Capítulo 2 - O Mundo dos Sonhos - Parte 2

31 9 26
                                    

Algumas semanas depois...

Mais uma noite cansativa, porém com a sensação de trabalho cumprido. A exaustão do seu corpo o domina e o sono o arrebata rapidamente.
Num piscar de olhos, acorda com dificuldades de respirar, com coração palpitante e um aperto no peito. Olha ao seu redor e se vê novamente no mesmo quarto de hotel, que tem sonhado há semanas. Sonhos que ficaram mais frequentes ultimamente.

"É ela de novo" constatou
Passou a mão no rosto para secar o suor, apesar de estar frio.
Como uma noite ou outra passava por isso já sabia o que fazer. Levantou depressa, saindo de mansinho do quarto. Não poderia acordar os outros ocupantes desta vez. Na última, ele acabou se despertando e perdeu a oportunidade de encontrá-la. Andando com as pontas dos pés, passou pelas corredores e desceu as escadas. Tanto tempo tendo o mesmo sonho neste hotel, que aprendeu a passar despercebido de todos.

Ao sair do prédio, correu em direção ao jardim. Pulou a cerca de proteção, que acaba agarrando na sua calça de moletom.
"Só assim para vê-la e conversar sem sermos interrompidos" pensou
A grama está tão gelada, desta vez colocou meias, disso ele lembrou.
A madrugada estava intensamente agradável mesmo estando tão fria.
O céu escuro e estrelado, e não sabendo muito bem o motivo, sorriu.
Logo em frente o outdoor do hotel, se direciona até ele.

"Ela está bem ali atrás"
E ao ver que realmente estava se alegrou.
Houve noites que não estava e era tão frustrante quando isso acontecia.
Uma moça morena, de cabelos ondulados e usando uma camisola de algodão. Que ela esticava tentando cobrir as pernas, procurando se aquecer. Ao perceber sua aproximação, seus olhares se encontram. Ela sorri e acena para ele, que não esconde a felicidade de estar ali.

Ao sentar ao seu lado, ela está encantada olhando para o céu.
- O que você tanto admira?
- A nossa estrela, está vendo? - responde apontando para estrela diferente das demais. Muito maior que as outras e muito mais brilhante. A cor dela, azul claro, que ficou mais intensa do que de costume.
- Sim, estou. - ele se vira para observar sua confidente dos sonhos, como ele costuma dizer. - Ela é linda mesmo. - Completa sorrindo.
- Você nem está olhando pra ela! - retruca ao vê -lo a encarar.
- Posso te falar uma coisa?
- Sempre!
- Esses nossos encontros são tão reais, que às vezes me pego pensando que a vida real que é sonho, fico louco com isso! Eu falo abertamente com você sobre tantas coisas. Sobre meus medos, sonhos... Compartilho o meu dia a dia e fico mais confuso e aflito. Porque amo minha vida, meus amigos e o que fazemos. E você sabe muito bem do que eu estou falando. - Respira fundo - Mas ao mesmo tempo, amo esta realidade aqui com você. Quase todas as noites conversando... Se eu tivesse que escolher qual realidade viver, confesso que não sei o que faria.
- Nem eu.
- Se você é de verdade como acredito que seja, onde e como te encontraria?
- Você sabe, e derrepente o meu eu nesta realidade que você se refere, passaria despercebido.
- Como diz tal coisa? Sempre há um jeito.
- É a verdade. Somos de mundos diferentes. Nacionalidade, etnia, cultura, status social...
- Eu sei, já falamos sobre isso. - Ele abaixa a cabeça desanimado.
- Contei onde me acharia se me procurasse e você concordou comigo que seria uma loucura. Muitas coisas impedem que isso aconteça. Sua vida em si, seus compromissos e deveres, e sua família ficaria chocada.
- Ao mesmo tempo que sou feliz lá, me falta você. Sim, tenho que concordar com tudo que você diz. Grandes poderes, grandes responsabilidades. - Ele ri.
- Referência ao Homem-Aranha? Sério? - Ela cai na risada - Só você mesmo! - Pausa - Para mim não passava de sonhos, eu e você. Lembra do sonho com o cachorro branco?
- Sim lembro. Na primeira vez que nos encontramos aqui você me contou e eu fiquei desnorteado porque tive o mesmo sonho. E agora eu tenho um cachorro, só não é branco.
- E nem é Pastor Alemão.
- Verdade. Tentei, mas não achei um.- diz ao acariciar o braço dela onde tem a Fênix tatuada. - Sente? - pergunta envergonhado.
- Cada noite que nos encontramos está ficando mais real. - Os dois ficam em silêncio - Voltando a parte onde sei como te encontrar, é tão estranho. Sei seu nome, onde vive, quem você é. Você me contou tudo, mas quando acordei na última vez simplesmente esqueci os detalhes.
- Também esqueci. - ela sorri - Mas no meu caso não tem como não saber! - Os dois riem alto.
- Do que você lembra?
- Lembro que você mora do outro lado do mundo, que você sabe quem sou e Isso é óbvio demais .
- Pois é, acredito que milhões de pessoas sabem. - Risos - Também somos muitos diferentes lá.
- Acredito que eu gostaria de você assim, como gosto agora.
- Talvez. É tudo... você sabe!
- Nem tanto. Sei que sou famoso, que existe muita coisa envolvida... não estou sendo arrogante ou algo do tipo ao mencionar isso não é?
- Calma, relaxa. É a verdade.
- Existem essas coisas, não frequentamos os mesmos lugares e o fato de que até nossos idiomas são distintos! Por que você é de um país tão longe hein?
- Digo a mesma coisa, por que você vive tão longe de mim? Os únicos momentos que tivemos relativamente perto um do outro, foram nas vezes que você esteve no meu país.
- É tão louco que nem comento com meus amigos. Eles riem de mim quando pareço alheio ao mundo. Fico várias vezes meio que fora do ar. De vez em quando me fazem perguntas... já me pegaram falando dormindo, comentei isso?
- Sério? Mas falando o quê?
- Agora você me pegou. São coisas sem sentido, palavras soltas que nem são entendidas. Mas já falei, ou tentei falar seu nome. O do seu país, já chamei por Fênix. E quando sinto que vou acordar, fico repetindo para mim mesmo coisas sobre você para não esquecer.
- Faço isso também.
- Mas acabo lembrando de outras coisas. A forma que você sorri, como é tão real quando você me toca. Quando fica bem perto, sinto sua presença como se eu estivesse acordado e fico desejando não acordar. Posso te abraçar ? - pergunta já se aproximando mais dela.
Ele a abraça forte. Acaricia suas costas com as pontas dos dedos discretamente. Ela respira fundo em busca de sentir o seu perfume, o cheiro do seu cabelo.
- Não posso acreditar que isto não seja real... - Continuou ele - Sinto seu corpo, seu respirar, sua voz ressoando ao meu ouvido. Quero saber o que isso significa.
- Não sei se vivemos vidas passadas e estivemos juntos nela e agora estamos sendo conectados de alguma forma.
- É, talvez seja isso.
O silêncio predomina novamente.
- O quê foi?
Ele pega uma de suas mãos e põe sobre o peito dele.
- Senti isso também? - pergunta sussurrando em seu ouvido. Os seus batimentos cardíacos estavam acelerados.
- Você está bem? Está agitado demais...
- O motivo é você, e não venha me dizer de novo que é só aqui que acontece. Não é só nesta realidade que me sinto assim. Estamos sonhando? Estamos. Mas o que sinto é verdadeiro e em hipótese alguma vou aceitar que no mundo real eu não poderia sentir por você o que sinto agora.
- Talvez sinta, mas não desse jeito. Vocês dizem (se referindo aos seus amigos), "Conhecemos vocês só não vimos o seu rosto ainda!" É uma coisa desse tipo não é?
Ele segura suas mãos, a encara nos olhos. - Se não fosse esses detalhes que sempre são apagados da minha cabeça, eu já teria ido de procurar. Não duvide jamais dessa possibilidade!
- Eu sei... - responde sentindo seus olhos marejados.
- Vem até mim!
- Você sabe que é impossível!
- Eu entendo, mas é tão injusto! - Respira fundo - É frustrante! Posso conseguir tantas coisas, mas não você.

Ao o ouvir, ela não consegue evitar que algumas lágrimas escorram. Ele as enxuga com o punho do seu casaco e prossegue.
- Um dia vamos entender tudo, precisamos acreditar que vamos e quando não houver mais o medo de acordar e você sumir, nunca mais te deixarei ir embora!
- E se nada disso acontecer, vou me conformar ser importante para você aqui.
- Você é importante mesmo não conhecendo seu rosto lá! - Ela ri ao entender a referência - Aqui conheço e não canso de olhar para ele. Não quero esquecer dele outra vez. - Completa ao se aproximar para beijá-la.
- Tenho que ir... - Ela começa a desaparecer e ele se desespera, enfim a beija e abraça com mais força.
"Não sei quando te verei, não vá!"
Ao abrir os olhos, já havia partido. Ele se vê sozinho, com suas mãos vazias.
- Fica comigo... - sussurra
Olha para o céu e a estrela estava mais radiante, estava vindo em sua direção.

O clarão ilumina o seu rosto, só consegue ver luz e alguém chamando seu nome, acordou.
- Falando dormindo de novo? Estava gritando " não vai, não vai!" Tive que te acordar. Tudo bem? - pergunta um dos seus amigos. - O pessoal já foram tomar café. Fiquei preocupado com você.

Desconsertado, ajeita os cabelos e seus pensamentos estão num turbilhão.
"Qual o nome dela mesmo? Droga! Esqueci de novo! Ao menos uma vez consegui te beijar, mesmo que por pouco tempo"
- Você está bem?
- Estou sim... já vou descer.
- Ok, não demora. - seu amigo sai mas volta - Está bem mesmo?
- Sim estou sim, obrigado!
Jimin o deixa sozinho no quarto.
" Vida real me chama! Até a próxima, se houver uma" pensou
JK se levanta com o corpo cambaleando e vai ao banheiro. Prepara sua escova dental, mas acaba sujando de pasta o seu casaco. Ao baixar seus olhos para ver o estrago, se assusta com o que vê.
Suas meias estavam úmidas e sujas de grama. Apavorado examina a perna direita de sua calça, que está rasgada.
- Precisamos conversar.
Ao se virar, um homem familiar com asas está de pé na porta.

O Anjo & A Fênix  Parte 1 - O Guardião do JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora