Capítulo 3

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Eu realmente fico pensando em sobre o que ela disse, sobre a tela daquela memória em específico, ela se balançava no brinquedo e deixava os cabelos curtos se espalhatifarem em seu rosto sempre que descia o balanço. Já eu, estava no balanço ao lado, devorando-me em pensamentos que a pequena me causava.

-O que são essas telas que você diz? Qual tom elas deveriam ter ?

-As telas são algo complicado, você ainda não iria entender, mas comecemos pelos tons. Qual tom você acha que a felicidade tem?

-Amarelo

-Amarelo?

-Sim, daqueles vibrantes, que te consomem inteiro, aquele que marca.

-Eu não me lembro de momentos felizes com frequência, a felicidade nunca foi vibrante e marcante, felicidade é momentânea, pois nós fazemos nossa própria felicidade. Felicidade é um tom pastel, aqueles que iluminam o fundo, mas que não definem tanto um quadro.

-Mas o que define o quadro?

-Que tom você acha que tem o rancor?

-Vermelho, mas não tão forte

-Pra mim, vermelhos, são tons de vermelhos bem fortes, mas que no fim, não se deixam ser vistos. É um pequeno detalhe na minha tela.

-Mas o que é sua tela?

-Que cor você acha que é a mágoa

-Eu não sei dizer, mas com certeza a cor do fundo do mar, um degradê

-Um degradê de branco, azul, turquesa e preto?

-Sim

-É o mesmo tom que acho que é amor,para mim. E por isso eu acho, que a cor que eles tacaram esse preto, só mostra o desconhecido, é sempre o desconhecido, e todos os tons melancólicos e pretos que jogaram na minha tela. Eu sei que no fundo não eram amor. Preto é inexistência, e toda vez que jogaram esse tom na minha tela, eu sei.

-Que era a inexistência de amor?

-Quando colocamos preto em algo, ou é pra destacar ou pra esconder algo.

-Preto talvez, seja o medo.

-Talvez seja o vazio.

-Talvez eu seja um tom preto

-Não somos tons, nenhum ser é tom. Só sensações. Somos sempre telas, telas, a vida é uma eterna tela, memórias são telas, e nós, sempre pintamos elas, em memórias felizes têm o tom de amarelo pastel, em outras que houveram a dor da mágoa tem esses tons azuis, e de medo, preto, e uma eterna interrogação.

-É por isso que pergunta o tom do amor?

-É que eu realmente quero pintar um quadro, eu sei que sinto amor, eu sei que sinto isso, mas por enquanto ele está com um fundo de preto, e eu não quero essa cor, e para fazer o quadro da maneira certa, eu preciso de um tom.

-Mas o tom, a gente só não sabe, enquanto sente?

-Ás vezes sim, por vezes não.

-Você não é nova demais para saber o que é amor? Entender sobre?

-Eu acho que não importa a idade, o importante, é sempre sentir, e eu sei, que não importa nada, se houver amor, mas por agora, eu não sei o que é amor, então quero fazer essa tela

-É por isso que está preta?

-Eu tenho medo, e o medo é preto, não se enxerga nada no preto, e por isso, eu preciso tacar branco nela

-E o que é o branco?

-O branco é ínicio do sentir, é o começo, é a paz, é a liberdade, o branco é mistura, mas é ínicio, e precisa sempre de branco pra se tacar tintas em cima

-Ou ao redor?

-Sim, ou ao redor.

Ela sorri de novo, e pula do balanço, e nos pusemos a caminhar adiante mais uma vez. Cada momento ficava mais tarde e isso não importava, eu olhava ao redor e senti novamente o vento, e não senti o tom, mas a sensação, liberdade, branco e senti amarelo, e me vi como se o vento batesse na grama e uma terna calmaria, ele esvoaçava meu cabelo e no fim me senti um tom verde, esperança, pensei. Mas eu não era um tom, então seria essa, minha primeira cor? 

Qual o Tom do Amor?Onde histórias criam vida. Descubra agora