguém morreu ou que eu vou morrer! - A sala fica silenciosa e seus amigos a encaram. - Pessoal, estou bem! Deixa só eu ver quem está lá fora... - Ana se direciona para a porta.
- Não ouvi ninguém chamar! - Diz Marcos.
- Nem eu. - Afirma Otávio.
- Muito menos eu! - Exclama Kris.
Kat faz um sinal para eles e todos decidem ir atrás de Ana.

Ao sair, não viu ninguém.
"Quem poderia ter me chamado e ido embora sem nem esperar ser atendido?" Perguntou à si mesma.
Ao se virar para entrar em casa, escuta novamente uma voz masculina, suave e meio distante. Decide não responder e aguardar. Seus amigos apenas a observam da varanda. Mais uma vez a voz misteriosa a chama.
Ela procura e não vê ninguém. E pela terceira vez, ouve claramente o seu nome. Abre o portão, olha para um lado e para o outro, ninguém. Sente calafrios e um arrepio que faz seus olhos ficarem marejados. Tenta se mover, mas seu corpo não responde ao seus comandos. Sua voz fica embargada, seu coração está tão agitado que consegue ouvir seus batimentos.

A lua estava tão clara que seu olhar é atraído para o céu, uma estrela peculiar prende sua atenção. Uma estrela azul, igual a do seus sonhos e estava vindo em sua direção. Ana fica desorientada e com seu raciocínio confuso não sabe o que é e o que não é real.
- Ana! Ana! - Seus amigos a chamam, mas não os ouve.
Como se estivesse hipnotizada, Ana não vê e nem ouve mais nada ao seu redor. Apenas a luz azul que se aproxima e a voz doce a chamando. Seu peito aperta, lhe falta ar. Mesmo com muito medo, não consegue lutar contra o chamado. Seu corpo fica leve, tão leve ao ponto de sentir que não o tivesse mais. A única coisa que pensa é:
" Estou morrendo! Estou morrendo!"
" Ainda não!" Dizia uma voz dentro de si.
Seu desespero cessa ao ouvir a voz, que agora lhe parece conhecida.
"Vejo fogo nos seus olhos... Fênix!"
Os olhos de Ana se tornam chamas vivas e sentiu se esvaziar de si mesma. Respirou muito fundo como se fosse seu último suspiro e caiu desacordada.

O Anjo & A Fênix  Parte 1 - O Guardião do JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora